Luís Felipe acordou às 6h da manhã animado para ir a Bienal de Arte de São Paulo. Acompanhado da mãe, Elaine Neto, ele viu as obras e instalações em visita
Redação Publicado em 17/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 07h58
Luís Felipe acordou às 6h da manhã animado para ir a Bienal de Arte de São Paulo. Acompanhado da mãe, Elaine Neto, ele viu as obras e instalações em visita com o Instituto Olga Kos, que atende crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual. Era sua primeira vez na exposição.
Ao escolher o banco com encosto colorido como obra preferida, o menino de 10 anos, portador de síndrome de Down, disse que gosta muito de vermelho. A mãe conta que é por causa do coração, e que tem relação com as cirurgias que ele precisou fazer, quando era mais novo.
Depois do contato direto com as obras de arte, Elaine percebe que o filho sai “muito enriquecido”. “Ele viu muitas coisas que só teve a possibilidade de ver aqui e acredito que aprendeu bastante nas artes, nas cores, no que viu aqui”, conta.
O grupo que participou da visita era formado por cerca de 15 pessoas. Para Márcia de Carvalho, pedagoga do Olga Kos, a experiência na exposição é um elemento importante para a inserção social e cultural. “É muito importante eles se mostrarem pertencentes à cidade. Dentro de uma Bienal, dentro de um pavilhão desse tamanho, escutando, olhando, sendo vistos.”
Cesar Massami gostou tanto do passeio que pretende voltar. “Muita coisa que a gente vê no Parque Ibirapuera, latinha de garrafa, um pouco de insetos, um pouco de animais. Achei interessante a diversidade de coisas que eu vi. Não tô acostumado.”
Além das crianças, jovens e adultos atendidos pelo Instituto, familiares também acompanharam a visita, ocorrida no último dia 7. Segundo Márcia, eles não frequentam esses lugares com frequência. “Essas mães são sempre colocadas em um espaço em que não têm voz, aqui elas estão sendo escutadas. Só pelo olhar, você sente que alguma coisa mudou.” Uma nova visita, com outro grupo, será realizada neste sábado (17).
Elaine afirma que visitar a Bienal não seria uma opção mesmo. “A gente não sabe às vezes onde tem uma determinada exposição. Se fosse para ir sozinha, eu não iria mesmo, não saberia. Iria fazer um outro passeio comum.”
A expectativa é que a visita seja assunto por várias semanas. Pelo menos será para Luis. “Ele vai contar para todo mundo que encontrar, quando chega em casa, na escola, com os amigos. Sempre que ele vai em um lugar assim, fica contando a semana inteira”, explica Elaine.
Essa ação que parece banal para a maioria das pessoas, assume outra perspectiva para alguns deficientes, principalmente os que têm dificuldade em se comunicar. “Eles saem bem mais soltos e falantes, se expondo, se colocando. Quando a gente retomar essa visita, vamos ter um resultado melhor na postura, no jeito deles que eles se colocam no mundo”, afirma Márcia.
Essa questão é central para que os portadores de necessidade especial consigam frequentar os espaços, não só os culturais. No caso da Bienal, o Instituto Olga Kos foi convidado pela exposição e houve uma reunião para entender o que era preciso para receber o grupo.
“Necessidade básica é locomoção, o espaço ser acessível é o primeiro passo. Segundo, pessoas preparadas para receber esse público, porque a escuta precisa ser diferenciada, interagindo com eles”, enumera a pedagoga, que percebe que os museus e espaços de arte estão se preparando cada vez mais para receber esse público. “Ainda falta muitas coisas, mas há um movimento sim”.
Com o tema “Afinidades afetivas”, a 33ª Bienal fica aberta ao público até o dia 9 de dezembro.
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