Diário de São Paulo
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Bate-Papo com Marauê

"Peer to peer": Uma realidade promissora de investimentos no Brasil

Diego Camacho, CEO da empresa WMoney, é o convidado desta semana

Diego Camacho - Imagem: Acervo Pessoal / Marauê C.
Diego Camacho - Imagem: Acervo Pessoal / Marauê C.
Marauê Carneiro

por Marauê Carneiro

Publicado em 25/03/2024, às 05h41


Diego, muito obrigado por receber o diário de São Paulo. Para começarmos, eu queria saber um pouco da sua trajetória profissional, desde a sua formação até o lançamento da Health Money. Vi que você é formado em estatística e pós-graduado na FGV. É isso mesmo?

Isso. É um prazer bater esse papo com vocês. Espero que possa de alguma forma contribuir. Sim, sou formado em estatística. Me formei em 2011 e, desde lá, eu já comecei a empreender. Abri uma empresa de pesquisa usando estatística e depois disso acabei navegando um pouco pelo mercado. Passei por algumas grandes empresas como: Telefônica, Porto Seguro e Dotz. Naturalmente, eu acabei criando esse corpo mais de negócio, e de lá para cá, tudo que eu empreendo é relacionado com dados e tecnologia. Então, mas o estatístico normalmente vai trabalhar em grandes cargos de bancos e tudo mais, mas eu acabei indo por esse caminho de empreender; e aí, tudo o que eu faço ali como empreendedor é buscar sempre entregar algo de valor para o cliente final. A WMoney por exemplo, a gente começou em 2019, foi um ano todo pré-operacional. Em 2015 eu tive uma outra oportunidade de empreender. Estava descapitalizado e fui em alguns bancos para prospectar um incentivo, e não conseguia nada. Aquela coisa, CNPJ novo enfim...Quem emprestou grana para o negócio acontecer foi, desde conhecidos, não conhecidos e amigos. Consegui juntar um dinheiro e abri a empresa. Hoje essa empresa fatura mais de 5 milhões por ano e já alcançou seu Breakeven e todos os investidores foram pagos.

Você está se referindo a Trieduc certo?

Isso! Foi um problema que eu tive no início, e então pensei: como será que podemos resolver esse mesmo problema e ajudar outros empreendedores? Em 2018 com a nova resolução do banco central é que eu fui entender o mercado Peer to Peer e seu potencial. Eu falei, poxa, isso aqui é exatamente o que eu precisei e não tive. Então, eu vou fazer para poder dar um tipo de investimento melhor, para quem quer ter um retorno. Pensei nos empreendedores e nas empresas que precisam e merecem ser impulsionadas, e que, muitas vezes, falta um passo e investimento inicial. Assim nasceu a nossa empresa! E como a gente faz isso? Com uma análise de crédito muito detalhada, analisamos também obviamente o potencial e o custo operacional dos negócios. No Brasil, ainda há um paradigma de que para você investir precisa ter muito dinheiro. Eu queria quebrar esse paradigma! Com R$100,00 ou R$ 200,00 você vai conseguir investir, inclusive emprestando para uma empresa, e ainda ter um crédito bancário como uma ferramenta de ganho, que são os juros que a empresa paga. E assim poder participar de um ecossistema que, de 10 a 15 anos para cá, só cresce e que é fundamental para fomentar nossa economia: o empreendedorismo.

Quando você diz sobre essa relação com o Banco Central, você está se referindo ao modelo de negócio P2P?

Isso, perfeito. O P2P foi legalizado a partir de 2018 no Brasil, através de uma resolução do Banco Central. O objetivo do Banco Central era, com o surgimento de muitasfintechs, começar a legalizar isso e diminuir a barreira de entrada. Embora seja muito difícil você ser uma instituição regulada no Banco Central, essa resolução e modelo de negócio começou a trazer ferramentas e possibilidades disso acontecer. Isso gera uma concorrência maior, e as Fintechs poderem ter juros mais acessíveis para competir com os grandes bancos.

