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Consumo

Ceia de Natal mais cara em 2022: saiba o motivo e como economizar na hora das compras

Estudo mostra os alimentos que ficaram mais baratos e mais caros nesta temporada

Levantamento indica que algumas carnes típicas do Natal podem ficar mais baratas - Imagem: Freepik
Levantamento indica que algumas carnes típicas do Natal podem ficar mais baratas - Imagem: Freepik

Mateus Omena Publicado em 17/12/2022, às 14h30


O Natal é uma das celebrações mais amadas pelos brasileiros, mas neste ano, a ceia em família será impactada pela alta dos preços dos alimentos, levando muitos consumidores a gastar mais do que o esperado ou a fazer cortes de itens importantes.

De acordo com um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), divulgado em novembro, a ceia de Natal de 2022 será 16,2% mais cara, em comparação com dezembro do ano passado, em razão da alta registrada nos preços dos itens alimentícios da data comemorativa.

Dados do IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que a inflação de alimentação e bebidas supera 9% em 2022. Em setembro, o grupo alimentação e bebidas até recuou 0,51% no índice.

Por que os alimentos estão caros?

Em entrevista ao Diário de S.Paulo, Antonio Van Moorsel, economista e estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, detalhou os motivos que levaram ao cenário de encarecimento dos alimentos, especialmente nas festas de fim de ano.

Para ele, existem fatores domésticos e globais que atingem o bolso dos brasileiros de diferentes maneiras.

"Lá fora, há a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que pressionou a inflação. Cerca de 20 milhões de toneladas de grãos ucranianos não foram exportados desde fevereiro, quando o conflito começou, e esse trigo é um recurso muito importante para a produção de alimentos no mundo. Dessa maneira, a oferta se tornou menor que a demanda e os preços subiram”.

Em relação aos problemas do Brasil, Van Moorsel apontou para certos desafios no setor do agronegócio, que também impulsionam o aumento dos preços dos alimentos.

“Hoje em dia, o agronegócio está muito conectado com o mercado mundial. Então quando os preços lá fora sobem, os preços internos também são afetados, pois o agricultor nacional pode vender a sua produção aqui ou exportar. Se o preço no exterior está acima do preço doméstico, naturalmente é mais vantajoso para o empresário do agronegócio vender o seu produto para fora, ao invés de vendê-lo aqui. Por isso, os produtos se tornam mais caros para nós”.

Por outro lado, o especialista reforçou que a taxa cambial também se mostra como a vilã no custo dos alimentos. Segundo ele, o aumento do valor do dólar em relação ao real incentiva a exportação de produtos brasileiros, mas reduz a oferta de mercadorias no país.

“Os produtos vendidos no mercado nacional acabam ficando mais escassos. Por isso, tendemos a importar mais itens para suprir a demanda, já que a nossa oferta doméstica é reduzida. No entanto, ficamos reféns da variação cambial, deixando os produtos mais caros ao consumidor final”.

Outro ponto levantado por Van Moorsel é o impacto das mudanças climáticas no mercado e na produção de alimentos no planeta, que contribui para o encarecimento de muitos itens.

“Esses fenômenos prejudicam as safras, tanto em qualidade, quanto em quantidade. O exemplo mais recente é o furacão Ian, que provocou sérios danos no estado americano da Flórida, que é um importante produtor de cítricos, especialmente as laranjas. Para os brasileiros, que consomem muito o suco fabricado nos Estados Unidos, foi sentida uma forte alta no valor cobrado nos mercados”.

A situação tende a piorar?

Para Marcelo Neri, doutor em economia e Diretor do FGV Social, da Fundação Getúlio Vargas, ainda é difícil definir o cenário inflacionário para 2023.

