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Vereadora mineira é investigada pelo Ministério Público por questionar ausência de “travestis, transgênero e feministas” ajudando no RS

MPMG. - Imagem: Divulgação / MPMG
MPMG. - Imagem: Divulgação / MPMG
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 25/05/2024, às 07h44


Publicação nas redes sociais gerou uma campanha contra a vereadora Roberta Rodrigues, acusada de disseminar “discurso de ódio”

Roberta está no centro de uma polêmica por seu comentário nas redes sociais, criticando os movimentos feminista e LGBT.

Atual presidente da Câmara Municipal de Ibiá (MG), Roberta afirmou não ter visto “travestis, transgêneros, feministas de cabelo azul e sovaco cabeludo ajudando nas enchentes” que assolaram o Rio Grande do Sul este mês.

Na publicação feita no seu Instagram em 9 de maio, assegurou também não ter visto “bandeirinha de arco-íris e de movimento lgtvhdmi4k+” e que “nas horas mais difíceis são os machos tóxicos que salvam o mundo. Sempre foi e sempre será assim”.

As críticas dela acabaram gerando forte debate na pequena cidade de Ibiá, com população de 22 mil pessoas. Vereadores da cidade ameaçaram abrir representação contra ela na Comissão de Ética da Câmara Municipal devido à possível quebra de decoro parlamentar.

Eleita pelo PSL, em 2020, Roberta Rodrigues costuma fazer postagens em seu Instagram criticando o PT e o comunismo e elogiando o ex-presidente Jair Bolsonaro. A publicação em questão tem pouco mais de 700 “gostei” e 27 comentários, onde a maioria apoia o posicionamento dela.

Em poucos dias o assunto ganhou força para além da cidade e, na última segunda--feira (20), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) aceitou uma denúncia contra a vereadora, feita pela deputada Andreia de Jesus (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Segundo a deputada petista, a publicação da vereadora foi uma tentativa de “apagamento da humanidade das pessoas”. Justificou sua afirmação questionando: “como se a população LGBTQIAPN+ não fosse parte da sociedade, não sentisse solidariedade e não cumprisse seu papel na contribuição e auxílios às vítimas da tragédia climática do Rio Grande do Sul. E, pior, como se não tivessem pessoas LGBTQIAPN+ também vítimas das tragédias climáticas”. No entanto, ela não demonstrou evidências que desmintam as afirmações da vereadora de Ibiá

A imprensa mineira mostrou que a repercussão negativa ocorreu por uma articulação de internautas de esquerda nas redes sociais. Eles fizeram uma campanha para denunciar a parlamentar, exigindo que ela fosse investigada pelas autoridades. A acusação é que ela estava proferindo um “discurso de ódio” contra travestis, pessoas trans e feministas.

Em nota, a assessoria da vereadora disse que ela é “vítima de ataques de seus opositores, os quais distorcem suas postagens visando posicionar parte da população em desfavor da parlamentar nas redes sociais”. Também expressa que a vereadora “deixou claro que em sua trajetória de vida pública, nunca agiu ou teve preconceito de gênero; apenas discorda de atitudes extremistas de minorias que não representam referidos seguimentos. Além disso, possui diversos amigos íntimos homossexuais”.

O STF (Supremo Tribunal Federal) fixou, em 2019, a tese de que “condutas de ódio em razão da orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa” são equivalentes à expressão de racismo. A pena para este crime pode chegar a 5 anos de prisão.

Desde o início da tragédia humanitária no Rio Grande do Sul, opiniões e vídeos compartilhados sobre as enchentes têm sido alvo de questionamentos pelo poder público. No dia 7 de maio, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta (PT), pediu que fosse feita uma ampla investigação de contas em redes sociais na internet que estariam “disseminando informações falsas” sobre o trabalho de resgate de pessoas e a recuperação dos estragos causados pelas inundações.

Em ofício enviado ao ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, Pimenta cita "narrativas desinformativas e criminosas" que causam aprofundamento da crise social vivida pela população gaúcha. O trabalho do governo federal é alvo de grande parte dos questionamentos nas redes sociais.

Além disso, a Advocacia-Geral da União assinou um protocolo de intenções para "promover a integridade" das informações sobre o desastre com as grandes empresas de tecnologia. Assinaram o documento representantes das plataformas Google/YouTube, Meta, TikTok, X, Kwai e LinkedIn.

Após as medidas contra a disseminação de notícias consideradas falsas pelo governo, Paulo Pimenta, que é gaúcho, saiu da Secom e foi empossado como ministro extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, uma espécie de interventor no Estado. Ele deve permanecer no cargo até o final da crise, estimada para 6 meses.

Sabidamente, Pimenta é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul nas eleições de 2026.

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