A perda de renda das famílias durante a pandemia de covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus) tem levado a um aumento da incidência do trabalho
Redação Publicado em 20/08/2020, às 00h00 - Atualizado às 18h00
A perda de renda das famílias durante a pandemia de covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus) tem levado a um aumento da incidência do trabalho infantil, segundo pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O levantamento feito com 52,7 mil famílias que a entidade tem atendido na cidade de São Paulo mostra um aumento do número de residências onde ao menos uma criança trabalha.
Entre as famílias que foram cadastradas em maio para receber os kits de higiene e as cestas-básicas oferecidas pelo Unicef, a cada mil domicílios, 21,2 disseram ter ao menos uma criança trabalhando. Dentro dessa mesma amostra, o índice cai para 17,5 a cada mil quando as famílias falam da situação antes da pandemia.
Entre as famílias que foram incluídas no cadastro em julho, a incidência de trabalho infantil subiu para 24,2 a cada mil, sendo que antes da pandemia as respostas das pessoas dentro dessa amostra apontam para um índice de 17,4.
A coordenadora do Unicef em São Paulo, Adriana Alvarenga, afirma que as famílias selecionadas pelo programa estão em “situação de extrema vulnerabilidade”. “A gente foi atender as que não estavam sendo atendidas de outras maneiras”, enfatiza.
Nas residências cadastradas vivem cerca de 190 mil pessoas. Dessas, 80 mil são crianças e adolescentes – 28 mil tem até 5 anos; 30,9 mil, entre 6 e 12 anos; 21,2 mil, entre 13 e 18 anos de idade.
São famílias que já viviam em dificuldade antes da pandemia (42,9% dos adultos estava desempregado antes mesmo do isolamento social). Porém, 30,4% das pessoas perderam o emprego durante a pandemia e 15,7% continuaram trabalhando, mas com a renda reduzida. Apenas 10,9% conseguiram manter as condições de antes da chegada do coronavírus.
“A situação foi se agravando e o impacto entre crianças e adolescentes piorando”, ressalta Adriana a respeito da pressão sobre essas famílias. Além da perda de trabalho, são pessoas que enfrentam empecilhos até para serem beneficiadas pelos programas governamentais. “50% não estavam tendo acesso a auxílio emergencial ou qualquer outro auxílio do governo”, destaca a coordenadora do Unicef.
A entrada precoce e precária no mercado de trabalho pode levar, segundo Adriana, ao abandono dos estudos. “Tem outros levantamentos que já mostram que muitos adolescentes dizem que não pretendem voltar à escola. Muitos que desistiram de fazer Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, aponta.
O afastamento da escola traz mais prejuízos do que a perda de aprendizado, na avaliação dela. “Isso abre o flanco para outras violências”, ressalta. “A escola, além de ser um espaço de aprendizagem, é um espaço de proteção e acesso a outros serviços”, acrescenta.
Para enfrentar essa situação, Adriana defende que o governo, nas diferentes esferas, promova uma “busca ativa” dessas famílias para que elas possam ser inseridas nos programas de assistência social. “Programas de transferência de renda de médio e longo prazo e apoio a essas famílias para que elas possa se inserir ou permanecer no mercado de trabalho”, enumera.
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AGENCIA BRASIL
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