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Rio: Professor de jiu-jítsu morto perguntou de filho e orou pela vida após tiro

“Por que eu vou morrer por uma guerra que eu não tenho nada a ver com isso?”. Foram essas as últimas palavras ditas pelo professor de jiu-jítsu Samuel Peixoto

Rio: Professor de jiu-jítsu morto perguntou de filho e orou pela vida após tiro
Rio: Professor de jiu-jítsu morto perguntou de filho e orou pela vida após tiro

Redação Publicado em 11/02/2020, às 00h00 - Atualizado às 16h48


Jovem de 25 anos foi um dos três mortos no Morro da Mineira, no Complexo do São Carlos, após briga entre facções rivais e tentativa de invasão no local

“Por que eu vou morrer por uma guerra que eu não tenho nada a ver com isso?”. Foram essas as últimas palavras ditas pelo professor de jiu-jítsu Samuel Peixoto da Silva, de 25 anos, um dos três mortos na guerra de facçõesno Morro da Mineira, no Complexo do São Carlos, na noite de domingo. Na manhã desta terça-feira (11), pouco antes do velório, o pai do rapaz, o balconista Edmar Peixoto, de 69 anos, lembrou da pergunta do filho.

“Ele voltava do trabalho quando foi atingido. Depois de baleado , ele ainda correu e tentou se esconder perto de uma caçamba de lixo. Um amigo dele disse que o meu filho pediu ajuda para ser salvo e queria ir para o hospital”, lembrou Edmar.

Segundo o pai, após ser socorrido, Samuel ainda perguntou sobre o filho de três meses e fez uma oração pedindo para que Deus o salvasse.

“Está doendo porque jamais esperava que iria acontecer isso com um dos meus filhos. Não esperava que fosse dessa maneira. A lógica teria que ser eu ou a minha esposa (a morrer primeiro). Ele era novo, cheio de futuro”, contou o balconista.

Durante o velório do rapaz, que acontece na Igreja Assembleia de Deus Cidade Nova – Congregação Catumbi 2, a mãe do rapaz chegou a passar mal. A sogra de Samuel também não se sentiu bem. Cerca de 50 pessoas acompanham as diversas homenagens feitas ao professor. Uma delas foi dos alunos do jovem, que vestiram o quimono em homenagem ao mestre.

“Essa guerra não é nossa”, diz mestre de Samuel

Mestre de Samuel por 14 anos, Carlos Augusto Lima Cardoso, de 40, lembra que o rapaz sempre foi esforçado e amava o que fazia. Durante o velório, Cardoso criticou a violência no estado.

“Criamos aquele projeto para dar o melhor para aquelas crianças que não tem. Ele era um pai para as crianças e elas perderam esse pai. Se o professor perde um filho, imagina os alunos que perdem um mestre. Ele era o Samuel lutador, pai de família, um guerreiro que estava trabalhando para levar algo a mais para o filho. Está doendo muito”, disse.

No final do ano estava programado uma surpresa para ele. Samuel passaria a ser faixa preta. Mas a fatalidade terminou com o sonho do jovem lutador. O mestre sonha que a guerra entre o tráfico termine.

“Essa é uma guerra que não é nossa. Estamos sendo vítimas de uma guerra que não é nossa. A cada dia essa guerra aumenta. Morreu um trabalhador. O nosso sonho é que essa guerra um dia acabe é que a paz volte a reinar é que haja amor entre o próximo. Ele fazia um trabalho de mototáxi a noite, porque estamos vivendo em um país em crise e é difícil criar um filho pequeno sem muitos recursos. Ele foi atrás do mais digno, correto, e infelizmente aconteceu isso”, diz.

iG

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