Diário de São Paulo
Siga-nos
DÓLAR

Dólar atinge maior valor em dois anos após falas de Lula

Alta do dólar vem acompanhada de preocupações com a inflação e críticas às políticas do Banco Central

Cédulas de dólar - Imagem: Reprodução / Freepik
Cédulas de dólar - Imagem: Reprodução / Freepik

Sabrina Oliveira Publicado em 27/06/2024, às 08h50


O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (25), atingindo R$5,51, o maior patamar em mais de dois anos. A moeda norte-americana registrou uma valorização de 1,20%, alcançando o nível mais alto desde janeiro de 2022. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa, também encerrou o dia em alta de 0,25%, atingindo 122.641 pontos.

O mercado reagiu a vários fatores, incluindo a divulgação dos novos dados da prévia da inflação brasileira. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) apresentou uma alta de 0,39% em junho, abaixo das expectativas do mercado financeiro, mas com preocupações quanto ao aumento nos preços de alimentos e serviços essenciais.

Além disso, uma recente entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) gerou repercussões significativas. Lula voltou a criticar as decisões de juros do Banco Central e relativizou a necessidade de cortar gastos públicos, o que trouxe incertezas adicionais ao mercado. Essas declarações foram seguidas pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que mostrou um tom mais cauteloso sobre a condução da taxa básica de juros, a Selic, em meio às incertezas econômicas globais e domésticas.

O cenário externo também contribuiu para a alta do dólar. Uma diretora do Federal Reserve (Fed) afirmou que os juros americanos devem permanecer altos por mais tempo, reforçando a percepção de um cenário global de juros elevados. O mercado aguarda ansiosamente os dados de inflação dos Estados Unidos, previstos para serem divulgados na sexta-feira, para obter mais clareza sobre a direção futura da política monetária americana.

No Brasil, o dólar acumulou um avanço de 1,43% na semana, 5,14% no mês e 13,73% no ano. No dia anterior, a moeda norte-americana já havia avançado 1,16%, sendo cotada a R$5,45. Por outro lado, o Ibovespa acumulou alta de 1,07% na semana, ganhos de 0,44% no mês e perdas de 8,60% no ano.

O índice IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial do país, foi puxado principalmente pela alta de 0,98% no grupo de alimentação e bebidas. Segundo Leonardo Costa, economista do ASA, as enchentes no Rio Grande do Sul impactaram significativamente os preços de itens in natura e leite. Em 12 meses, o IPCA-15 acumulou uma alta de 4,06%, acima dos 3,70% observados no período anterior.

Maykon Douglas, economista da Highpar, destacou que os preços de serviços subjacentes, importantes para a política monetária, se aceleraram mais do que o esperado, o que mantém a atenção do mercado voltada para a inflação. Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, comentou que a inflação segue alta e o dólar forte contribui para a pressão inflacionária.

Durante a entrevista ao portal Uol, Lula criticou novamente a condução dos juros pelo Banco Central e mencionou que o próximo presidente da instituição deverá focar nos interesses do Brasil, não do mercado. Ele também comentou sobre a análise dos cortes de gastos públicos, destacando que não pretende mexer no salário mínimo ou benefícios sociais.

A divulgação da ata da última reunião do Copom indicou que o comitê decidiu manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, após sete reduções consecutivas, justificando a decisão pela necessidade de controlar a inflação. Lula criticou a decisão, argumentando que a taxa de juros poderia ser menor dado o atual cenário inflacionário.

A reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) também foi um ponto de atenção para o mercado, com a decisão de manter a meta de inflação em 3%, mas alterando o sistema para uma "meta contínua", permitindo ao Banco Central mais flexibilidade na condução da política monetária.

No exterior, a declaração de Michelle Bowman, diretora do Federal Reserve, sobre a necessidade de manter os juros americanos elevados por mais tempo, também influenciou o mercado. Juros mais altos nos Estados Unidos tornam os mercados emergentes, como o Brasil, menos atrativos para investidores.

O mercado agora aguarda a divulgação do índice PCE, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve, que será divulgado na sexta-feira, para confirmar as expectativas de política monetária dos Estados Unidos.

Compartilhe