Do inimigo

Por Rodrigo Sayeg

Do inimigo

O tema da coluna dessa semana foi inspirado naquele ditado “agradar gregos e troianos”. Este ditado que possui sua origem na ilíada que retrata a guerra de Troia. O objetivo do ditado é falar como é difícil agradar lados antagônicos.

Estamos mais uma semana participando e acompanhando os horrores da Guerra na Ucrânia.

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Desde a coluna da semana passada, foram noticiadas novas investidas e bombardeios russos, assim como o adiamento das negociações de paz.

Maternidades, hospitais, bairros residenciais, nada nem ninguém está sendo poupado de presenciar os horrores da guerra, que, em menos de um mês, já tomou a vida de dezenas de milhares de pessoas, sendo que os civis ucranianos estão tendo que suportar a maior parte desta desgraça.

Assim, é natural nós buscarmos um vilão, um inimigo, aquele responsável pelo sofrimento de milhões. Aliás, como falado na coluna da semana passada, estamos presenciando uma guerra que mata milhares e viola a dignidade de milhões, tudo para perpetuar uma guerra fria que deveria ter acabado com o muro de Berlim.

Porém, temos que tomar cuidado quando formos expressar nossa indignação em face do que estamos a presenciar, justamente para não atingir aqueles que não merecem. Um exemplo,  curiosamente é no mundo gastronômico.

Conforme noticiado, inúmeros restaurantes estariam “cancelando a Rússia” alterando seus cardápios, como por exemplo Bar da Dona Onça, no Centro de São Paulo retirar o strognoff em “repúdio à guerra e ao governo russo”, assim como a mudança da tradicional bebida “Moscou “Mule” para “Kiev Mule”.

Percebe-se a nítida boa intenção desses estabelecimentos, fazendo manifestações e protestos não violentos, repudiando corretamente o avanço de uma guerra injusta em face do povo. Ocorre que, com todo o respeito, tais atos não estão atingindo os alvos necessários.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – ABRASEL, inclusive se manifestou no sentido de que “a ideia de apagar receita e ingrediente russo do cardápio pode até ter boa intenção, mas em nada contribui para as vítimas da guerra e ainda fomenta xenofobia contra o povo russo”.

E de fato, a presente guerra é movida por um Chefe de Estado visando a perpetuação de uma guerra fria com o ocidente que já deveria ter acabado, não por seu povo, que inclusive, está lutando contra este injusto ato de agressão.

Inclusive, em reportagem da CNN, foi informado que a CIA (Central de Inteligência dos Estados Unidos) estima que até 14 mil russos foram presos por protestar contra a invasão na Ucrânia. Não bastasse, mas o povo russo também está sofrendo com a presente guerra, devido a alta inflação que completamente destruiu o valor de sua moeda, assim como pelo fato de vários de seus jovens estarem lutando e morrendo, sem motivo ou propósito, em uma guerra de agressão.

O povo russo, assim como sua cultura e tradições não são responsáveis pela guerra e portanto não podem ser os alvos de nossa retaliação.

O verdadeiro inimigo é a guerra em si, não o povo russo, que inclusive luta e resiste há anos contra as violações de sua dignidade. Assim, devemos focar em busca da paz e promover a convivência harmônica entre ucranianos e russos, especialmente em nosso solo nacional que se intitula, e com razão como o País de Todos.

Por isso, mais uma vez essa coluna insiste em sua súplica ao Presidente e seu brilhante staff do Itamaraty de colocar o Brasil na liderança e proativamente buscar a paz e convocar todas as nações a fazerem o mesmo, assim assumindo o posto de nossa nação como farol da humanidade.

Mas essa coluna também, vem pedir ao povo Brasileiro que mostre sua característica tolerância, já que, para o Brasil cumprir sua missão, não podemos continuar divididos e gerando o ódio à um povo que se vê refém dessa situação. Devemos apoiá-los e transformar o nosso Brasil como verdadeiramente o País de todos, um País que consegue conciliar Russos e Ucranianos.