E hoje, qual é o portfólio de vocês, tanto de empresas que vocês de alguma maneira estão aptas para investimentos, como também de investidores? Como está essa carteira?

Vamos fazer quatro anos agora, no final do ano. Temos mais de três anos e pouco de empresa e nesse período a gente já intermediou mais de 30 milhões de reais. E conta com uma base entre investidores e empreendedores que precisam de empréstimos de mais de 60.000 clientes. É um crescimento que no começo foi muito orgânico, a gente chama de torneirinha fechada, porque você não pode ter muito risco para empresta; senão, vai ter uma inadimplência muito maior. Então, você tem que precificar isso de uma maneira adequada. E aí, no começo de 2023, a gente fez um M&A com o grupo. Entre investimentos que contam com empresas no grupo, como a Entrepay, que é uma das principais adquirentes do país. Além de fornecer credito para os empreendedores, para empresas que precisam de uma maneira mais simples, ele pede o empréstimo, a gente analisa, calcula a taxa e devolve para ele. Temos também outros tipos de crédito, por exemplo: se você é um lojista e vendeu parcelado no cartão de crédito, a gente consegue antecipar essas vendas com uma taxa acessível e, na outra ponta, como é um volume de dinheiro maior, a gente conecta também fundos de investimentos do tipo fênix e também outros bancos.

O mercado de crédito também pode ser criativo, eu queria entender se vocês têm previsão de novos produtos, quais são os próximos desafios da empresa?

Quando a gente atua no mercado de crédito, sempre tem desafios e sempre surgem coisas novas. Agora, a gente está também lançando a W Bolsa que é um braço da W Money, que, hoje, também temos no nosso perfil; que empresta e também recebe o principal mais os juros. Com a Wbolsa a ideia é que você invista na empresa se tornando sócio dela, do empreendedor.

Um Crowdfunding?

Exatamente! E com isso a gente traz produto diferente para o nosso cliente também; porque de uma maneira ele está impulsionando, investindo. São riscos, mas também, mais uma porta nova para o nosso cliente.

Tem perfil específico de empresa que vocês exigem para quem vai entrar nesse programa da W BOLSA?

Hoje, para a gente emprestar para as empresas, tem alguns pré-requisitos mínimos, por exemplo: linha de crédito, empréstimo a empresas que tem mais de três anos , fatura mais de 1 milhão por ano. Para a W Bolsa o que nós vamos olhar muito mais é o potencial. Como o nosso time, assim como eu, é muito baseado em dados e tecnologia, precisa ser um negócio que tenha um poder de crescimento e Escalabilidade. Com isso a gente analisa. Pode acontecer da empresa não ter receita, mas ela tem que ter, no mínimo, produto viável, que a gente chama de MVP.

E já tem previsão do início desse programa?

A gente deve lançar isso dentro das próximas semanas. Estamos agora no começo de 2024 e no primeiro semestre nós pretendemos ter isso de maneira correta. Talvez a gente traga uma oferta de lançamento mais atrativa.

Eu naveguei pelo site de vocês e parabéns; achei bem intuitivo. Quando você fala em tecnologia, uma coisa que achei interessante é que vocês estão cercados de integrações e parceiros, que dão bastante consistência para o negócio. Percebi que vocês prezam muito a transparência na análise e confrontam os bancos de uma maneira bem interessante.

Porque hoje o que acontece: vamos pegar como exemplo os grandes bancos que a gente tem; eles têm agência física e todo um custo operacional muito grande. Então a gente usa a tecnologia a nosso favor. Hoje, as empresas, por exemplo :Serasa, Google possuem facilidades para você fazer do seu jeito usando o know-how deles. Como por exemplo: Se você for fazer uma consulta no SERASA, você possui desde o score da pessoa até outras “n”variáveis. Mas nós conseguimos analisar, além da fraude, a propensão da pessoa à fraude, a propensão de presença digital. O quanto aquela empresa transaciona na internet. Quando se fala internet, entende-se compra alguma coisa online, faz os pagamentos online. Então eu consigo ver, porque se eu sou uma empresa digital e a empresa que está pedindo credito não for digital, é complicado; porque a chance de inadimplência é maior. Então, com apoio dessas empresas e o uso de tecnologia, a gente consegue também com isso ter um nível diferencial perante os bancos. Como somos mais enxutos, a gente usa muito mais tecnologia e muda muito, transforma muito rápido. Algumas das facilidades que temos em nosso aplicativo, se você está solicitando credito nós conseguimos ver qual a localização que você está e entender a melhor opção para acompanhamento.

