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Orgulho de ser brasileiro

Orgulho de ser brasileiro - Imagem: Reprodução | X (Twitter)
Orgulho de ser brasileiro - Imagem: Reprodução | X (Twitter)
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 30/08/2023, às 09h12


Infelizmente, tornou-se lugar comum a crítica constante ao Brasil por parte de muitos brasileiros. Ao confundir-se a situação política, a violência urbana e a falta de perspectivas quanto ao futuro, muitos se desiludem com o País, que, em que pesem os desafios que enfrenta, tem sim um potencial invejado por todo o mundo.

O grande desafio da nacionalidade é que o brasileiro perdeu orgulho do seu país. Talvez pela falta de democracia no período militar, o brasileiro também perdeu respeito pela autoridade. Passou-se a confundir disciplina com autoritarismo. E os sonhos de um país grande foram enterrados pelos vários erros econômicos e políticos que condenaram o Brasil a uma situação de baixo desenvolvimento e reduzido crescimento econômico. Nas últimas décadas, o Brasil viu-se superado por países como Índia e China que possuíam situações econômicas muito piores do que tínhamos. Aos poucos, a chama do Milagre Brasileiro – ainda que eivado de problemas – transformou-se num sentimento de frustração. O país do futuro se transformou num país desencantado com a sua própria realidade. E o povo, ao invés de resistir à situação e buscar uma força interior de rejuvenescimento, optou por aceitar aquilo que aventureiros que dominaram o cenário político passaram a impor como realidade. O Milagre Brasileiro, paulatinamente, foi-se transformando num pesadelo e muitos optaram por encontrar novos rumos em outras terras.

Tudo foi politizado no Brasil. Educação passou a ter viés ideológico. Até vacinas e vírus passaram a ter o carimbo equivocado de um perfil ideológico. Construiu-se uma narrativa derrotista para o País e, para piorar, passou-se a importar o lixo das pautas políticas e ideológicas que têm condenado o Ocidente a, rapidamente, perder a sua primazia global. Ao invés de observar a deterioração dessas pautas, o Brasil, através de alguns “iluminados”, quis incorporá-las à sua realidade. E não poderia ter acontecido algo pior porque com isto se condenou o País a discutir assuntos completamente alheios à sua realidade. Discutimos problemas de primeiro mundo quando enfrentamos desafios de saneamento básico. Discutimos mudança climática e ESG quando não nos atentamos ao fato de que o Brasil não produz papel higiênico suficiente para sua população.

E o setor agrícola, um dos mais desenvolvidos do mundo, sobrevive num país em que ainda existe desnutrição e o preço dos alimentos é caríssimo comparado à capacidade de produção do solo. E a violência que abunda nas cidades brasileiras, ao invés de ser combatida, a solução encontrada foi colocar insulfilm nos carros, blindá-los e, ainda aumentar a altura dos muros das casas. No Brasil, a bandidagem passou a ditar a moda: como nos vestimos, o que usamos e quando podemos usar algo.

E, ao invés de fazermos algo a respeito, discutimos coisas que não alteram o rumo da nacionalidade de um modo positivo. Todos os políticos são colocados no mesmo cesto, com a mesma imagem e percepção. E aqueles poucos que são bem-intencionados, pouco fazem para serem notados como diferentes. A política – que segundo o Papa Francisco é um dos maiores atos de caridade – se transformou num grande palco para corruptos e mal-intencionados sobressaírem. No Parlamento não há estadistas ou visões de longo prazo. No Executivo, não há um norte e nem perspectiva de futuro para a nação. E no Judiciário inexiste a convicção e certeza da justiça e das regras claras.

O Brasil tinha um encontro com a sua nacionalidade em 7 de setembro de 2022, quando comemorava o seu Bicentenário da Independência. Infelizmente, o governo patriota da ocasião desperdiçou esse momento histórico e pouco celebrou a ocasião e a população foi condenada a ouvir impropérios quanto ao desempenho sexual da sua liderança. E o que seguiu, posteriormente, tampouco tem o status necessário para inspirar a confiança em dias melhores no País.

Com isto, vemo-nos numa situação complexa: sem sonhos, sem perspectivas e sem alternativas. O nível educacional cada vez pior, a população cada vez mais sujeita a um estado meliante e uma ausência de liderança que assusta. Num passado não muito distante, colocávamos heróis nacionais nas moedas em circulação. A maioria destes heróis eram oriundos do período monárquico do Brasil. Qual político brasileiro atual você acha que deveria constar em uma nota de dinheiro para as futuras gerações conhecerem?

Temos vários desafios a enfrentar: desigualdade econômica, pobreza, corrupção, violência e crime, instabilidade jurídica e política, infraestrutura decadente e educação deficitária. Ao deparar-se com estes desafios que jamais são, efetivamente, resolvidos pelo Poder Público, milhões têm optado por viver no Exterior. Cerca de 4,5 milhões de brasileiros decidiram viver fora do País a ter que lidar com os desafios existentes. Desde 2010, o número de brasileiros morando fora do País cresceu 44%, particularmente nos Estados Unidos, Portugal e Paraguai. Como é possível o Brasil abrir mão de tantos talentos brasileiros, que deveriam encontrar no seu próprio país um oceano de oportunidades?

Afinal, que país no mundo tem as qualidades do Brasil: ausência de fenômenos naturais, sol e água em abundância e uma variedade inestimável de recursos naturais? Até quando o brasileiro será desleixado com o seu próprio lar? O desmazelo e a falta de regras claras condenam o País é condenado a ficar sempre aquém de suas potencialidades.

Sempre me surpreendeu encontrar brasileiros no Exterior. Enquanto aqui o descaso do país impera, ao entrar no avião e descer em outros lugares do mundo, ocorre uma transmutação no indivíduo, que passa a ser um cidadão comportado e prestimoso do lugar em que vive. No entanto, ao retornar ao País, aquele ser novamente se transforma e com isso o Brasil perde.

As palavras de Bilac deveriam ser repetidas diariamente em todas as escolas do Brasil: “Criança, não verás país nenhum como este. Imita na grandeza a terra em que nasceste.” O Brasil é muito maior e superior aos problemas que enfrenta. É uma grande terra, um povo abençoado e um destino glorioso. Mas é preciso tomar somente uma decisão: querer morar num país decente e livrar-se do joio que nos condena a ser uma país de terceiro mundo com riquezas que poucos no primeiro mundo tem. Sempre terei orgulho de ser brasileiro pois confio na sua grandeza histórica e em seu futuro.

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