por Agenor Duque
Publicado em 24/10/2024, às 07h40
Na última semana, a vice-presidente dos Estados Unidos e candidata à presidência pelo Partido Democrata, Kamala Harris, se envolveu em uma controvérsia durante um comício em Wisconsin. O evento, realizado na quinta-feira (17), foi marcado por um momento tenso quando dois estudantes cristãos interromperam o discurso de Harris ao gritar “Jesus é o Senhor”. Em resposta, Kamala usou um tom sarcástico, dizendo que eles estavam "no comício errado" e sugeriu que o grupo deveria estar em um evento menor do ex-presidente Donald Trump, que também disputará a presidência em 2024.
O incidente ganhou ampla repercussão após o vídeo ser divulgado, especialmente entre o público cristão, que já vinha demonstrando resistência à candidatura de Kamala Harris. O episódio ocorreu logo após a vice-presidente ter recusado participar do tradicional Al Smith Memorial Dinner, um evento de caridade organizado pela comunidade católica, que conta com a presença de importantes líderes políticos dos EUA.
Kamala, em seu discurso no comício, falou sobre seu compromisso em ampliar o acesso ao aborto no país. Defendendo a liberdade das mulheres de fazerem suas próprias escolhas sobre seus corpos, Harris destacou: "Seguiremos em frente, porque a nossa é uma luta pelo futuro, e é uma luta pela liberdade. Como a liberdade fundamental de uma mulher de tomar decisões sobre seu próprio corpo, e não ter seu governo lhe dizendo o que fazer", desconsiderando que o aborto diz respeito muito mais ao corpo do bebê (que será dilacerado, sem dó nem piedade) que ao da grávida em si.
O comentário polêmico de Harris em relação aos estudantes cristãos foi seguido de aplausos e risadas dos seus apoiadores, o que aumentou ainda mais a controvérsia. Esse tipo de resposta pode agravar a desconexão de Kamala com o eleitorado cristão, um grupo significativo e influente nas eleições dos EUA. A postura da candidata em relação aos valores cristãos e sua defesa de pautas progressistas, como o direito ao aborto, são temas sensíveis e divisores no debate político americano.
Os dois estudantes cristãos envolvidos no incidente, Grant Beth e Luke Polaske, deram uma entrevista à Fox News, onde detalharam suas motivações e o ocorrido durante o comício. Grant Beth, calouro na Universidade de Wisconsin-La Crosse, afirmou que ele e seu colega foram ao evento com o propósito de “fazer a obra de Deus”, mesmo sabendo que enfrentariam uma audiência hostil.
Beth descreveu o clima de hostilidade que enfrentaram ao longo do evento: "Fui empurrado por uma senhora idosa. Fomos importunados, fomos amaldiçoados, fomos ridicularizados. Isso é o mais importante para mim. Refletindo sobre o acontecimento, Jesus foi ridicularizado. Seus discípulos foram ridicularizados, e tudo bem. Na verdade, fizemos a obra de Deus e estávamos lá pelos motivos certos".
Luke Polaske, colega de Beth e estudante júnior na mesma universidade, afirmou que estava a uma distância de cerca de 20 a 30 metros de Kamala Harris quando o incidente ocorreu. Polaske relatou que, em um determinado momento, tirou o crucifixo que usava em volta do pescoço e acenou com ele para Kamala. “Ela olhou diretamente nos meus olhos e meio que me lançou um sorriso maligno", afirmou o estudante, descrevendo a situação.
Beth ainda pediu aos eleitores que considerem esse episódio na hora de votar. Ele ressaltou que a atitude de Harris reflete um desrespeito aos valores cristãos e que o episódio exemplifica como ela pode alienar uma grande parcela da população americana. "É imperativo que os jovens americanos e os eleitores iniciantes entendam que isso é o que você vai conseguir com a presidência de Kamala Harris", destacou.
O incidente com os estudantes cristãos e a recusa de Kamala Harris em comparecer ao Al Smith Memorial Dinner podem ter implicações significativas para sua campanha, especialmente entre o eleitorado cristão e conservador. A ausência de Harris no jantar de caridade, apesar de congruente com seu posicionamento anti-cristão, é vista como um desrespeito à tradição política americana, uma vez que desde 1984, com Walter Mondale, nenhum candidato presidencial havia faltado ao evento.
O jantar, que reúne líderes católicos e políticos de destaque, é uma oportunidade para fortalecer relações com a comunidade religiosa, algo que Kamala Harris pareceu desprezar, o que pode aprofundar a percepção de que ela está desconectada dos valores cristãos predominantes no país.
O episódio em Wisconsin serve como um lembrete das divisões profundas que permeiam a política americana. Kamala Harris, ao adotar uma postura firme em favor de pautas progressistas, como a ampliação do acesso ao aborto, arrisca se distanciar ainda mais de eleitores cristãos e conservadores, que podem ver em Donald Trump um defensor mais alinhado com seus valores.
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