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As diferenças da violência obstétrica e neonatal

Por Dra. Vanessa Mouawad*

As diferenças da violência obstétrica e neonatal
As diferenças da violência obstétrica e neonatal

Redação Publicado em 22/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h01


Por Dra. Vanessa Mouawad*

As diferenças da violência obstétrica e neonatal

O assunto violência obstétrica anda muito em alta. Cada vez mais mulheres tem informação sobre o direito a escolhas no momento de seu parto e sabem quando sofrem violência obstétrica. Ela se refere a procedimentos desnecessários ou não autorizados pela gestante. E pode incluir violência física ou psicológica, São exemplos de violência obstétrica impedir a parturiente de ter um acompanhante, uso rotineiro de ocitocina, cesárea sem consentimento da gestante ou sem indicação, manobra de “kristeller (que consiste em empurrar a barriga da gestante para baixo durante o parto), episiotomia sem necessidade.

A violência obstétrica se refere a gestante, parturiente ou puérpera. Já a violência neonatal faz referência ao atendimento ao recém-nascido. Você sabia que não é só a mãe que pode sofrer violência no parto? O bebê também pode sofrer com um mal atendimento.

Hoje em dia sabemos da importância de manter mãe e bebê juntos desde o nascimento, o máximo possível. Estimulamos que a “Golden hour”, que é a primeira hora de vida do bebê, seja feita grudadinha na mãe, amamentando em sala de parto, com clampeamento do cordão umbilical após pararem os batimentos e com o mínimo de invasão possível. Aqueles procedimentos que antigamente eram feitos de rotina, como aspiração do nariz e passagem da sonda pela boca do bebê para ver se o esôfago era pérvio, não deve mais ser feito. Já foi provado que isso causa um aumento na chance de o bebê esquecer de respirar, piora sua adaptação ao ambiente externo, além do risco de traumatizar o nariz e estômago. Apenas 1 a cada 10 bebês precisarão de ajuda para respirar ao nascer. Os outros 90% poderão ir direto para o colo da mãe ao sair do útero. Em muitas maternidades ainda levam o bebê para pesar, medir, fazer todos os procedimentos antes de mostrar para a mãe. Existem procedimentos a serem realizados no recém-nascido que podem esperar a Golden hour terminar. Por exemplo, realizar o colírio de nitrato de prata, que evita a conjuntivite neonatal, imediatamente após o nascimento é considerado uma violência. O bebê acabou de nascer, precisamos colocar o colírio imediatamente? Isso atrapalha o primeiro contato com a mãe pois os olhos do bebê estarão fechados após esse procedimento pois arde um pouco. Podemos aguardar a primeira hora. O bebê precisará de uma injeção contendo vitamina K que ajuda na prevenção da doença hemorrágica do RN, uma doença grave, mas que pode aguardar também a primeira hora de vida. A vacina contra hepatite B deve ser aplicada até 12 h após o nascimento e muitas maternidades aplicam imediatamente na sala de parto. Não há essa necessidade urgente.

Da mesma forma que a mãe deve ser acolhida com o atendimento dos seus desejos sobre o seu corpo e o parto, o bebê também merece ter um atendimento respeitoso, não violento e humanizado. E para quem puder escolher o seu pediatra para esse momento, o faça, pois, a chance de o bebê ter um atendimento ainda melhor é muito maior.

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*Dra. Vanessa Mouawad, pediatra neonatologista da Maternidade Pro Matre, Hospital Albert Einstein e Hospital São Luiz
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