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Mais da metade de alunos trans da USP denunciam preconceito; Defensoria recomenda ações contra transfobia na universidade

Mais da metade de estudantes transgêneros da USP denunciaram ter sido vítimas de preconceito dentro da instituição de ensino e pesquisa. Após levarem as

Mais da metade de alunos trans da USP denunciam preconceito; Defensoria recomenda ações contra transfobia na universidade
Mais da metade de alunos trans da USP denunciam preconceito; Defensoria recomenda ações contra transfobia na universidade

Redação Publicado em 08/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h48


USP respondeu que já adota medidas, como uso do nome social.

Mais da metade de estudantes transgêneros da USP denunciaram ter sido vítimas de preconceito dentro da instituição de ensino e pesquisa. Após levarem as denúncias à Universidade de São Paulo, eles procuraram a Defensoria Pública, que recomendou à USP que adote ações de combate à transfobia institucional.

A pesquisa é inédita e foi realizada pela Coletiva Xica Manicongo de Estudantes Trans, Travestis e Intersexuais da USP, que representa o movimento estudantil transgênero na universidade, apontou que 52% de 88 alunos que se identificaram como pessoas transexuais, travestis e não binárias (refere-se às pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero exclusivamente) relataram ter sido vítimas de ações transfóbicas na instituição.

Procurada pelo G1 para comentar o assunto, a USP informou por meio de sua assessoria de imprensa que, desde 2010, adota um programa de diversidade que visa garantir “a inclusão, a igualdade, a solidariedade, a promoção e o fortalecimento do respeito aos Direitos Humanos”.

“O parecer citado pela Defensoria já prevê a utilização do nome social em documentos oficiais e documentos internos da graduação”, informa trecho do comunicado da USP ao G1. “Além disso, há muitos anos, a USP criou o Programa USP Diversidade, vinculado aos programas USP-Comunidade da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU)”.

A travesti Victória Dandara, de 23 anos, é aluna do curso de Direito da USP, na capital paulista — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A travesti Victória Dandara, de 23 anos, é aluna do curso de Direito da USP, na capital paulista — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Mas segundo a Coletiva Xica Manicongo, essas medidas não vêm sendo cumpridas. Entre as principais queixas dos alunos estão relatos de constrangimentos porque professores e funcionários não os chamam por seus nomes sociais.

Outra reclamação constante dos estudantes é a falta de uma campanha de conscientização para que se respeite as pessoas que queiram usar os banheiros de acordo com os gêneros com os quais se identificam.

“A grande questão pelo que a gente percebe pelos relatos é a invisibilização completa de trans e travestis pela universidade”, disse ao G1 a travesti Victória Dandara, de 23 anos, estudante do curso de Direito da USP na capital paulista. “Precisamos ser vistas e ouvidas pela universidade, pois este espaço também nos pertence.”

“Os principais problemas são relativos a nome social, banheiros e transfobia, como um todo”, falou a também travesti Gabe Teodoro, de 19 anos, estudante de Engenharia Ambiental na USP em São Carlos, interior paulista. “A comunidade universitária tem total desconhecimento de direitos e demandas de pessoas trans. É dever dos gestores da universidade conscientizar e combater violências transfóbicas.”

Dossiê reúne denúncias

Praça do Relógio no campus da USP em São Paulo. — Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Praça do Relógio no campus da USP em São Paulo. — Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Victória e Gabe participaram da elaboração do dossiê que foi entregue à Defensoria Pública de São Paulo com as pautas.

Veja abaixo alguns dos relatos feitos por estudantes trans que estão no documento:

  • Já lidei com professores se referindo a mim no masculino, mesmo com meu nome social na matrícula e com colegas falando comigo no feminino. Além disso, meu nome de registro foi utilizado na divulgação do resultado de seleção do Programa de Iniciação Científica e precisei enviar um e-mail para a secretária do departamento exigindo que corrigissem…”
  • Já passei por muitos constrangimentos ao entrar em banheiros femininos, sejam em quaisquer institutos da USP; o processo de “regularização” do nome social demorou demais, provocando situações de desrespeito por parte de professores quanto a respeito de nome social, pronomes e etc. Sinto que meu corpo é sexualizado dentro dos espaços universitários.”
  • Sempre que eu vou no banheiro feminino ‘denunciam’ que tem um homem no banheiro. Ninguem NUNCA pensa que pode ser uma mina trans. O tanto de vez que 2 segurança já veio conversar cmg por causa disso. Já tive que conversar com a coordenação do meu instituto por causa disso. Hoje em dia eu ando com uma cópia da minha certidão de nascimento pra evitar problemas, pq todo mundo acha que eu tô lá pra ser predadora, não pra usar o banheiro.”
  • “’Transfobia por parte dos funcionários’ pois falta preparo, não só dos concursados como os terceirizados”
  • Minha faculdade tem um histórico péssimo em lidar com pessoas lgbt. Está melhor atualmente, depois das cpi do trote e tudo mais, mas a discriminação ainda existe e para pessoas trans é pior.”

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G1

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