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20 anos após o 11/9, a guerra invencível no Afeganistão renova a sensação de derrota nos EUA

O aniversário do maior ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos é celebrado pela primeira vez sem tropas americanas no Afeganistão e também com uma

20 anos após o 11/9, a guerra invencível no Afeganistão renova a sensação de derrota nos EUA
20 anos após o 11/9, a guerra invencível no Afeganistão renova a sensação de derrota nos EUA

Redação Publicado em 10/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h40


O aniversário do maior ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos é celebrado pela primeira vez sem tropas americanas no Afeganistão e também com uma renovada sensação de derrota e vergonha pelo início, 20 anos depois, do segundo emirado do Talibã no país.

O massacre do 11 de setembro de 2001 levou o governo americano a invadir o Afeganistão para derrotar o regime fundamentalista islâmico que dava guarida à Al-Qaeda. Em um giro de 360 graus em duas décadas, os EUA estão fora do país e o Talibã novamente no comando.

É ilusório e simplista, contudo, acreditar que nada mudou. A guerra, que começou para caçar os líderes da rede terrorista e humilhou a superpotência do planeta, transformou-se em um confronto confuso e com novas vertentes — a guerra global contra o terror.

Entraram outros atores e objetivos. Arquitetou-se a invasão do Iraque, concretizada em 2003, sob a suspeita nunca comprovada de que o regime de Saddam Hussein tinha vínculos com a Al-Qaeda e desenvolvia armas de destruição em massa.

Os EUA enveredaram pelo obscuro terreno de detenções arbitrárias, sequestros de suspeitos e tortura sistemática em prisões fora de seu território, em Abu Ghraib e Guantánamo. Perduraram a vigilância e a violação de privacidade, em prol da segurança nacional. A islamofobia se disseminou nos EUA e o antiamericanismo, nos países do Oriente Médio.

O espírito de união entre os americanos, que deu a George W. Bush 90% de aprovação logo após o 11 de Setembro, se dissipou. Calcado na doutrina neoconservadora, o governo estava imbuído do conceito da construção de Estados-nações à sua imagem e semelhança.

Encontrado em 2004 em um buraco, o ditador Saddam Hussein foi julgado por crimes contra a Humanidade e enforcado dois anos depois.

O utópico argumento de que os EUA ocupavam o Afeganistão e o Iraque para libertar a população da tirania caiu por terra nos dois países pela atuação de grupos insurgentes e pela rotina de massacres e atentados sangrentos contra civis.

Um par de sapatos atirado por um jornalista contra Bush durante uma coletiva em Bagdá simbolizou a revolta contra a ocupação americana e o fracasso da política intervencionista. O presidente conseguiu se desviar dos objetos e seu agressor, apesar de preso, virou herói.

O premiê do Iraque, Nuri al-Maliki, protege o presidente dos EUA, George W. Bush, de sapato arremessado por repórter iraquiano durante coletiva em Bagdá  — Foto: AFP
O premiê do Iraque, Nuri al-Maliki, protege o presidente dos EUA, George W. Bush, de sapato arremessado por repórter iraquiano durante coletiva em Bagdá — Foto: AFP

Já Osama bin Laden, o objetivo inicial dos EUA para vingar a morte de três mil vítimas inocentes nos atentados de setembro de 2001, se manteve foragido por dez anos.

Sua execução, em maio de 2011 em um complexo em Abbottabad, perto da capital paquistanesa, evidenciou também o jogo duplo do Paquistão com o governo americano, ao abrigar terroristas da al-Qaeda e seus aliados do Talibã.

A morte do líder da Al-Qaeda serviu também como ponto de inflexão para o cético Joe Biden, então vice-presidente de Barack Obama e defensor da retirada das tropas americanas de uma guerra invencível no Afeganistão.

A crença de que os EUA deveriam encerrar a era de operações militares para a reconstrução de nações se fortaleceu a ponto de ele aceitar, já empossado presidente, o malfadado acordo com o Talibã firmado pelo antecessor Donald Trump.

A rápida ascensão do Talibã comprovou, em menos de um mês, a fragilidade do vultoso investimento em treinamento e ajuda americana ao governo afegão nas últimas duas décadas. Tal como entraram no Afeganistão, os EUA abandonaram o país humilhados pelo terror. E agora as divisões internas partidárias não darão trégua a Biden.

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G1

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