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Sobre as falas do presidente: estratégia ou erro?

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 16/09/2023, às 06h15


Nas últimas semanas (e talvez durante os quase nove meses de mandato), algumas falas do presidente Lula têm causado stress, principalmente no cenário internacional. Primeiro, houve a questão da invasão da Ucrânia pela Rússia. Em seguida, um tom elevado na responsabilização histórica dos países da União Europeia e dos Estados Unidos pela questão climática, além de outros momentos, em que parece evidente que o presidente optou pela valorização do chamado Sul Global e dos países que compõem os BRICS.

A última fala que “pegou mal” na imprensa estrangeira foi sobre a reunião do G20 de 2024, que deverá acontecer no Rio de Janeiro. Ele disse que Putin poderia ir tranquilamente, porque no Brasil não seria preso. Com um mandato de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, isso seria claramente desrespeitaria um acordo do qual o país é signatário. Depois, ele desconversou e disse que o Poder Executivo não é responsável por essa decisão, deixando nas mãos da Justiça.

Podemos analisar as ações do presidente Lula sob duas perspectivas: estratégia e discurso. A partir da visão estratégica, faz sentido que o presidente pressione os países da União Europeia e os Estados Unidos. Afinal, nas últimas décadas (e talvez desde sempre), o nosso país foi visto como um fornecedor de produtos agrícolas, vítima também de um protecionismo que só faz bem para os países do Norte. Na relação entre o Mercosul e a União Europeia, por exemplo, Bruxelas quer fechar um acordo sem ter regras claras do que eles consideram produtos de áreas de desmatamento. Sem essa decisão, o Brasil estaria em um acordo que, unilateralmente, poderia ser modificado pela Europa, sem possibilidade de reação.

Neste cenário, parece que o presidente Lula tem feito o que aprendeu desde os tempos de sindicalista em São Bernardo do Campo: pressionar, testar os limites, para depois então sentar-se à mesa. E ele sabe que, sem o Mercosul, dificilmente a Europa teria suas necessidades de produtos agrícolas atendidas.

Porém, há a questão da comunicação, e aí é possível indicar excessos do presidente. Afinal, com toda a razão estratégica, Lula deveria pressionar nas reuniões a portas fechadas, em telefonemas e conversas com os outros líderes. E delegar também para os seus ministros que façam o mesmo com as suas contrapartes, ou seja, os ministros dos outros países. Fávaro, na Agricultura, Alckmin, na Indústria, Haddad, na Fazenda, e Marina Silva, na questão da mudança climática, além de Mauro Vieira, o titular do Itamaraty, podem muito bem ter atitudes mais firmes nas conversas multilaterais. E também podem usar a imprensa para mandar os recados que não ficam tão bem nos discursos do presidente.

Ao buscar toda a atenção e controle do governo para si, Lula às vezes ultrapassa limites nas relações com jornalistas, o que poderia ser evitado. Afinal, além de liderar o governo, o presidente também tem a função de Chefe de Estado.

No entanto, pode ser que Lula tenha uma grande estratégia e tudo isso faça sentido. Veremos!

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