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Para evitar novas crises hídricas, é preciso olhar para o futuro e aprender com o passado

Por Deputada Estadual Marina Helou

Para evitar novas crises hídricas, é preciso olhar para o futuro e aprender com o passado
Para evitar novas crises hídricas, é preciso olhar para o futuro e aprender com o passado

Redação Publicado em 18/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h47


Por Deputada Estadual Marina Helou


A população de São Paulo certamente ainda tem na memória os problemas que enfrentou em 2014, quando o Estado viveu uma das piores crises hídricas de sua história, o que afetou nossas vidas, atividades sociais e econômicas. Quase sete anos depois,  a realidade mostra que nada aprendemos com o sofrimento do passado: em todo esse tempo, houve pouquíssimo  investimento na área e, por consequência, continuamos com nossos rios e represas poluídos, altos níveis de perda de água e de consumo excessivo em atividades econômicas. A produção agrícola extensiva, por exemplo, segue utilizando técnicas que levam a índices elevados de consumo, enquanto parte da indústria já se modernizou a ponto de reduzi-lo.

Diante de tal cenário, agravado pelas mudanças do clima e o desmatamento da Amazônia (que afeta a circulação das massas de ar úmidas e diminui a chegada de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste), o risco de uma nova crise hídrica é real. E, desta vez, convivemos com uma situação ainda mais alarmante: estamos em meio à uma crise sanitária sem precedentes em nosso País, que já causou a perda de quase 570 mil vidas. Como será, possível, então, convivermos com a falta de água para consumo e higiene da população?

Os reflexos de uma crise hídrica, vale lembrar, são geração de energia afetada, conta de luz e produtos subindo de preço, além de um possível racionamento de energia. Mas o que preocupa, de fato, é o desabastecimento público, que pode afetar ainda mais a vida das famílias que moram em áreas vulneráveis, grandemente impactadas pela pandemia.

O acesso à água é direito humano básico e incontestável, como já definiu a ONU. A legislação brasileira, no entanto, é falha ao estabelecer o uso múltiplo das águas – ou seja, que a mesma água deve servir para ser utilizada no abastecimento público, produção de insumos e serviços. Isso porque, em situação de contingência e emergência, garantir que a água chegue na torneira das pessoas deve ser prioridade absoluta.

Outro ponto importante a ser destacado é que, apesar de o Brasil ser privilegiado quanto à quantidade de seus mananciais – mais de 12% de toda água doce existente no planeta está aqui em nosso território -, a situação do País não é confortável. E o motivo disso é que a distribuição dos nossos mananciais não é favorável: a maioria das capitais e grandes cidades brasileiras está próxima ao mar e os grandes rios cortam as regiões Norte (rios Amazonas, Negro, Tapajós, Araguaia) e Nordeste (rios São Francisco e Jequitinhonha), menos populosas. No Sudeste, região mais populosa do País, os rios são pequenos, pois as cidades estão perto das nascentes.

Para piorar esse cenário, a qualidade de nossas águas está ruim. Nossos mananciais estão poluídos por esgotos não tratados e outros poluentes lançados no solo e nas águas. Além disso, existe o alto nível de desperdício de água: segundo dados do Instituto Trata Brasil, o País perde, em média, 37% da água no caminho entre a captação, o tratamento e a distribuição para os usuários. Essa perda gera um custo de cerca de R$ 8 bilhões, segundo os organismos de financiamento em saneamento.

O que devemos fazer, então? Primeiro, promover uma nova cultura da água. Nós, em nossas casas, devemos economizar. Mas podemos e devemos fazer muito mais. Devemos estar em alerta e cobrar, dos maiores consumidores, que também adotem soluções e tecnologias para redução do consumo e desperdício. Precisamos, ainda, nos esforçar para criar mecanismos positivos de conservação ambiental, incluindo mecanismos econômico-financeiros que incentivem produtores e proprietários de imóveis rurais a protegerem as áreas que produzem água.

Temos que chegar, como sociedade, na conta equilibrada entre demanda e oferta. Isso quer dizer, na prática, reduzir sensivelmente o consumo, adotar técnicas de reuso das águas, despoluir rios e represas e reduzir consideravelmente as perdas físicas. Para isso, já existem estudos e utilização de técnicas muito eficazes: são as soluções baseadas na natureza. Nesse caso, cabe ao governo implementá-las e trazer a sustentabilidade enquanto pilar de todas as ações.

Mas o esforço tem que ser de todos, sem exceção, em busca de mudar e transformar a maneira como as pessoas, as empresas e os governos utilizam e conservam os recursos naturais, mantendo todo patrimônio e as condições naturais que o Brasil possui.

Só assim conseguiremos garantir o futuro que a gente deseja.

Marina Helou é Deputada Estadual pela Rede Sustentabilidade e coordenadora da Frente Parlamentar Ambientalista pela Defesa da Água e do Saneamento de SP na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo.

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