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Hospital cria Caixa de Memórias com pertences de vítimas da covid-19

A Ação de Humanização para Enfrentamento da Pandemia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de

Hospital cria Caixa de Memórias com pertences de vítimas da covid-19
Hospital cria Caixa de Memórias com pertences de vítimas da covid-19

Redação Publicado em 26/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h56


Meta principal é amenizar dor decorrente da perda de familiares

A Ação de Humanização para Enfrentamento da Pandemia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, decidiu transmitir mais afetividade e carinho para a entrega de pertences de pacientes que morrem vítimas da covid-19 a seus familiares.

A partir do relato do chefe do Centro de Tratamento Intensivo – CTI – da covid-19 do hospital, Túlio Possati de Souza, que ficou angustiado ao entregar a parentes, em um saco plástico, pertences de um paciente morto pelo coronavírus, a psiquiatra Thabata Luiz, que trabalha com oncologia e cuidados paliativos, decidiu criar uma Caixa de Memórias para amenizar a perda dos familiares.

A partir desta semana, os familiares dos mortos recebem a Caixa de Memórias, acompanhada de flores e um cartão com mensagem de apoio e contatos para ajuda psicológica no próprio hospital.

“Você trabalha um luto de forma mais afetiva com os parentes dos pacientes. Aí, eu pensei: vamos encaixar uma caixa mais afetiva para que eles possam levar esses pertences e transformar a caixa em uma coisa positiva, talvez guardar coisas importantes, que representem uma história de vida do paciente”, revelou a médica.

A inspiração para a criação da Caixa de Memórias, adaptada a esse momento de pandemia, veio de cursos que Thabata faz em cuidados paliativos, ministrados pelos psicólogos Rodrigo Luz e Daniela Freitas, da Fundação EKR-Brasil.

A entrega da caixa coincidiu com o início do projeto de visitas virtuais de familiares aos pacientes da covid-19, por meio de um tablet doado por um médico da unidade hospitalar da Universidade Federal Fluminense.

As caixas são produzidas por Thabata e pelas psicólogas Tânia Ventura e Virgínia Dresch, com material cedido pela Associação dos Colaboradores do Hospital Universitário Antônio Pedro (Achuap).

“Foi uma colaboração solidária de várias personagens”, disse. “Quando há um óbito no hospital, a gente é comunicada, recupera os pertences do paciente e entrega para a família. Nesse momento, a gente faz contato explicando que a caixa leva aquilo de forma mais afetiva, mais humanizada e menos negativa”, disse Thabata.

Visitas virtuais

As visitas virtuais começaram ontem (25). Thabata já está fazendo contato dos pacientes lúcidos, que conversam por vídeo com as famílias e também dos pacientes que estão sedados e não se comunicam com a família.

Para esses, a psiquiatra leva uma mensagem de áudio dos familiares. “A família grava uma mensagem de áudio e eu transmito para o paciente no leito. Tem uma função muito importante para os familiares, que declaram o seu amor, dizem que estão na torcida ou falam coisas que queriam, mas não conseguiam falar. É bem emocionante”, relatou.

Segundo informou a assessoria de imprensa do Hospital Universitário, a ideia é que, através de um tablet, os pacientes possam entrar em contato com os familiares, já que o ambiente da covid-19 é de alta contaminação, inviabilizando presença física. A médica destacou que o objetivo é minimizar estressores adicionais, como afastamento familiar e impossibilidade de despedida. Assim, contribui-se para a prevenção de transtornos mentais, como luto complicado e estresse pós-traumático.

No CTI da covid-19 do Huap há 14 leitos e, no Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), são 11.

Esses números podem variar de um dia para o outro. No CTI, são todos pacientes com covid-19 positivo. No DIP, há casos suspeitos e confirmados.

Túlio Possati de Souza informou, ainda, que a inexistência das visitas prejudica pacientes idosos com potencial de desenvolvimento de delírio e síndrome do confinamento.

Ela observou que “a elaboração das visitas virtuais através de tablets surge como uma boa alternativa para contornar esse isolamento social imposto pela doença”, ressaltou o chefe do CTI da covid-19 do Huap.

Acolhimento de profissionais de saúde

Outro trabalho que o Huap vem realizando desde abril é o PsiCOVIDa, acolhimento de profissionais de saúde do hospital que estão na linha de frente do combate à pandemia e que necessitam de suporte psíquico ou emocional.

“São psicólogos que estão online todo dia de plantão e tem o atendimento presencial. Todas as demandas de psicologia e psiquiatria eles atendem e a gente avalia a necessidade de fazer atendimento presencial”, revelou Thabata Luiz.

O grupo PsiCOVIDa atende também familiares de pacientes internados, além de profissionais de saúde de todos os níveis que estejam precisando de algum acolhimento psicológico ou psiquiátrico.

Segundo a psiquiatra, até funcionários administrativos do Huap já foram atendidos pelo grupo. A meta é levar aos acolhidos a mensagem de que eles não estão sozinhos neste momento. A equipe do PsoCOVIDa pode ser acessada pelo telefone (21) 96973-2977.

ABr

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