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Os debates entre Lula e Bolsonaro serão imperdíveis

Os debates entre Lula e Bolsonaro serão imperdíveis - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Os debates entre Lula e Bolsonaro serão imperdíveis - Imagem: Reprodução | Redes Sociais

Reinaldo Polito Publicado em 07/08/2022, às 10h40


Quem é melhor nos debates, Lulaou Bolsonaro? Com esses dois no ringue, vamos assistir a uma verdadeira “briga de cachorro grande”. O mínimo que podemos esperar é que cheguem ao confronto com a faca nos dentes. E aí, sai ou não esse quebra-pau?

Embora não esteja nada confirmado, persistindo a polarização entre eles, há boas chances de que se confrontem. A tradição diz que, normalmente, quando um candidato está muito na frente nas pesquisas, não comparece aos debates. Se participasse só teria a perder, nunca a ganhar. Como dá a impressão de que um não se descolará muito do outro nas intenções de votos, é quase certo que aceitem se encarar.

Há mais um motivo para que o candidato não compareça, o receio de ser massacrado pelo oponente. Não querendo correr o risco de enfraquecer sua imagem e passar vergonha, daria uma desculpa qualquer, como questão de agenda, para não ir. Esse não é, pelo menos aparentemente, o caso de nenhum dos dois. 

Não temos histórico para análise. Não sei se fui incompetente nas pesquisas, mas não encontrei nenhuma foto com os dois adversários juntos. Parece mesmo que nunca se encontraram. As imagens em que estão um ao lado do outro são todas montagens.

E por que nunca estiveram frente a frente? Quando o petista surfava na política, gozando dos altos índices de popularidade, o seu oponente, como legítimo integrante do baixo clero, vivia pregando no deserto, diante do plenário vazio na Câmara dos Deputados.

Ao iniciar sua campanha às eleições de 2018, Bolsonaro fazia peregrinações solitárias pelo país, sem ter ninguém para recepcioná-lo nas cidades que visitava, principalmente no Nordeste. Sem dinheiro, sem mídia, dentro de um partido nanico, o PSL, sem coligações, e só com oito segundos de tempo de televisão durante a campanha. Contava apenas com as tias do zap.

O ex-presidente nem considerava aquele deputadozinho um adversário. Assim que mencionavam o nome dele, a reação daquele que curtia os favoráveis ares do poder era só de deboche.

Um vivia nas nuvens, literalmente, aproveitando a mordomia do AeroLula, enquanto o Capitão gastava sola de coturno em suas andanças quixotescas. Pois é, como estavam quase sempre a uma distância de uns 10 mil metros entre o céu e o inferno, só se viam por fotos. E olhe lá!

Depois que Lula foi para a prisão, as chances de se esbarrarem passou a ser praticamente zero. Até seus correligionários quando desejavam vê-lo precisavam viajar até Curitiba para encontrá-lo nas dependências da Polícia Federal.

Hoje a situação é outra. Alegando equívoco de local para o julgamento do ex-presidente, o STF (Supremo Tribunal Federal) anulou as condenações. Disseram que ele precisaria ser julgado, desde o início, em outra cidade, não na capital paranaense. E com essa descondenação o Supremo retirou sua inelegibilidade, permitindo que concorresse novamente ao cargo de presidente.

Embora Lula esteja à frente nas pesquisas, suas raras aparições públicas demonstram que aparentemente perdeu muito do seu encanto popular. Se de um lado o candidato do PL carrega multidões por onde passa, o petista lembra mais o antigo Bolsonaro desacompanhado, acenando para quase ninguém.

É nesse clima que os dois deverão se encontrar. Conhecemos as características de cada um. Lula participa dos debates usando sua arma preferida que é o sarcasmo. Tenta assim desestabilizar os adversários. Os exemplos mais marcantes foram as contendas com Alckmin, hoje cerrando fileiras com ele como vice.

Nos momentos em que o ex-governador paulista fazia críticas mais contundentes, em vez de refutar com argumentos, o candidato petista debochava: Alckmin, você não é desse jeito. Você nunca teve esse tipo de comportamento agressivo. E o tema do debate passava ao largo. Não que não saiba ser veemente quando precisa. Essa atitude mais dura, entretanto, é adotada especialmente nos discursos diante do seu público cativo, para inflamar os seguidores.

Bolsonaro é briguento. Nas últimas eleições diziam que ele fugia dos debates porque seria trucidado. Mesmo internado no hospital por causa da facada, alguns desafetos chegaram a afirmar que ele estava usando aquele momento como desculpa só para não participar.

Os que não acreditavam em sua competência para debater com as feras se surpreenderam. Diziam: no programa Roda Viva ele será massacrado pelos entrevistadores. Foi e venceu cada um deles com suas respostas. Ah, quando ele for na Globo, ou na GloboNews vai apanhar tanto que talvez até desista de continuar concorrendo. Foi. E se saiu tão bem que em alguns casos até ridicularizou quem o pressionava. Em vez de sabatiná-lo nas questões econômicas, seu flanco vulnerável, quiseram agredi-lo nos aspectos comportamentais. Nessa praia ele nada de braçada.

Talvez não tenhamos visto na história política brasileira dois concorrentes à presidência em posições tão antagônicas como esses dois. Se eles vierem mesmo a se enfrentar, teremos oportunidade de presenciar, provavelmente, debates inesquecíveis. Assim como ocorreu na disputa entre Collor e Lula, também desta vez a diferença entre a vitória e a derrota nas eleições poderá estar primordialmente no desempenho que terão nesses confrontos. Siga pelo Instagram: @polito

Sobre o autor

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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