'Bom dia, Verônica': Raphael Montes conta desafios na produção da 2ª temporada e explica a origem do nome da série

A segunda temporada da série 'Bom dia, Verônica' da Netflix, inspirada no livro de mesmo nome dos autores Raphael Montes e Llana Casoy, estreou na plataforma dia 3 de agosto e já é sucesso mundial. 

Desde sua estreia, a produção acumula cerca de 34.440.000 horas assistidas, de acordo com dados da Netflix e entrou para o Top 10 Mundial do streaming, alcançando o quarto lugar entre os títulos mais assistidos. 

Em entrevista exclusiva ao Diário de S. Paulo, o escritor e roteirista Raphael Montes contou detalhes sobre a produção desta nova temporada e quais foram os desafios encontrados no decorrer do caminho. Além de compartilhar como foi a experiência de passar para autor de livros best-sellers à roteirista de cinema e séries de TV.

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Raphael declara não ficar nervoso em véspera de estreia, pois tem muita confiança no trabalho que faz e que, junto com a equipe toda, deu tudo que pôde, mas frisa a importância do diálogo com o público.

"É um misto de realização e de ansiedade para que as pessoas vejam. Eu gosto muito desse diálogo com o público, por isso eu acho que gosto tanto do audiovisual", confessa o escritor.

Mesmo assim, Raphael não nega o desafio que é fazer uma continuação de um projeto já tão aclamado.

"O desafio era encontrar uma nova história que tivesse tanta força quanto a primeira. A gente tinha que manter esse compromisso com a densidade e com a pertinência das discussões [que a série levantou]. Mas ao mesmo tempo é entretenimento, então, tem que ser uma história com muitas viradas e surpresas. Encontrar esse novo equilíbrio foi muito desafiador", explica.

Raphael escreveu o livro 'Bom Dia, Verônica' em conjunto com a criminóloga Ilana Casoy, sob o pseudônimo de Andrea Killmore. A obra conta a história da policial Verônica Torres que descobre um esquema de corrupção no sistema policial ao investigar um predador sexual.

O escritor conta que teve muita liberdade durante a produção da sériee participou de todo o desenvolvimento, além de escrever o roteiro. O processo trouxe muita aprendizagem para Raphael, que conta ter amadurecido como produtor para fazer a segunda temporada.

"Tudo precisa se conectar para as coisas funcionarem. Essa visão eu ganhei muito claramente no processo da primeira temporada. Na segunda temporada, já desde o início, a gente construiu um roteiro mais reproduzível, mais fácil".

Além disso, todo escritor que tem seu livro adaptado para as telas têm o desafio de traduzir toda uma linguagem para o mundo do audiovisual. O escritor ressalta a importância de mudanças na história para que a alma da trama continue viva e o público ainda sinta o "quentinho no coração", como ele mesmo disse.

"O livro e a série são diferentes entre si, e eu acho isso bom. Agora estamos vivendo a situação oposta porque o segundo livro vai complementar a série", comenta. 

Ilana Casoy e Raphael Montes estão atualmente trabalhando no segundo livro da história, 'Boa Tarde, Verônica'. O escritor revelou ao Diário de S. Paulo por cima o que esperar dessa continuação e se as histórias entre série e livro seguirão caminhos diferentes ou continuarão conectadas.

"A gente não sabe. A nossa ideia é que o vilão do próximo livro seja o Matias, mas um universo que exploramos pouco na série é o orfanato, pretendemos explorar um pouco mais na versão literária", revela Raphael.

O vilão Matias foi uma figura importante para a nova etapa na história de Verônica, revelando um personagem complexo e profundo, interpretado por Reynaldo Gianecchini - que segundo Raphael, amou o personagem por suas nuances e cenas desafiadoras.

"A gente tinha muitas referências de líderes religiosos para o Matias, mas não vinculamos o personagem a nenhuma religião, pois o problema não é a religião, e sim as figuras de poder que usam a fé das pessoas. É um personagem delicioso de se escrever", explica o escritor.

Raphael ainda recomenda que todos assistam a temporada mais uma vez, porém reparando melhor no comportamento de Matias.

O escritor diz ter colocado diversas pistas que já anunciam quem Matias revelará ser no final da temporada. "Foi muito legal construir isso, eu amo criar esse quebra-cabeça e ir dando pistas".

Falando em personagens cheios de nuances, a segunda temporada da série trouxe um show de atuação da atriz Tainá Müller, intérprete de Verônica, que traz para a continuação uma mulher mais endurecida pela vida, após terminar a primeira temporada forjando a própria morte e determinada a desmascarar todo o esquema de corrupção.

"A gente tem uma Veronica muito mais endurecida pela vida. O debate é muito sobre como se faz justiça, não é com as próprias mãos, como ela quase ousa fazer no final da primeira, mas também não é dentro do sistema apagada e silenciada como ela tava no começo da primeira temporada", relembra.

Segundo Raphael, a personagem se encontra em uma corda bamba. "Além disso, ela ainda tem princípios muito arranhados, justiça, ser correta, a figura do pai. Ela vai entendendo que nem tudo é tão evidente, perdendo as próprias referências", reflete Raphael.

Acima de tudo, 'Bom Dia, Verônica' é uma história sobre mulheres. Mulheres que vivem no mundo dos homens, e despertam para tal sistema. Raphael Montes explica que é exatamente dessa premissa que surge o nome da série.

"A ideia é que a cada livro e temporada, a Verô investigue um caso e ele a transforma. 'Bom dia' vem justamente porque a Verô no início da primeira temporada vive uma vida adormecida. Ela desperta para os defeitos do sistema e a invisibilidade da mulher. Ela vive uma jornada de vários despertares. Todas as mulheres da série também despertam para a situação de violência em que vivem", completa o roteirista.

Raphael finaliza dizendo que ainda é muito cedo para falar sobre uma terceira temporada, mas que se a boa repercussão da série continuar com o público, em breve veremos mais despertares de Verônica Torres nas telas. Assista ao trailer.