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Sob pressão popular, a gigante de carros Toyota encerra programas woke e adota neutralidade para reconquistar consumidores

Toyota abandona cultura woke - Imagem: Reprodução | Brasil Paralelo
Toyota abandona cultura woke - Imagem: Reprodução | Brasil Paralelo
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 23/10/2024, às 08h41


Quando um consumidor busca comprar um carro novo, raramente se preocupa com as políticas de inclusão social ou a diversidade de funcionários da montadora. Seu foco está em aspectos como desempenho, segurança, tecnologia e confiabilidade do veículo, não nas virtudes corporativas ou em práticas politicamente corretas da empresa. Essa lição foi recentemente aprendida pela Toyota, uma das maiores fabricantes de automóveis do mundo, após enfrentar uma intensa campanha contra suas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), liderada pelo cineasta e ativista conservador Robby Starbuck.

Starbuck, que tem 35 anos, já havia realizado ações semelhantes contra outras grandes marcas como Harley-Davidson, John Deere e Jack Daniel’s, exigindo que essas empresas priorizassem seus negócios ao invés de militâncias ideológicas. No dia 26 de setembro de 2023, o ativista usou suas redes sociais para expor as iniciativas progressistas adotadas pela Toyota, que incluem desde cursos “conscientes” até cotas de contratação e apoio a ONGs ligadas a causas LGBT. Um dos pontos mais criticados por Starbuck foi o suposto patrocínio da Toyota a um programa de drag queens para crianças que se identificam como LGBT e o apoio à legalização da mudança de sexo para menores de idade.

A Toyota, há 16 anos, orgulhava-se de sua pontuação máxima no Índice de Igualdade Corporativa da Human Rights Campaign (HRC), uma organização de esquerda que mede o comprometimento das empresas com as causas LGBT. Além disso, a empresa patrocinava o projeto Time to Thrive Summit, que levava às escolas americanas palestras sobre ideologia de gênero para crianças e adolescentes. Starbuck destacou que essas práticas não condiziam com o perfil de seus consumidores, principalmente famílias conservadoras nos Estados Unidos e no Japão, mercados-chave para a montadora.

Como resultado da pressão popular gerada pela campanha de Starbuck, a Toyota anunciou em 3 de outubro que encerraria seus programas de DEI nos Estados Unidos. Em um memorando distribuído a seus 50 mil funcionários no país e a 1.500 concessionárias, a empresa informou que, daqui em diante, focaria apenas em eventos relacionados à ciência, tecnologia e formação profissional. Essa decisão foi celebrada por Starbuck, que elogiou os executivos da Toyota por "adotarem uma postura mais neutra e alinhada com os valores dos seus consumidores".

A implementação de políticas de DEI nas grandes corporações, que teve início há cerca de 20 anos, foi inicialmente vista como uma forma de promover a inclusão e aumentar a produtividade. No entanto, o que se observou, segundo críticos como Starbuck, foi o oposto: divisões entre funcionários, custos elevados e, em muitos casos, perda de foco nos negócios principais. David Clossom, diretor do grupo ativista cristão Family Research Council, comentou recentemente que uma maioria silenciosa de americanos está "farta dessa doutrinação" e que as políticas progressistas têm impactado negativamente os resultados financeiros das empresas.

A ação de Starbuck não é isolada. Nos últimos anos, o "ativismo de consumo" tem ganhado força nos EUA, especialmente entre grupos conservadores. A ideia é que os consumidores passem a boicotar marcas que adotam políticas consideradas progressistas demais, forçando-as a rever suas posturas para atender melhor seus clientes. Campanhas semelhantes lideradas por Starbuck já impactaram marcas tradicionais como Ford, Jack Daniel’s e Harley-Davidson.

Em contrapartida, a Human Rights Campaign e outras ONGs progressistas criticam fortemente o movimento anti-woke. Segundo Eric Bloem, vice-presidente da HRC, as empresas que cedem à pressão dos seguidores de Starbuck estão cometendo um erro estratégico. Ele argumenta que, com quase 30% da Geração Z se identificando como LGBTQ+ e um poder de compra dessa comunidade avaliado em US$ 1,4 trilhão, abandonar as políticas de inclusão pode comprometer tanto a confiança dos consumidores quanto o sucesso dos funcionários.

Apesar das críticas, a decisão da Toyota reflete uma tendência crescente entre empresas que, sob pressão de consumidores conservadores, estão abandonando suas políticas progressistas. Para Starbuck, o movimento que ele lidera representa o futuro do mercado corporativo: "As empresas que adotarem a neutralidade vencerão no futuro porque não violam as crenças fundamentais dos consumidores de quem dependem", concluiu o ativista, comemorando mais uma vitória em sua cruzada contra as políticas woke nas grandes corporações americanas.

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