Comunidade reage a cortes de Milei em meio a crise econômica e inflação recorde
Gabriela Thier Publicado em 02/10/2024, às 17h10
As universidades públicas argentinas protagonizam uma significativa manifestação nesta quarta-feira (2), com respaldo de sindicatos e partidos de oposição, em protesto contra os severos cortes nos gastos públicos promovidos pelo presidente Javier Milei.
A mobilização foi desencadeada após o governo de Milei ameaçar vetar uma lei recentemente aprovada pelo Congresso, que garantiria o financiamento das instituições de ensino superior. O contexto é de uma crise econômica aguda, com inflação anual próxima a 240% e mais da metade da população vivendo na pobreza.
"O governo está implementando um plano sistemático e metódico para desmantelar a educação pública", declarou Ricardo Gelpi, reitor da Universidade de Buenos Aires, em um comunicado. A universidade, que é a maior do país e figura entre as 100 melhores do mundo segundo o ranking QS, representa um símbolo de resistência na atual conjuntura.
O Executivo justifica os cortes orçamentários afirmando que as universidades públicas são centros de doutrinação "socialista". No entanto, a alta reputação dessas instituições entre os argentinos tem fomentado uma resistência social abrangente.
Gelpi criticou o governo ao afirmar que o veto à lei de financiamento representaria uma fração mínima do PIB (Produto Interno Bruto) argentino. "O Executivo demonstra desprezo pela educação, ciência e pela função social das universidades", acrescentou.
Em abril deste ano, um protesto que reuniu centenas de milhares de estudantes e professores levou Milei a reconsiderar os cortes no orçamento das universidades. No entanto, autoridades das prestigiadas instituições, majoritariamente gratuitas na Argentina, relataram posteriormente que as promessas de melhorias não foram cumpridas.
Milei defende seu plano econômico como necessário para alcançar o equilíbrio fiscal da economia argentina. Contudo, seus críticos argumentam que os ajustes têm sido inadequados e desproporcionais, prejudicando principalmente os mais vulneráveis e setores essenciais como saúde e educação.
"O financiamento da educação universitária pública nunca foi insuficiente. O compromisso do governo com as universidades públicas permanece sólido", afirmou o Ministério do Capital Humano da Argentina em nota oficial, alegando que apenas exigiu maior transparência na gestão dos recursos.
Dados da Universidade de Buenos Aires indicam que professores universitários e funcionários não docentes perderam cerca de 40% de seu poder aquisitivo desde dezembro passado. "Essa situação continua se agravando, deixando muitos abaixo da linha da pobreza", alertou a instituição.
A crise nas universidades argentinas reflete uma luta maior pelo futuro da educação pública no país, em meio a um cenário econômico extremamente desafiador.
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