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Karateca PCD e fã de Netenho vira coach de PUBG Mobile

Kevin Martins começou a traçar um caminho no karatê muito cedo, aos seis anos. Venceu três vezes o Campeonato Brasileiro da modalidade em sua categoria.

KARATECA
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Redação Publicado em 02/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h41


Kevin Martins começou a traçar um caminho no karatê muito cedo, aos seis anos. Venceu três vezes o Campeonato Brasileiro da modalidade em sua categoria. Poderia estar representando o Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio, mas uma outra paixão interferiu na sua trajetória e ele acabou se firmando nos jogos eletrônicos. O potiguar é PCD – nasceu com um braço – e por isso foi bastante desafiado fisicamente e pelas pessoas ao seu redor: família e amigos.

Kevin e as lutas

O rapaz de 20 anos lutou contra o preconceito da própria família desde que nasceu. Quando era bem novinho, lembra que sofreu um espécie de rejeição pelo lado paterno, história que prefere deixar no passado. Na escola também conviveu com o bullying dos colegas. Com esse acúmulo de agressões psicólogicas, Kevin acabou se tornando uma criança briguenta para se defender.

– Já cheguei a jogar cadeira em aluno. Brigava muito. Aí minha mãe me botou no Karatê [com seis anos] para tentar aprender a ter disciplina. Comecei a pegar gosto pelo esporte e com nove para 10 anos já estava em competições – relembrou.

No tatame, Kevin não era separado dos seus pares por sua deficiência. O professor insistiu em um treinamento sem distinções.

– Sempre lutei contra atletas normais: dois braços e duas pernas. Eu com um braço, lutava porque meu professor sempre me treinou para não me sentir diferente de ninguém – explicou.

Aos 10 anos, quando era faixa laranja, foi campeão estadual do Rio Grande do Norte e ganhou vaga para o Brasileiro. Em Teresina, sede do campeonato nacional daquele ano, Kevin foi campeão com três medalhas de ouro e uma de prata.

Kevin Martins compete no karatê desde os 10 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Kevin Martins compete no karatê desde os 10 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Kevin se classificou novamente para mais um Brasileiro, aos 11 anos. Uma semana antes do campeonato, escorregou numa quadra enquanto jogava bola perto de casa. Com o acidente, levou cinco pontos, mas ainda assim viajou para o torneio. O árbitro do evento não permitiu que lutasse com os pontos recém dados. Um veterinário que estava na competição tirou os pontos, e Kevin resolveu ir para o tatame. Lutou, venceu dois ouros e uma prata. Com 15 anos e a faixa verde, novamente foi campeão brasileiro com dois ouros e uma prata.

Hoje em dia, o potiguar é faixa preta. Através do karatê, ganhou uma bolsa de 100% em uma faculdade em Natal, onde cursa o 4° período de Direito. Com o esporte, o bullying foi parando e hoje passa seus ensinamentos da luta para cerca de 50 crianças em duas escolas.

Antes da pandemia, Kevin dava aula de karatê para cerca de 50 alunos — Foto: Arquivo Pessoal

Antes da pandemia, Kevin dava aula de karatê para cerca de 50 alunos — Foto: Arquivo Pessoal

Desistir não é uma opção

O potiguar começou a jogar em 2013 e seu primeiro contato com um game foi com o Red Crucible 2. Não demorou muito para migrar para o Point Blank, por influência de José Neto “netenho”, eleito o melhor streamer no Prêmio Esports Brasil 2018. Na época, o amazonense ainda era pro player do jogo, chegou a representar o Brasil no Mundial na Tailândia e estava sempre no topo das competições nacionais.

– Eu acompanho o netenho há muitos anos. Ele jogava Point Blank e eu comecei a jogar por causa dele. Eu era muito fã! Ainda sou até hoje. Ele jogava competitivo e eu também queria. Nunca imaginava o que era ganhar dinheiro com jogo. Ele migrou pro PUBG. Querendo ou não é um jogo bem difícil para uma pessoa de um braço jogar no teclado e mouse, então acabei optando ir pro mobile – explicou Kevin.

– Teve um dia que lancei uma piada no jogo e disse: “Eu com um braço tô jogando melhor do que vocês. Eles falaram ‘oxi, como assim?”. Eu mandei foto no grupo que eu não tenho um braço – explicou.

Na hora, os amigos incentivaram a gravar um vídeo e postar no YouTube. Na primeira semana bateu 50 mil visualizações. Com o alcance, netenho acabou o convidando para jogar.

– Me emocionei muito. Querendo ou não era um cara que eu era muito fã.

Netenho foi melhor streamer no Prêmio Esports Brasil — Foto: Marcos Ribolli

Netenho foi melhor streamer no Prêmio Esports Brasil — Foto: Marcos Ribolli

– Conheci o Kevin jogando duo no PUBG. Costumo jogar com a galera aleatória que segue o canal. Ele me contou a história dele, ja era do YouTube de PUBG Mobile, disse que queria fazer lives, mas não tinha um PC para isso… No momento isso me tocou bastante, sou do tipo de pessoa que quando o coração toca já viu né? Então com isso, eu e a Pichau (meu parceiro) resolvemos dar um PC pra ele, pra ajudar ele nesse sonho. Fico feliz que ele conseguiu fazer as lives e continuar no ramo – relatou netenho.

Com o computador presenteado, novas portas se abriram para Kevin. Além das lives frequentes, o rapaz realizou um sonho.

– Veio um time atrás de mim perguntando se queria jogar um campeonato com eles. Foi a CodaSolid (na época era Solid). Acabaram fazendo uma proposta e entrei como jogador. Fui crescendo e virei capitão. Com o tempo fui pegando mais gosto pela parte tática e agora virei coach – contou.

Como técnico, Kevin já celebrou a vitória do time no PUBG MOBILE America’s Challenge 2021. O próximo campeonato do elenco será a segunda temporada do PUBG Mobile Pro League que começa no dia 7 de setembro.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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