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Sobre a esperança

Por Kleber Carrilho

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Redação Publicado em 30/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h14


Por Kleber Carrilho

Sobre a esperança

Depois de quase um ano sem pisar em terras brasileiras, cheguei aqui na última semana, para participar de eventos e falar sobre política. Mas, além dos compromissos, tenho ido ao supermercado, tomado café na padaria e conversado com as pessoas. Em todos os contatos, tenho notado ainda mais um grande sentimento de desesperança, às vezes beirando o desespero.

Então, temos que lembrar que tem algo essencial que movimenta a política: a esperança. Não importa quão racional seja uma conversa sobre o futuro da economia ou como um projeto político tem a capacidade de planejar ações estratégicas. O que faz com que as pessoas se movimentem, estruturem suas vidas e trabalhem com tranquilidade é a esperança por uma vida melhor do que a que se tem hoje.

É claro que muito da desesperança que tenho notado tem uma relação direta com a pandemia, a perda de pessoas e as incertezas sobre a vida, mas não me parece ser só isso. Quando juntamos as informações de pesquisas com aquilo que é possível ver nas ruas, entendemos que dá para sair da crise se houver a construção de um ambiente de esperança.

Por isso, talvez, o ex-presidente Lula tenha sido lembrado por tanta gente nas pesquisas de intenção de voto. Afinal, uma parte do eleitorado ainda deve associá-lo ao discurso da esperança, resultado de um posicionamento competentemente construído e comunicado a partir de 2002.

Sem que o atual presidente consiga fazer algo que sinalize uma estabilidade e uma possibilidade de que as pessoas possam ver um futuro mais claro, a raia está livre para Lula, ou para alguém que consiga, em um curto período, desenvolver algo que faça sentido na substituição do presidente.

Tem gente que acha que o Auxílio Brasil pode ainda salvar Bolsonaro. Até poderia, se ele fosse comunicado como conquista, como construção de algo que pode melhorar a vida e o futuro. Mas, pelo que tem sido mostrado até agora, a comunicação tem optado por dizer que ele vai estancar a sangria, repor o poder de compra, corrigir um ambiente de instabilidade extrema.

E, claro, dar dinheiro para as pessoas sem falar sobre o futuro não traz esperança, só mais incertezas.

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Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
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