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Violência contra a mulher em dados

Violência contra a mulher em dados - Imagem: Reprodução | Twitter - Paulo Pinto
Violência contra a mulher em dados - Imagem: Reprodução | Twitter - Paulo Pinto
Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 27/06/2023, às 06h15


Triste é o país em que a violência contra a mulher é normalizada. No caso brasileiro, a situação é ainda mais grave: além de vistas com naturalidade machista, as agressões às mulheres alcançam percentuais estratosféricos, como revelou a quarta edição da ampla pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em 2022, mais de 18 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no Brasil - 50 mil por dia. Trata-se da nada menos que 33,6% das mulheres brasileiras com mais de 16 anos, 65,6% das quais são negras. Somos líderes na tragédia: a média global de mulheres vitimadas é de 27%.

Estatísticas costumam ser frias, mas neste caso são eloquentes. As reações das mulheres brasileiras agredidas, em 2022, foi nenhuma para 45% delas. Só 17,3% procuraram ajuda da família, 15,6% de amigos e 14% denunciaram a uma Delegacia da Mulher. Esses dados confirmam a face recrudescente do problema, que é a raiz cultural do subjugo feminino: a mulher é enxergada - até por ela mesma - como propriedade do homem e parece disposta a aceitar passivamente qualquer condição que lhe for imposta.

A pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que boa parte das mulheres agredidas não procurou a polícia por achar que a instituição não resolveria seu problema, ou por entender não ter provas suficientes do ataque que sofreu. Ou seja, elas transferem para si próprias a responsabilidade de produzir as provas da violência sofrida.

A ideia da submissão feminina, de raiz histórica, evidencia-se pela enormidade dos casos de violência cometidos contra a mulher que manifesta o desejo de se separar do companheiro. É nessa hora que o marido machista costuma explodir em violência, afinal, nada pode lhe subtrair o que é de sua propriedade. “Se não for minha, não será de ninguém” - é assim que pensa o patriarca.

Oitenta e três por cento das pessoas entrevistadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública disseram já ter presenciado cenas de violência contra mulheres, casos como homens abordando-as na rua de modo desrespeitoso; homens xingando, humilhando ou ameaçando namoradas ou ex-namoradas; vizinhas sendo ameaçadas ou agredidas de fato pelo companheiro; meninas, moças ou mulheres adultas sendo agredidas por parentes (pai, padrasto, irmão, tio, avô, cunhado).

Insulto, humilhação, violência física ou sexual, ofensa sexual, tapa, empurrão, chute, isolamento forçado. O rol de atos contra mulher praticados por parceiros ou ex-parceiros é grande e revoltante. Dentre as mulheres de 45 a 59 anos, 28,7% afirmam ter sido vítimas de tapa, chute ou empurrão por parte de um parceiro íntimo; 18,4% delas afirmam ter permanecido por longo período impedidas de se comunicar com familiares e amigos. Há mais: 12,6% sofreram impedimento de acesso a recursos básicos, como assistência médica e alimento.

No caso das mulheres com mais de 16 anos, 46,7% delas sofreram em 2022 alguma forma de assédio sexual, sendo a mais comum a “tradicional” cantada na rua, cujos autores parecem fazê-la como uma maneira ridícula de atestar sua masculinidade.

O movimento da sociedade em geral para que a mulher vença o subjugo a que é historicamente submetida precisa ser fortalecido. Todos que não compartilham da cultura machista e patriarcal devem manifestar-se, se possível publicamente. Mais que isso, devem denunciar quaisquer sinais de violência contra a mulher. Do Poder Público cobra-se a instalação de mais Delegacias da Mulher, hoje em número extremamente baixo, o fortalecimento das redes de acolhimento, assistência social, saúde e integração entre as ações de órgãos como a Polícia e o Ministério Público.

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