Marcus Vinícius De Freitas Publicado em 03/08/2022, às 08h54
Quando Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Deputados nos Estados Unidos e número dois na linha de sucessão presidencial, anunciou que retomaria a ideia de fazer uma visita a Taiwan – cancelada inicialmente após ter sido acometida de COVID-19 – ela basicamente colocou mais pressão num mundo que vive em estado de alerta desde 24 de fevereiro deste ano, quando a Guerra da Ucrânia começou. A atitude de Pelosi – que tem um histórico pouco amistoso com a China – descumpriu uma série de compromissos firmados pelos Estados Unidos para a retomada do relacionamento bilateral na década de 1970.
Naquele momento, em plena Guerra Fria, a aproximação era importante para reduzir a relevância da União Soviética. O posicionamento norte-americano desde aí, no entanto, tem sido, ambíguo e inconsistente. Por um lado, reconhece – sem endossar – a posição da China quanto à política de Uma Só China – e Taiwan sendo parte da China – porém mantém relações não oficiais com Taiwan e ainda lhe vende uma quantidade substancial de armamentos.
A partir dos anos 1990, a ideia de independência tem sido disseminada por alguns grupos em Taiwan. Após intensa negociação, o Consenso de 1992 reafirmou que ambos os lados – Tawian e a China Continental – constituem um único país e trabalhariam para a reunificação nacional. No entanto, a posição ambígua dos Estados Unidos fortalece os movimentos de independência e desestabiliza o processo de reunificação. A visita de Pelosi reveste-se de um manto de solidariedade para encobrir o verdadeiro interesse de frear o processo de ascensão global da China. Trata-se de um velho conceito, já há muito utilizado no Ocidente, de promover divisões internas para garantir o poder. É por essa razão que a China vê, com preocupação, esse tipo de movimentação. Além disso, ao fomentar a ideia de que a China invadiria Taiwan, cria-se uma instabilidade global que prejudica a recuperação da economia mundial.
É importante relembrar que Newt Gringrich, quando presidente da Câmara de Deputados, visitou a ilha em 1997. Apesar de Bill Clinton, democrata, ser o presidente norte-americano na ocasião, e a situação diferente da atual, a visita de Gringrich foi um erro. E agora, a visita de Pelosi é um erro ainda maior, pois ela e Biden pertencem ao mesmo partido, atuam em conjunto, e a visita dá a impressão de ser coordenada com a Casa Branca, contrariando os compromissos internacionais dos Estados Unidos. Isto é ruim, particularmente considerando que o relacionamento bilateral – China e Estados Unidos – vem-se agravando paulatinamente.
Obviamente que o governo tem adotado a linha de que Pelosi não faz parte da administração e que, como presidente da Câmara dos Deputados, tem independência para fazer o que quiser. No entanto, considerando a proximidade política com Biden e o fato de que ela é essencial para aprovar a agenda do governo atual, fica difícil de compreender Pelosi atuando isoladamente. Mas ela não está só. Muitos do Partido Republicano aprovam uma atitude desafiadora contra a China que, já há algum tempo, se transformou no bode expiatório da situação econômica e dos desacertos políticos que vem deteriorando o poder e relevância global do país.
É importante relembrar história de Taiwan: localizada a cem milhas da costa da China continental, Taiwan tem sido parte da China desde o século XVI. No entanto, em razão da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), o Japão assumiu o controle de Taiwan, que ocupou a ilha de 1895 a 1945. Com a derrota do Japão na Segunda Guerra, Taiwan retornou ao controle da República da China, então liderada pelo Partido Nacionalista Chinês (KMT), de Chiang Kai-shek. Quando os membros do Partido Comunista da China (PCCh) venceram a Guerra Civil Chinesa (1945-1949), o regime político liderado pelo KMT retirou-se para Taiwan e estabeleceu na ilha a base de resistência à liderança instalada em Beijing. É importante ressaltar que, ao estabelecer-se a República Popular da China em 1949, as autoridades de Taiwan adotaram três posicionamentos: (i) não reconheciam o governo da China continental; (ii) mantiveram o posicionamento de que Taiwan era parte da China e de que haveria uma só China, e (iii) opunham-se à ideia de duas Chinas e à independência de Taiwan.
A República Popular da China tem enfatizado, desde 1949, a unidade do país. Em seu processo de reinserção no sistema internacional, o princípio de “Uma Só China” foi reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas através da Resolução 2758, que lhe restaurou todos os direitos, inclusive o assento no Conselho de Segurança. Desde esse momento, o país tem solidificado o entendimento de que há um só país e que Taiwan é um assunto doméstico da China. Este princípio importante, reconhecido por 181 países, incluindo os Estados Unidos, com quem os chineses firmaram três comunicados diplomáticos reconhecendo o princípio.
No entanto, com o processo de ascensão global da China – cada vez mais assertiva globalmente – e o temor do declínio, os Estados Unidos passaram a adotar uma posição de contenção à China, criando instabilidades que visam enfraquecer o país asiático. Isto tem sido particularmente mais intenso no momento político atual e, particularmente, da provável recondução do atual presidente Xi Jinping a um terceiro mandato à frente do país. Trata-se, também, de uma tentativa norte-americana de interferir no processo político doméstico chinês.
O processo de conter a ascensão de uma potência emergente faz parte do jogo global de poder e das movimentações no tabuleiro da política internacional. No entanto, nas circunstâncias atuais em que a humanidade está à beira de uma ação nuclear, a visita de Pelosi é ainda mais inconveniente e provocativa.
Uma guerra entre China e Taiwan não interessa ao mundo. Se a pandemia da Covid-19 e a Guerra da Ucrânia já tiveram um enorme impacto global, uma instabilidade naquela região seria devastadora globalmente. O mundo, que depende da fábrica global da China, sofreria enormes consequências de desabastecimento e a maior parte dos países perderia o seu principal parceiro econômico. Pode ser que, em Washington, alguns tenham calculado este cenário caótico como importante para a reversão da ascensão da China, buscando dividir o país para criar um cenário de instabilidade e colapso. Trata-se de uma aposta e estratégia muito arriscada.
Sobre o autor
Professor Visitante, China Foreign Affairs University. Senior Fellow, Policy Center for the New South
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