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AUXÍLIO BRASIL

Auxílio Brasil não está chegando a famílias em extrema pobreza

Segundo economista Zeina Latif, programa do governo federal abandonou premissas do Bolsa Família e do Bolsa Escola, que faziam diferenciação do valor do benefício pago às famílias de acordo com número de filhos

Secom/GESP - Imagem: Secom/GESP
Secom/GESP - Imagem: Secom/GESP

G1 Publicado em 14/07/2022, às 07h44


Atual secretária de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo, a economista Zeina Latif afirmou nesta quarta-feira (13) que o dinheiro do programa Auxílio Brasil, do governo federal, não tem chegado às famílias mais necessitadas.

Segundo Latif, o atual modelo de transferência de renda usado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) não tem contribuído de forma sistemática para a redução da pobreza extrema por ter abandonado o modelo de diferenciação de famílias carentes que já era usado por outros programas que vieram anteriormente, como o Bolsa Família(governos Lula, Dilma e Temer) e Bolsa Escola (governo Fernando Henrique Cardoso).

“Quando veio a pandemia, tinha que fazer a transferência de renda e teve todo o esforço de encontrar aquilo que o ministro [Paulo] Guedes disse dos ‘invisíveis’. Mas houve falha na focalização no sentido de, de fato, chegar o benefício para quem precisava realmente”, explicou.

“Teve gente que recebeu e não deveria ter recebido. Quando você olha os números da economia de 2020, teve uma queda muito forte da inadimplência. Eu achava que inadimplência iria aumentar por causa da pandemia. E não. Porque muita gente se beneficiou de um programa que não era para elas. O problema é que não houve essa correção de rumos. É natural, na emergência, você ter que fazer e pronto, mas faltou uma correção de rumo”, afirmou a secretária.

Na visão da economista, o aumento do Auxílio Brasilde R$ 400 para R$ 600 até dezembro, que está sendo discutido na Câmara dos Deputados através da chamada 'Pec Kamikaze' , deve ter baixo efeito prático na redução da fome e da pobreza extrema no país justamente por causa do abandono das premissas dos programas anteriores.

“A gente olha agora o desenho do Auxílio Brasil, o que os especialistas estão falando: você está fazendo uma transferência de renda, que é um valor fixo, qualquer que seja o tamanho das famílias. Temos um problema de focalização aqui. O que alguns especialistas estão apontando é que tem famílias que estão se dividindo para pegar dois benefícios”, declarou.

“Como é possível um programa como o Auxílio Brasil, que o orçamento é muito maior que o ‘Bolsa Família, e o mercado de trabalho voltou ao patamar pré-crise de uma forma geral, e como pode a pobreza ter aumentado? Como é que se chega a essa equação? Uma parte é a inflação, que está sendo muito perversa. E a outra é porque a gente está falhando na focalização. É muito recurso que não está garantindo para quem precisa na sua necessidade”, declarou.

Latif afirma que o programa do governo federal tem falhas e todas as esferas do Poder Público precisam trabalhar para garantir que os recursos cheguem a quem realmente está em situação de absoluta miséria.

“Quando houve lá atrás o anúncio do Auxílio Brasil, tinha uma abertura para que se diferenciasse [o valor do benefício] por número de filhos. E isso no final não saiu. Perdeu-se isso. Tem hora que a gente tem que reconhecer que tem problemas e precisamos trabalhar para isso”, declarou.

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