Diário de São Paulo
Siga-nos

Sérgio Reis “toca o berrante” e se vê em palpos de aranha

Reinaldo Polito

Sérgio Reis “toca o berrante” e se vê em palpos de aranha
Sérgio Reis “toca o berrante” e se vê em palpos de aranha

Redação Publicado em 22/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h29


Reinaldo Polito

Sérgio Reis “toca o berrante” e se vê em palpos de aranha

Um dos vídeos e áudios que mais viralizaram nos últimos dias foram os do cantor Sérgio Reis convocando a população para participar das manifestações em Brasília no dia 7 de setembro. Na verdade, foi a gravação de uma conversa informal que acabou escapando de uma roda de amigos.

Se, de um lado, os bolsonaristas vibraram com a fala do ex-deputado por interpretar o anseio dos governistas, por outro, a mensagem provocou a indignação dos opositores. Como consequência, ele teve grande prejuízo com o cancelamento de contratos de shows e publicidade. Mesmo dizendo estar arrependido do que falou, e afirmando que não é puxa-saco do presidente, a oposição parece não estar disposta a perdoar.

Além da perda financeira, Sérgio Reis corre o risco de ser preso pelo que falou. Na última sexta-feira, dia 20, a Polícia Federal deflagrou uma operação de busca e apreensão em sua casa. Estão chegando perto. E dá para imaginar o que significa ir para a cadeia aos 81 anos de idade.

Eu me lembro de quando ministrei alguns cursos para os membros do Ministério Público na capital de um estado do Norte do país. O procurador-geral de justiça nos convidou para um jantar em sua casa. Coincidiu de eu me sentar ao lado do superintendente da Polícia Federal. Como ele se mostrou muito simpático e gentil, ousei levantar uma questão que sempre me intrigou: a proximidade da polícia com o crime não podia ser um risco para que esses profissionais atravessassem a fronteira e agissem na delinquência?

Ele me respondeu: professor, vou responder por mim. Eu morro de medo de ser preso. Só de pensar em ter de permanecer alguns dias sem liberdade chega a me dar pesadelos. Já vi alguns colegas que não resistiram e ultrapassaram essa linha da legalidade. Foram apanhados, julgados e condenados. Além da prisão, a vergonha que sentiram diante da esposa e dos filhos acabou sendo uma pena ainda mais rigorosa. Por isso, permaneço nos limites da lei.

Embora Sérgio Reis declare não ter medo de ser preso, ficar trancafiado, ainda mais na sua idade, não é perspectiva agradável para ninguém. Como disse o superintendente da Polícia Federal: chega a dar pesadelos. Quantos políticos que viviam empertigados, comportando-se até com certa soberba, choraram como criancinhas ao serem levados para a prisão.

Falar em qualquer ambiente passou a ser um grande problema nos dias atuais. Existe o risco permanente de ser gravado até nas situações mais informais, nas conversas com amigos e familiares. Quando a pessoa menos espera, aquilo que disse sem nenhuma censura, às vezes até sem sentir efetivamente o que externou, se transforma na causa de um inferno em sua vida.

Alguns também não medem as consequências de seus discursos. Defendem certas causas políticas de maneira apaixonada sem pensar que sua posição ideológica possa ser contrária àqueles com quem precisam se relacionar. Esse fenômeno tem acontecido tanto com quem se diz da esquerda como com os que se declaram da direita. Há pouco tempo a imprensa noticiou que o influencer Felipe Neto e a cantora Anitta reclamaram por estarem perdendo contratos importantes devido as causas antibolsonaristas que abraçaram.

Por isso surge o seguinte questionamento: quer dizer que é imposta uma espécie de lei da mordaça, e temos de aceitar? E a democracia? Sem dúvida, a Constituição defende de maneira clara a liberdade de expressão.

Nestes tempos difíceis em que vivemos, entretanto, em que os poderes buscam os limites de sua atuação, e os exemplos que nos cercam provocam dúvidas e apreensão, não custa nada pensar duas vezes antes de falar. O caso de Sérgio Reis é um bom exemplo para ser avaliado. Siga no Instagram @polito

Vamos acompanhar para ver o que ele tem na manga para substituir os motoqueiros.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

Compartilhe  

últimas notícias