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Carta para eles

Por Fernanda Trigueiro*

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 11/03/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h24


Por Fernanda Trigueiro*

Carta para eles

Não merece mais manchete, eu sei. Já faz uma semana que o caso veio à tona, mas não poderia deixar de comentar. Tentando achar o lado positivo do absurdo, nos deparamos com a oportunidade de falar e debater. Buscar a conscientização e o combate efetivo de uma violência que fere, humilha e mata mulheres de todo o mundo.

Será possível cruzar fronteiras para uma missão humanitária e ver diante daquele cenário de tristeza tanta maldade e malícia? Pode falar para a mamãe ou para os amigos do grupo, não importa. Falou está falado e agora “viralizado”.

Homens costumam se defender. Desta vez está difícil até para vocês tomarem partido. A situação envolveu vítimas de guerra, expôs mulheres sofridas que lutam para sobreviver. Personagens da vida real vistas e julgadas como objetos sexuais. Um olhar que chega a ser doentio.

Agora é tarde para se lamentar e pedir desculpas. Não há como justificar o injustificável. Há algum tempo políticos não nos representam. Agora me pergunto como os homens estão lidando com isso? Este cara é um de vocês? Este cara dá voz sobre o que é ser homem nos dias de hoje?

Não basta apenas “não” concordar com ele. Quem riu ou quem apenas se manteve calado deu força. Este tipo de comentário não deve ser permitido. Não deve ser feito nunca para ninguém e em nenhum lugar. Seja no futebol, na mesa do bar, no vestiário ou em casa.

Falando em casa, é de lá que vem a educação que falta. As novas famílias devem mostrar para seus meninos o outro lado. Criarem os pequenos falando sobre respeito e igualdade para que se tornem lá na frente homens de caráter. Verdadeiros grandes homens.

Dizer que é jovem, e por isso imaturo, piora a frustrada tentativa de se redimir. Cabe a nova geração buscar a mudança e a evolução. Abrir a mente, vestir a camisa contra os machistas e contra esta estrutura da sociedade que vitimiza mães, filhas e esposas. Se sustentar no papo de que a violência não deve acontecer, porque um dia a vítima pode ser alguém da sua família também não justifica. A mulher merece respeito pelo simples fato de ser mulher.

Homens, que vocês estejam envergonhados a ponto de não tolerarem mais ouvir conversas assim. Na luta por um mundo mais justo, sem violência doméstica, livre de abusos e feminicídio não é o machismo e nem o feminismo que precisam dar as regras. Cabe a cada entrar nesta guerra. A luta não é delas, esta luta tem que ser de todos.

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