Teatro J. Safra

Segundo episódio do documentário de André Matos, Maestro do Rock, é exibido em SP

Depois de dois anos de espera, os fãs foram apresentados ao novo filme; saiba mais

Segundo episódio do documentário de André Matos, Maestro do Rock, é exibido em SP - Imagem: reprodução redes sociais

Gabriella Alves Andrade Publicado em 31/05/2023, às 15h40

Na última sexta-feira (19) e no último sábado (20) foi exibido o segundo episódio do documentário "André Matos - Maestro do Rock" no Teatro J. Safra, em São Paulo. Depois de dois anos de espera, os fãs foram apresentados ao filme com duração de 135 minutos, produzido por Anderson Bellini com colaboração do primo de André: Eco Moliterno.

O documentário, como um todo, foca na trajetória do vocalista, desde o começo de sua carreira até seu falecimento em junho de 2019. Assim, conta com entrevistas com os membros das bandas Viper e Angra e entrevistas com o próprio André que ocorreram meses antes de sua morte, abordando assuntos polêmicos, tais como as separações do Angra e do Shaman.

Diferente do primeiro episódio, este segundo mostra sua trajetória na banda Angra, quando o artista já contava seus 19 anos. Além de contar com os pontos de vista dos ex-membros e colegas de André, os pontos de vista de sua família também foram apresentados, de forma a separar a figura do maestro do rock (André Matos) da figura familiar (André Coelho). Isto posto, a seguir o decorrer do filme será comentado com a presença de spoilers para os que não terão a oportunidade de assistí-lo nas telas.

O filme se inicia com Rafael Bittencourt relatando o começo da banda Angra, a qual se formou a partir de sua amizade com o vocalista na Faculdade Santa Marcelina, tendo uma proposta de fundir o heavy metal com a musicalidade e os ritmos brasileiros, formulando uma forma diferente da música erudita. André Matos diz que "a música erudita, por mais fascinante que seja, é um trabalho árduo e solitário", o que explica sua preferência pela mistura de estilos musicais ao criar o Angra, banda que mais tarde explodiria internacionalmente, ganhando até um Disco de Ouro em seu disco de estreia.  

Uma curiosidade falada nesse episódio é o nome da banda: "Mama's Spider" foi um dos nomes considerados, mas os membros preferiam um nome mais simples, que fosse pronunciável tanto em inglês, quanto em português. Dessa forma, Rafael Bittencourt — mesmo que ele não se lembre de ter escrito — tinha um rascunho de música chamada "Dolphins of Angra" e, já que "Angra" lembra o verbo "anger" (raiva em inglês), deu-se o nome para a banda, que remetia a um nome forte e "fácil".  

No decorrer da produção, o guitarrista Kai Hansen, do Helloween, fez um comentário sobre a performance e o estilo de música do Angra, dizendo que a mescla de power metal com metal clássico e batidas brasileiras revolucionou a indústria do heavy metal, forçando todos os outros artistas a terem uma performance melhor e mais poderosa. Além dele, o documentário contou com a participação de Rob Halford, vocalista do Judas Priest, o qual expressou sua admiração por André após assistir sua apresentação no Rock in Rio com o Viper, em 2013.

Dessa forma, o filme é repleto de curiosidades e lembranças de momentos que a banda Angra passou junta. Quando estavam na Alemanha, se encaminhando para o sucesso com produtores alemães, os membros moraram juntos em uma pensão que, curiosamente, era um bunker da Segunda Guerra Mundial. É importante lembrar que o Angra focava, majoritariamente, no mercado internacional, mas não tinha pretensões em deixar o público brasileiro de lado.

Esse pensamento fez com que, na Alemanha, os produtores optassem por um heavy metal mais "metódico" e regrado, diferente do estilo livre do Brasil. E, com isso, o álbum "Angels Cry" foi gravado 80% pelo guitarrista Pedro Henrique Loureiro (Kiko), como afirmado por Rafael Bittencourt no documentário, já que ele seguia os padrões alemães. Mesmo com essa imposição de estilo, a banda ainda produzia a música erudita, dessa vez, com um formato consolidado.

