Lula prepara discurso mais ambicioso sobre clima para o G20 e COP30
por Kleber Carrilho
Publicado em 28/09/2024, às 12h38
Esta semana, o presidente Lula esteve em Nova York, onde participou de uma série de eventos que culminaram no tradicional discurso brasileiro na abertura da Assembleia Geral da ONU. A presença dele chamou atenção não apenas por ser um dos principais líderes do Sul Global, mas também pelo movimento geopolítico que o Brasil busca no cenário internacional. Mas o saldo da visita traz pontos fortes e outros nem tanto, especialmente em relação à questão climática, que deveria ser a nossa prioridade.
O discurso de Lula na ONU seguiu o esperado: defesa do multilateralismo, cooperação internacional e luta contra as desigualdades. Embora o tom da fala tenha sido firme, não trouxe grandes novidades. Ainda assim, faltou algo mais ousado, que sinalizasse um Brasil com propostas concretas para os desafios.
Nos eventos paralelos, Lula teve momentos de destaque. Durante um encontro com Bill Gates, chamou a atenção ao criticar a concentração de grandes fortunas, o que soou especialmente significativo por ter sido feito na presença do anfitrião, um dos homens mais ricos do mundo.
Uma questão relevante foi a postura de Lula em relação aos principais conflitos internacionais. Em relação à Ucrânia, mais uma vez se mostrou próximo da China e de uma solução negociada, o que levou, mais uma vez, Zelensky a criticá-lo diretamente. Quanto ao conflito entre Israel e a Palestina (e agora também o Líbano), o momento mais importante foi o encontro com Mahmoud Abbas. Lula enviou uma mensagem clara de que o Brasil continuará a apoiar a solução de dois Estados no conflito.
No entanto, se há um ponto que ficou abaixo das expectativas, foi a questão climática. Embora Lula tenha mencionado a necessidade de proteção ambiental em seus discursos, o tema não teve o destaque que muitos esperavam. O Brasil, dono de uma das maiores biodiversidades do mundo e com um papel central na preservação da Amazônia, deveria ter tido uma postura mais enfática nesse sentido. Com o aquecimento global se intensificando e a agenda ambiental ganhando protagonismo global, é fundamental que o país lidere as discussões sobre a transição para uma economia verde.
Essa ausência de destaque para o clima não passou despercebida, mas pode ser entendida dentro de uma estratégia mais ampla. Lula parece estar guardando suas cartas climáticas para os próximos meses, quando o Brasil assumirá a presidência do G20 e será anfitrião da Conferência do Clima (COP30) no próximo ano. Esses dois eventos darão ao país uma plataforma privilegiada para liderar a agenda ambiental global, e é nesse contexto que Lula provavelmente concentrará seus esforços para construir um discurso mais robusto e coerente sobre a questão climática.
Agora, com a presidência do G20 e a COP no horizonte, Lula tem a oportunidade de transformar essa expectativa em realidade. A questão climática precisa ser o eixo central das políticas internacionais do Brasil, e, para isso, será necessário um discurso forte, claro e ambicioso. O mundo está de olho, e o Brasil tem o potencial de ser uma voz decisiva na luta contra a crise climática. Kleber Carrilho é analista político, professor e pesquisador na Universidade de Helsinque, na Finlândia.
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