-Canalha! Quinze anos de anos de casamento e me trocou por esta vagabunda. Luci está alteradíssima e o clima está pesado no processo de divórcio litigioso que
Redação Publicado em 29/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h06
-Canalha! Quinze anos de anos de casamento e me trocou por esta vagabunda. Luci está alteradíssima e o clima está pesado no processo de divórcio litigioso que ela move contra João. O juiz Lopes Guimarães pensa: belo início de maio – mês das noivas.
Tiveram dois filhos, Joãozinho de oito e Luciane, de seis, maiores atingidos pelas consequências das brigas e dos desentendimentos comuns num final de casamento.
Casaram-se apaixonados, tudo cor-de-rosa e curtiram alguns anos o casamento sem filhos. Formaram patrimônio, viajaram, passearam, adoravam a noite. E ao final resolveram ter filhos e mudou a relação do casal – o casamento entrou em declínio.
João começou a beber, tarde em casa sem explicações. Ela mais fria, tornou-se distante, e, na intimidade o que era efervescente quase congelara. Não se entendiam mais e discutiam por dinheiro.
Ele saiu de casa e tentou mediação para resolver amigavelmente. Não evoluía. Formalizou-se a separação de corpos. Ela se sentia doída. Tudo piorou quando soube que João estava saindo com uma mulher mais jovem, a estudante Yasmin.
Luci resolveu radicalizar e contratou especialista na área e anunciou: quero tirar até as calças dele. Pensão para as crianças e para mim. Bens comigo e não quero meus filhos em companhia desta biscateira. O advogado Meirelles ponderava que deveria ser mais razoável, mas Luci insistia: queria pensão de 80% do salário de João.
Discussões nestes processos são pouco jurídicas. Pirraças, ressentimentos, teimosias e objetivo de obter vantagem econômica. Eis as Varas de Família em todo o Brasil. Raros os casos em que casais conseguem fazer a travessia do divórcio de forma civilizada.
Lopes Guimarães era magistrado sereno e sensível. Mas percebeu que o caso não seria fácil – era resiliente, com fé infinita no ser humano. E resolveu arriscar. Determinou que as demais pessoas saíssem e ali ficaram Luci, João e seus advogados, além da Promotora de Justiça Vera. Falou com a voz dos justos, fez apelo a Luci invocando os filhos.
Relembrou o passado positivo do casal e a imagem que ficaria se se entendessem ali. Sugeriu a solução da guarda compartilhada dos filhos, que ficariam em semanas alternadas com o pai e a mãe, que dividiriam em partes iguais as despesas deles já que ambos tinham bons empregos e salários. Férias, feriados e aniversários alternados e patrimônio adquirido durante o casamento dividido por igual. Luci não conteve as lágrimas e aconselhada por Meirelles, assinou o acordo. O amor aos filhos falou mais alto.
*A crônica “Divórcio” é uma versão adaptada da original publicada na obra “50 Tons da Vida” pela Ateliê Editorial, em 2018 com prefácio de Mário Cortella.
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