Na sua visão qual é o grande diferencial da WMoney perante os concorrentes? Sabendo que a inovação pode ser em diversas áreas como: marketing, produção, logística etc... Na sua percepção onde vocês inovam ou inovaram?

Nosso grande diferencial eu acredito que é a tecnologia, não só do que a gente tem validado, mas na velocidade de como as coisas andam na nossa tecnologia. Eu faço sempre uma analogia com a formula 1: nós temos as dez equipes da formula 1. Temos a pioneira, mais duas ou três e depois as intermediárias e, finalmente, as últimas do gride. Nós já nascemos intermediários porque já nascemos com o aplicativo.

O aplicativo, vocês que desenvolveram?

Sim, é nosso o aplicativo, é nosso todo o Know-how do desenvolvimento e propriedade intelectual. Tudo nosso. Código registrado INPI tudo certinho. Somos a única que tem uma conta de pagamento embarcada por trás, com a mesma segurança que das corretoras. Por exemplo: se você investe na XP, você faz a transação da mesma titularidade para uma conta XP. Daí, você tem uma conta do banco parceiro, então você faz um TED para a sua conta de titularidade, via Pix, com uma chave que você cadastra a qualquer momento. Então, se tiver uma conta aberta, você consegue fazer um investimento hoje, em menos de 30 segundos.

Uma pessoa física que queira investir, existe um valor mínimo?

Hoje, por exemplo se uma empresa pede 10.000 reais emprestado, a gente disponibiliza na plataforma o valor mínimo, em torno de 200 reais para poder começar a investir. Mas tem oportunidades com valores menores e valores maiores. Isso varia de acordo com o montante. Legal, por que acaba sendo acessível né...

Sim a ideia é, se você tem 1000 reais, você consegue investir em cinco oportunidades e diminui muito seu risco.

Eu vi no site que existem aplicações pagando em torno 27%?

Isso; nós temos oportunidades que chegam a pagar até 30% ao ano de retorno; tudo depende do risco. Temos também oportunidades que pagam 15% ao ano; que já é acima do CDI. São oportunidades que têm garantia mais forte, com mais seguro de cartão imóvel. Temos uma que é maior que o CDB e mais segura também, tanto quanto ao CDB. Às vezes até mais porque sabemos que tem fundo garantidor de um teto. Se temos um imóvel de 5 milhões e nós emprestamos 2 milhões, a nossa garantia é muito mais forte do que 250 mil do fundo garantidor, por exemplo. A gente tem essas facilidades. Outras empresas não têm uma garantia tão forte com o uso de cartão, mas tem um bom perfil de crédito, o que também atende o nosso investidor.

E para finalizar a nossa entrevista, eu sempre peço para o entrevistado deixar uma mensagem final, que sirva tanto para os profissionais de crédito, ou mesmo para os profissionais de inovação ou tecnologia.

A mensagem é: as pessoas ainda, ao ver dos bancos, sofrem preconceito. Pensa-se sempre que se a pessoa está solicitando um empréstimo, ela está quebrada. Não! As vezes ela só precisa, eventualmente. E para o investidor, digo que ele não precisa ser milionário e nem ter uma fortuna para começar a investir. Ele pode começar hoje. Acho que o propósito para a pessoa é ser mais acessível, tanto para impulsionar a empresa que precisa, quanto para dar uma qualidade melhor e mais segura ao investidor

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