Diário de São Paulo
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Sob risco de fiasco e pressão de China e Rússia, EUA tentam mostrar força com Cúpula das Américas

Presidentes do México, da Bolívia e de Honduras não irão, em protesto contra exclusão de Cuba, Nicarágua e Venezuela. Presença de Argentina e Brasil devem salvar EUA de 'humilhação'.

CHINA
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Redação Publicado em 07/06/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h19


Depois de passar semanas diante do temor de protagonizar um fiasco e de ameaças de boicote, o governo do americano Joe Biden chega à 9ª edição da Cúpula das Américas, em Los Angeles, com a expectativa de fazer do evento uma virada na política internacional dos Estados Unidos, apesar das baixas e polêmicas entre os participantes.

Os americanos veem o evento como uma oportunidade para “construir uma nova agenda e um novo entendimento do que é importante para o continente americano hoje”, afirmou à BBC News Brasil o ex-embaixador dos EUA para o Brasil Thomas Shannon.

Mas não só. Diante da competição com a China por influência na área e da tensão com a Rússia, em meio à Guerra da Ucrânia, a Cúpula representa para os americanos a chance de unir o continente em torno da liderança do democrata Biden, que proporá ao menos cinco declarações conjuntas a seus pares, com políticas e planos para temas como conservação ambiental, mudanças climáticas, democracia e resiliência à pandemia. Migração e fortalecimento de cadeias de produção e suprimentos também estarão na mesa.

Em seus propalados objetivos, a Cúpula das Américas organizada pelos americanos ecoa noções da chamada Doutrina Monroe, com seu ideal de a “América para os Americanos”. O ideário, lançado em 1823, para pregar a não interferência dos europeus sobre suas ex-colônias no continente, recebeu diferentes leituras ao longo dos séculos, mas sempre se resumiu à noção de que os americanos buscavam primazia (ou interferência) política no continente.

“Essa retórica ainda existe, mas na prática os EUA perderam as principais narrativas na região, sua legitimidade está abalada com a crise à sua própria democracia e o governo não possui meios para competir com os chineses em investimentos em infraestrutura e inovação, o que ficou evidente com o caso da Huawei”, afirma Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, mencionando a gigante tecnológica chinesa que terá importância nas redes de 5G de países da região, como o Brasil, apesar das tentativas dos americanos de fazer com que os latinos excluíssem a Huawei de suas operações.

A julgar pelo acidentado percurso que leva parte dos líderes da região à cidade da Califórnia na segunda semana de junho, os resultados simbólicos e práticos do evento para os EUA seguem sendo dúvida.

A principal ausência no evento, o presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador, conhecido como AMLO, cumpriu sua promessa de não participar da Cúpula se os governos de Nicarágua, Cuba e Venezuela não fossem convidados a comparecer também.

Os EUA se recusaram a enviar convites às equipes do nicaraguense Daniel Ortega, do cubano Miguel Díaz-Canel e do venezuelano Nicolás Maduro, a quem Washington qualifica como ditadores e violadores dos direitos humanos. Nos EUA, as diásporas cubana e venezuelana são politicamente poderosas e decisivas para disputas como as eleições parlamentares de meio de mandato, que acontecerão em novembro. E um convite de Biden aos governantes desses países cairia mal nas comunidades.

"América para os americanos": Doutrina Monroe pregava que a dominação no continente deveria ser dos EUA — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

“América para os americanos”: Doutrina Monroe pregava que a dominação no continente deveria ser dos EUA — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

A exclusão deu a alguns líderes na região, especialmente aqueles cujo eleitorado é de esquerda, a condição de confrontar os americanos e recolher pontos em sua política doméstica, ao se posicionarem contra a decisão da Casa Branca, como AMLO.

E deu aos chineses a possibilidade de alfinetar Washington. “Cuba, Nicarágua e Venezuela não são países das Américas?” ironizou Zhao Lijian, porta-voz do Ministério de Relações Internacionais da China.

G1
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