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Consumo

Apesar da deflação, produtos da cesta básica ficam mais caros; entenda o motivo

Em julho, o grupo de alimentos e bebidas registrou alta de 1,30%

Alta dos preços dos alimentos ocorreu principalmente em produtos essenciais, o que penaliza as populações mais pobres - Imagem: Freepik
Alta dos preços dos alimentos ocorreu principalmente em produtos essenciais, o que penaliza as populações mais pobres - Imagem: Freepik

Mateus Omena Publicado em 10/08/2022, às 11h47


Os resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgaram na terça-feira (9) a primeira deflação do Brasil em mais de dois anos. No entanto, o fenômeno, puxado pelos preços dos combustíveis e energia, não evitou mais uma aceleração dos preços dos alimentos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os 13 itens da cesta básica, 12 tiveram alta nos custos em 12 meses do indicador de preços.

O cenário é desanimador para os consumidores, pois o encarecimento percebido no levantamento atinge principalmente os produtos essenciais. A situação também penaliza ainda mais as camadas pobres da população.

O panorama também mostra o quanto a alta dos preços dos alimentos pode representar uma ameaça para muitas pessoas, enquanto para outras o efeito não é tão nocivo. De acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar, divulgada pelo IBGE em 2019, as famílias que ganhavam até R$ 1,9 mil gastavam mais de um quinto (22%) de sua renda com alimentação. Já entre as pessoas com a renda mais alta, os gastos com comida representavam 7,6% do orçamento.

O alcance da deflação

O grupo de alimentação e bebidas teve o maior impacto de alta nos preços: 1,30% de alta em julho, que representou 0,28 ponto percentual do IPCA final.

Em entrevista ao G1, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, indica que em 2022 a alta dos alimentos pode chegar a 14,2%.

"A guerra da Ucrânia trouxe um novo desarranjo para as cadeias logísticas, o dólar continua muito alto e favorecendo exportações, e mais uma vez houve questões climáticas que prejudicaram as safras”, explicou. "Esse alívio da gasolina beneficiou mais a classe média. Mesmo o diesel ainda não recuou e não barateou os fretes. As famílias para as quais a alimentação pesa muito continuam penalizadas".

A deflação até agora trouxe reduções para os grupos de Transportes (-4,51%) e de Habitação (-1,05%). Apenas o primeiro grupo foi responsável por derrubar o IPCA em 1 ponto percentual.

Apenas a gasolina provocou uma queda de 1,04 ponto percentual no IPCA, resultado da instauração de um teto para as alíquotas de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e de reduções de preços nas refinarias definidos pela Petrobras.

A energia elétrica residencial (-0,24 ponto percentual no IPCA) também foi impactada pelo recuo das tarifas para a bandeira verde e pela aprovação, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), das Revisões Tarifárias Extraordinárias de dez distribuidoras espalhadas pelo país.

Esses índices representem os resultados prévios da diminuição dos impostos em ano eleitoral, uma tática adotada pelo Governo Federal e pelo Congresso para aliviar a situação financeira de muitos cidadãos. Contudo, esses esforços para limitar os tributos sobre combustíveis, por exemplo, podem até conter a inflação em 2022, mas devem pressionar os preços em 2023.

Muitos economistas apontam que as medidas de contenção de preços podem comprometer as contas públicas e trazer mais insegurança ao mercado financeiro, caso o governo perca o controle de suas dívidas. Dessa maneira, o Brasil deixará de atrair investimentos, o real tenderá se desvalorizar e o crescimento econômico poderá despencar.

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