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Carta de menina de 13 anos acusa professor de abuso sexual e revela método

A menina contou que demorou para denunciar porque sentia medo

Carta de menina de 13 anos revela método de professor suspeito de abuso sexual em SP - Imagem: reprodução
Carta de menina de 13 anos revela método de professor suspeito de abuso sexual em SP - Imagem: reprodução

Nathalia Jesus Publicado em 06/07/2023, às 10h09


Por meio de uma carta entregue à uma escola em Barretos, no interior de São Paulo, uma aluna de 13 anos vítima de abuso sexual revelou, em detalhes, como agia o professor Alan Deivid Brandes da Silva, de 35 anos. A vítima disse que demorou para fazer a denúncia porque sentia medo dele. O suspeito está preso desde o dia 2 de julho.

"Eu sei que errei em ir onde ele manda, mas ele ainda é meu 'superior' e meu professor. De qualquer forma, ele manda em mim e eu tenho medo da reação dele ao não ir, mesmo de não ter ido semana passada. É algo que eu não sei o que vai acontecer se eu parar de ir de vez, se vai ficar bravo comigo, se vai se magoar, se vai ter uma visão ruim de mim, se pode fazer algo comigo", diz um dos trechos da carta.

O conteúdo do desabafo da vítima foi anexado ao inquérito policial que investiga o professor e acessado pelo g1.

"Tentei ser amiga, tentei ser grossa, tentei dar uma ideia de que era errado, tentei dar pequenas indiretas de que eu não estava bem com aquilo (mas ele não entendia), eu tentei quase tudo que podia fazer nesses últimos meses, agora estou aqui pedindo ajuda", continuou o relato.

A ajuda em questão surgiu de um outro professor da escola, que a vítima procurou para contar a situação. A partir daí, o caso foi levado à direção, que procurou a polícia.

Silva foi preso na casa dele e deve responder por estupro de vulnerável. O advogado de defesa, Sebastião Luis de Azevedo Borges, diz que o professor tem consciência do crime.

"Estamos aguardando o retorno da perícia do celular dele, colocamos algumas linhas de defesa para ele. Ele tem consciência do feito, que está sendo investigado, e vamos caminhar dentro do andamento processual".

A Prefeitura de Barretos abriu um processo administrativo para exoneração de Silva. A aluna retornou às aulas. Ela e a família estão recebendo apoio psicológico e terapêutico.

O assédio

Na carta enviada para a escola, a aluna descreveu, em detalhes, como acontecia o assédio do professor e confessou que considerava os abraços que recebia estranhos.

Em um determinado trecho, a menina revelou que a primeira aproximação se deu em um momento em que ela estava triste e Silva foi consolá-la.

"Eu estava bem triste, cabisbaixa, precisava desabafar, ansiosa, deprimida e bem triste por conta de uns problemas aí e o professor percebeu isso e um dia desses, no final da aula, pediu pra mim dar um abraço nele (...) eu aceitei porque realmente estava mal".

Na sequência, a aluna disse que o professor passou a mão nas partes íntimas dela e contou que achou errado, mas relevou. Os pedidos de abraço continuaram.

"Aí veio o dia da prova dele (...) tive que fazer o que restava da prova na sala do laboratório e, por eu ser uma das últimas a entrar na sala, consequentemente, eu fiquei na sala sozinha com ele (...) às vezes ele vinha do meu lado me ajudar com alguma questão passando a mão na minha cintura".

Em outro trecho, a vítima relatou que o suspeito pediu para que ela não contasse para ninguém sobre os abraços.

"A prova termina. Neste momento estava tudo ok, fiquei conversando com ele depois da prova como se nada tivesse acontecendo, porque eu realmente achava que era só uma desconfiança. Neste momento, ele me deu vários destes abraços estranhos, mas achava que era normal. Ele me falava para não contar sobre os abraços para ninguém, absolutamente ninguém".

O professor chegou a criar um perfil falso na internet para conseguir conversar com a menina. Em uma das conversas que a polícia teve acesso, ele fala sobre sexo oral.

Em outra conversa, ele elogia a menina em uma foto que ela publicou. "Tá gata mesmo, por isso gosto de te beijar".

A investigação da polícia descobriu que Silva tinha medo de ser descoberto. Para os encontros forçados, ele escolheu uma sala dentro da escola com janelas altas, para dificultar a visão de quem estivesse do lado de fora.

Promotor de Justiça, Walter de Souza Vicentini Vilela diz que o suspeito pode ter a prisão temporária convertida em preventiva e ainda pena aumentada, por ter relação de autoridade sobre a vítima.

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