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Chocante

Você sabia que terrível linchamento da protagonista de ‘Travessia’ é baseado em caso real?

O crime aconteceu em 2014, no Guarujá, em São Paulo

Fabiane de Jesus foi confudida com uma criminosa da Zona Norte do Rio de Janeiro. Imagem: reprodução/Facebook - Imagem: reprodução/TV Globo
Fabiane de Jesus foi confudida com uma criminosa da Zona Norte do Rio de Janeiro. Imagem: reprodução/Facebook - Imagem: reprodução/TV Globo

Mateus Omena Publicado em 13/10/2022, às 18h54


A nova novela das 21h da Globo, “Travessia”, tem dado o que falar por diversos motivos, especialmente por abordar temas atuais e polêmicos.

No entanto, esse detalhe faz parte do estilo da autora Glória Perez, que choca os telespectadores com assuntos pouco conhecidos.

Desta vez, a crítica que vem intrigando o público é o Deep Fake, crime virtual que arrasa com a vida da protagonista, e a maneira como ela é agredida pelas pessoas.

Na trama, Brisa (Lucy Alves) é confundida com uma sequestradora de bebês no interior do Maranhão e começa ser xingada por uma multidão enfurecida. A mocinha foge para não ser linchada ou presa pelo crime que não cometeu.

Apesar da história ser impactante e criativa, o drama foi inspirado em um caso real. Glória se baseou no linchamento sofrido por Fabiane Maria de Jesus. A vítima era uma dona de casa, de 33 anos, casada e mãe de duas crianças. Ela foi espancada até a morte por moradores do bairro onde morava, o Morrinhos, localizado na periferia do Guarujá, no litoral de São Paulo, em 2014.

Como a personagem da novela, ela foi confundida com uma suposta sequestradora de crianças, que teve o retrato falado divulgado em páginas do Facebook. Em 3 de maio, Fabiane saiu de casa usando uma bicicleta para buscar uma Bíblia e ir à casa de uma parente, mas neste momento sofreu o ataque por um grupo de pessoas.

A Polícia Civil havia informado que o retrato falado ligado à Fabiane era de 2012, ou seja, de dois anos antes, indicando um grave erro da investigação. A verdadeira criminosa era uma mulher acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Depois de ser linchada, a mulher inocente foi arrastada até uma passarela e encontrada por policiais militares em estado grave. Ela foi socorrida, mas morreu dois dias depois, em decorrência dos ferimentos. A tragédia teve grande repercussão no país em virtude da crueldade e das circunstâncias.

Travessia
Fabiane de Jesus foi confudida com uma criminosa da Zona Norte do Rio de Janeiro. Imagem: reprodução/Facebook

Qual foi o desfecho do caso?

De acordo com uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, cinco homens estavam envolvidos no linchamento de Fabiane de Jesus. Eles foram condenados à pena máxima de 30 anos de reclusão cada e a pagar uma indenização à família de R$ 550 mil.

Além deles, duas mulheres, Daiana e Camila, que acusaram injustamente Fabiane, foram indiciadas por incitação ao crime. As imagens gravadas nos celulares de testemunhas serviram para ajudar a polícia a identificar os principais agressores.

Por outro lado, os responsáveis pela divulgação das informações falsas nas redes sociais não foram responsabilizados pelo crime. Após o episódio, um projeto de lei foi criado para incluir a divulgação de notícias falsas no Código Penal, mas está parado no Congresso e sem previsão de votação.

Drama

A história de Fabiane comoveu a autora Glória Perez, que decidiu acompanhar o caso. Em entrevista ao Gshow, ela manifestou sua revolta com o caso.

"No caso da Fabiane, não tinha nenhuma sequestradora sendo procurada. Alguém mudou de graça um retrato, e ao chegar em uma praça, alguém reconheceu a mulher porque tinha visto aquela foto no Facebook. E aí começam a dizer tem uma sequestradora ali e acontece aquele fenômeno da multidão, né? Aquilo vira um rastilho de pólvora. A pobre moça foi linchada", disse.

Depois de oito anos da tragédia, a família da vítima processa o Facebook e pede uma indenização de R$ 36 milhões à rede social. No entanto, eles perderam nas duas primeiras instâncias e aguardam julgamento do caso no STF (Superior Tribunal Federal).

Em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, no último domingo (9), Yasmin, filha mais velha de Fabiane, apresentou sua expectativa em relação à protagonista de "Travessia".

"Só espero, sinceramente, que o final dessa personagem seja diferente da minha mãe, que ela consiga fazer justiça, ela consiga ter um final feliz junto com a família dela, né?", disse a jovem, que tinha 13 anos quando a mãe foi assassinada.

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