Quem é o melhor orador do Brasil?

Por Reinaldo Polito

Quem é o melhor orador do Brasil?

Fica difícil dizer quem é o melhor orador do Brasil hoje por causa de preferências políticas e ideológicas. Normalmente quando analisamos a qualidade da comunicação de alguém destacamos um político, pois são eles que, de maneira geral, estão à nossa frente concedendo entrevistas e fazendo pronunciamentos. Por isso, ao mencionar este ou aquele orador dentro desse cenário, quem tiver resistência à sua forma de pensar tenderá a criticar também a sua maneira de se expressar. A saída seria mencionar religiosos, executivos ou palestrantes. Esses, entretanto, não são muito conhecidos pelo grande público.

Por isso, para encontrar um nome que possuísse comunicação exemplar e não provocasse resistências devido ao seu posicionamento político, resolvi me afastar no tempo e falar de alguém que pode ser considerado o melhor orador da nossa história, Joaquim Nabuco. 

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Antes de falar sobre a sua comunicação, um rápido currículo para conhecermos mais da sua vida. Nasceu em Recife no ano de 1849, e faleceu em Washington no ano de 1910. Foi diplomata, escritor, jurista, político, historiador, abolicionista e fundador da Academia Brasileira de Letras. 

Mas vamos ao orador. Como é possível afirmar que ele foi um excelente orador se nunca o vimos em ação? Quem nos ajuda nessa empreitada é Afonso Celso. No seu livro “Oito anos de parlamento”, ele descreve com detalhes os atributos oratórios de Nabuco. Seu relato é tão claro que temos a impressão de ver o grande abolicionista em uma tribuna encantando as plateias:

“A figura de Nabuco formava por si só o melhor dos exórdios. Bastava assomar à tribuna para empolgar a atenção e a simpatia. 

Muito alto, bem-proporcionado, a cabeça e o rosto de uma pureza de linhas escultural, olhos magníficos, expressão a um tempo meiga e viril, nobre conjunto de força e de graça, delicado gigante. Nabuco sobressaia em qualquer turba, tipo de eleição, desses que a natureza parece fabricar para modelo, com cuidado e amor”.

Nabuco era considerado um homem tão bonito que nos Estados Unidos as mulheres costumavam passar em frente à sua casa na esperança de poder vê-lo. Essa descrição do autor sobre a sua figura já nos possibilita vislumbrar suas características físicas. Vamos ver agora como Afonso Celso associa sua figura imponente ao conteúdo de seus discursos e a forma como se apresentava. Observe como os detalhes se juntam para formar o conjunto impressionante do orador:

“Nabuco, demais, sempre escolhia para tema assuntos levantados, problemas sociais, filosóficos e religiosos, de alcance universal. Fugia às polêmicas individuais, às intrigas da politiquice. Não se submetia à disciplina e às conveniências partidárias; desconhecia chefe. Acorria gente de todas as condições, numerosas senhoras para vê-lo e ouvi-lo. As galerias o aclamavam. Mal o presidente proferia a frase regimental: tem a palavra o senhor Joaquim Nabuco, corria um calafrio pela assistência excitada; eletrizava-se a atmosfera”.

Sua forma de se expressar era única e contagiante. Não fica dúvida de que nunca se viu um orador com a sua personalidade, eloquência e capacidade de persuasão. Como disse o autor, era um verdadeiro modelo:

“Mal descerrava os lábios, restaurava-se o silêncio. Nem era possível detê-lo. Continuasse o ruído e a portentosa voz, a vertiginosa dicção de Nabuco prestes o abafariam. As perorações, de ingente sopro lírico, eram cuidadosa e habilmente preparadas. Para aí a imagem mais pomposa, a declaração de maior alcance, o gesto mais teatral provocava estrepitosas ovações nas galerias. Sentava-se Nabuco, e, durante minutos, ficavam os trabalhos virtualmente suspensos, enquanto não se esvaeciam as ressonâncias de seus possantes e mágicos acentos, repercutidos no que a inteligência e o coração possuem de mais elevado e sensível”.

Pense nos oradores que você já viu em ação. Seria possível descrever algum deles com essa competência oratória atribuída a Nabuco? Eu, que profissionalmente tenho analisado discursos ao longo das últimas quatro décadas, já encontrei bons oradores, mas nenhum que se ombreasse a esse grande tribuno. Siga pelo Instagram @polito

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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]