Uma outra curiosidade: ainda no cenário alemão, diferente de grande parte do que se é produzido no Brasil, os europeus diziam que versos da música precisavam ter várias palavras, não apenas uma nota longa por cima do instrumental, o que fez "Angels Cry" ser fortemente modificado. O disco, que ficou mundialmente famoso por conta também da ascensão do power metal, obrigou - como citado anteriormente - as outras bandas que seguiam o mesmo gênero a elevarem seu nível.

É importante ressaltar que, nesse momento, a amizade de André Matos e Rafael Bittencourt não era mais a mesma do começo de tudo: ambos haviam se afastado e Rafael comenta que quase não se falavam durante os ensaios, mas não questionava, já que acreditava ser apenas uma fase de sobrecarga pelo sucesso. 

Eventualmente, após o foco do filme no primeiro disco, é falado sobre como André sempre foi carinhoso com os fãs: ele pulava do palco e chegou até a entrar em uma briga acidental quando uma fã, com a intenção de conseguir autógrafos, subiu até o quarto em que a banda estava hospedada e o noivo da moça pensou que o vocalista estava se envolvendo com ela.

Sua família comenta que, em casa, ele era uma pessoa introspectiva, extremamente sensível, "genial e genioso", como citado no filme e sabia dar presentes como ninguém. Porém, quando subia no palco, se transformava em outra pessoa, era quase um personagem, uma personalidade dentro dele que, quando se apresentava, conquistava o mundo inteiro. 

Em certo momento do documentário, André comenta que teve problemas com sua voz na metade da gravação do disco "Holy Land", um disco que, já em sua capa, buscava quebrar os padrões do heavy metal, com uma capa clara no lugar de uma  preta, um mapa múndi, uma rosa dos ventos, elementos que normalmente não se via quando o assunto era metal.

Foi dito que o vocalista sabia cantar, porém não tinha técnica vocal e, com a quantidade massiva de shows, acabou tendo uma fadiga, uma fenda vocal, precisando voltar ao Brasil para fazer um tratamento. Era recomendado que passasse um bom tempo de repouso, mas quando André sentiu sua voz novamente, 15 dias depois voltou até a Alemanha e gravou o disco, mesmo temendo que sua voz fosse piorar. 

E, já nos minutos finais, o filme aborda a polêmica separação do Angra, que antes mesmo do lançamento de "Fireworks" - que foi uma tentativa de reatar os laços da banda - já estava em um grande clima de tensão. André Matos afirma que não tinha gostado de algumas brincadeiras que os membros faziam sobre substituí-lo e decidiu ele mesmo se retirar da banda, mas após insistências, tentou dar mais uma chance, começando a produção do álbum.

Porém, certo dia, ao verem seus discos sendo vendidos por um estúdio argentino que, em teoria, não tinha direito sobre suas músicas, surgiu-se a especulação de que os próprios empresários do Angra estavam pirateando-os, o que dividiu opiniões dentro do grupo e foi o estopim para a sua separação. Até hoje não se tem provas dos culpados dessa venda pirateada, mas como o próprio Anderson Bellini afirmou, o intuito do documentário é apenas contar a história de André, não criar uma investigação do caso. 

O documentário é extremamente envolvente e leva o espectador a uma viagem de volta aos anos 90, quando a banda se iniciou. Existem muitos cortes de reportagens que passaram na época, enquanto o Angra fazia sucesso mundialmente, causando uma experiência imersiva e tornando fã até quem antes não conhecia o grupo ou até o André Matos. Ainda esperam-se mais dois episódios, com chances de diminuição ou aumento de capítulos para contar a história sobre o grande maestro do rock.

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