De acordo com o especialista, existem diversas variáveis que atormentam o mercado interno e global, como o prolongamento da Guerra na Ucrânia, novos casos de covid-19 no Brasil e na China, além das ações do próximo governo, que será chefiado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“São fatores que prejudicam diversos players e setores na economia. Há um cenário de preocupação para 2023 porque muitas coisas ainda vão acontecer, mas não existem indícios de queda na inflação, por enquanto”, declarou. “Mesmo assim, há oportunidade também para melhores resultados no fluxo de alimentos, principalmente se as negociações de paz na Ucrânia forem bem sucedidas, o que pode ajudar a trazer certa estabilidade ao mercado”.

O que fica mais caro e mais barato nesse período?

Marcelo Neri teme que nesse contexto de encarecimento de muitos produtos, as populações pobres são as mais penalizadas. Muitas delas enfrentam a fome ou a insegurança alimentar. Enquanto aqueles que dispõe de um poder aquisitivo um pouco maior enfrentam dificuldades para não estourar o orçamento na hora das compras.

“Há uma estimativa de 10% da inflação sobre a cesta de natal, segundo a associação brasileira de supermercados. Mas, o momento de incertezas é ameaçador aos grupos mais pobres, que se sentem desprotegidos e dispõem de menos mecanismos para se defender das incertezas da economia”.

Levando em conta a necessidade de reduzir gastos no período do Natal, o levantamento da UFJF indicou os alimentos que costumam fazer parte da ceia que ficarão mais caros.

Neste mês, a maionese, por exemplo, deverá ter uma alta de aproximadamente 30% na comparação com dezembro do ano passado. Em seguida, aparece a batata inglesa, em 28,5% e a farinha de mandioca, com 26,6% de aumento. O preço das aves, em média, deverá ficar 5% mais caro no mesmo período. E no grupo das bebidas, a água e o refrigerante podem registar alta de 12,4%.

Em contrapartida, a carne de porco e o arroz devem registrar uma queda no custo de 3% e 4,6%, respectivamente.

Para Antonio Van Moorsel, as sobremesas de Natal neste ano podem trazer um sabor amargo aos consumidores pelo encarecimento de ingredientes essenciais. “Os principais itens que compõem a maioria das sobremesas sofreram altas expressivas. O leite condensado, por exemplo, vai ficar 33% mais caro. Já a manteiga pode chegar a 23%. E o açúcar em 6%”.

Por outro lado, o economista revelou que, entre os alimentos salgados, alguns podem ter preços mais baixos e que podem surpreender os consumidores.

“As aves natalinas e o bacalhau podem ficar mais baratos, com preços mais favoráveis. As carnes bovinas, cujos valores foram bastante pressionados ao longo de 2022, também apresentaram algum alívio nos últimos meses, o que pode atrair os compradores. Além de lombo e outros peixes que devem predominar nas ceias de natal”.

Como economizar neste Natal?

À pedido do Diário de S.Paulo, os especialistas consultados apresentaram dicas para os consumidores economizarem na hora das compras, sem abrir mão de fazer uma boa ceia neste Natal.

  1. Planejamento e antecipação: segundo Marcelo Neri, é importante não deixar as compras para a última hora, fazer uma lista dos produtos essenciais e procurar por eles dias antes da véspera de Natal.
  2. Flexibilidade: o economista da FGV indica que os consumidores estejam dispostos a deixar de lado marcas de alto valor, por outras com preços baixos, mas com ótima qualidade. Com o objetivo de aliviar os custos.
  3. Pesquisar bastante: para Antonio Van Moorsel, os consumidores precisam ter em mente os locais adequados para a aquisição dos alimentos, de acordo com suas expectativas e poder de compra. Por isso é necessário consultar e se informar sobre fornecedores diversos, como mercados, armazéns e produtores, e priorizar os itens que tiveram maior alívio nos últimos meses.
  4. Gastar a sola do sapato: o executivo da Acqua Vero Investimentos recomenda que as pessoas busquem lojas, mercados e supermercados diferentes, porque esses estabelecimentos tendem a apresentar preços distintos, por conta das condições de negociação.
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