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Raulzinho celebra ótima fase nos Wizards e ressalta aprendizado com os astros Westbrook e Beal

No universo da maior liga de basquete do mundo os holofotes invariavelmente cortejam superastros do calibre de LeBron James, Giannis Antetokounmpo, Luka

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Redação Publicado em 19/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h43


Convidado do podcast Ponte Aérea, brasileiro falou sobre seu papel no Washington Wizards, planos para o futuro na liga, convívio com a dupla de craques Russell Westbrook e Bradley Beal, e claro, sobre as dificuldades impostas pela pandemia fora da bolha de Orlando

No universo da maior liga de basquete do mundo os holofotes invariavelmente cortejam superastros do calibre de LeBron James, Giannis Antetokounmpo, Luka Doncic, Kevin Durant, entre outros tubarões. A NBA, no entanto, não é formada apenas por medalhões de salários astronômicos. Para a grande maioria dos jogadores da liga, viver o sonho da NBA é mergulhar em uma batalha diária por espaço nas equipes.

Aos 28 anos, o mineiro Raulzinho Neto vem tendo sucesso nessa batalha por espaço, e não por acaso vive o sonho da NBA há seis temporadas. Para se ter uma dimensão desse combate contínuo, Raulzinho é um dos três únicos jogadores escolhidos na segunda rodada do Draft de 2013 que ainda têm o privilégio de atuar na NBA. Entre os 30 nomes da “turma do fundão” daquele recrutamento, além do brasileiro apenas o ala James Ennis e o pivô Mike Muscala seguem na liga. Nomes como Allen Crabbe, Glen Rice Jr e Álex Abrines, por exemplo, estão na Europa ou na Ásia.

Raulzinho em ação contra o Heat — Foto:  Stephen Gosling/NBAE via Getty Images

Raulzinho em ação contra o Heat — Foto: Stephen Gosling/NBAE via Getty Images

E a temporada 2020-2021, apesar de todas as dificuldades impostas pela pandemia, já se mostra especial para Raulzinho. Após quatro anos com o Utah Jazz e um com o Philadelphia 76ers, o armador vive o melhor momento da carreira com a camisa do Washington Wizards. Numa conversa com a equipe do podcast Ponte Aérea, o brasileiro falou sobre seu papel no Washington Wizards, apontou aspectos que almeja melhorar no seu jogo, opinou sobre as dificuldades impostas pela pandemia, falou sobre o convívio com a dupla de craques Russell Westbrook e Bradley Beal, e também contou histórias engraçadas vividas na liga.

Evolução e bom momento nos Wizards

Em sua primeira temporada na NBA, em 2015-2016, Raulzinho pôde desfrutar de minutos valiosos para mostrar seu jogo. Em 18.5 minutos por partida, entregou ao Utah Jazz 5.9 pontos e 2.1 assistências. Em 2016-2017, sofreu com a concorrência de jogadores como George Hill, Dante Exum e Shelvin Mack na movimentada rotação do técnico Quin Snyder.

Em 2017-2018, uma série de lesões limitaram sua presença em quadra, mas ainda assim o armador contribuiu quando foi acionado, injetando energia defensiva no Utah Jazz. Na temporada passada, foi peça importante no Philadelphia 76ers de Joel Embiid e Ben Simmons, mantendo a média de 12 minutos por partida obtida na passagem pelo Jazz.

Agora, vestindo o mesmo azul, vermelho e branco só que dos Wizards, o jogador se vê diante das melhores marcas da carreira em eficiência (16.1, 1.1 acima da média da NBA), pontos (8.9) e roubadas da bola (1.0), percentual de arremessos de quadra (52.7% em 74 tentativas) e de três pontos (42.4% em 33 tentativas). Segundo o jogador, tudo está relacionado à confiança do momento e às oportunidades recebidas na capital americana.

– Acho que no final da temporada passada eu já comecei a demonstrar que tenho essa qualidade, que sou um armador de NBA, que sou um cara que pode pontuar, que pode fazer a diferença, e mantive essa mentalidade pra essa temporada. Acho que essa é a diferença, essa mentalidade, as oportunidades que eu tô tendo e a confiança que o time tem em mim. […] Quando você cai numa situação que o time confia em você, o técnico confia em você, te dá as oportunidades, isso pode mudar a carreira de um jogador – explica Raulzinho.

Embora o momento precise ser comemorado, Raulzinho sabe ainda há degraus a serem vencidos para que seu jogo seja ainda mais impactante na liga. Para o jogador, manter o bom percentual de aproveitamento nas bolas de três tendo um maior volume de arremessos é um objetivo para a sequência da temporada, algo que certamente lhe garantirá maior confiança por parte do técnico Scott Brooks, assim como consistência de minutos em quadra.

– Bola dos três é um aspecto cada vez mais importante no jogo que se eu melhorar, vai elevar o meu jogo ainda mais. Já estou com um aproveitamento bom. Além disso, a consistência. Um jogo entro de titular, jogo vinte e tantos minutos, no outro jogo eu jogo dez, no outro jogo cinco. Essa inconsistência de minutos às vezes atrapalha meu jogo – revela o jogador.

Dificuldades impostas pela pandemia

Diante de uma realidade bem mais complexa do que a realização da sequência da temporada passada no ambiente controlado da bolha da Disney, em que a atual temporada tem sido marcada pelo aumento do número de infecções por Covid-19 entre jogadores, a NBA decidiu endurecer seu protocolo de prevenção à Covid-19. O Washington Wizards de Raulzinho é um dos times mais afetados nesse contexto, com seis casos positivos já confirmados e cinco partidas adiadas até essa terça-feira (19). O brasileiro se mostrou responsável em relação ao problema e comentou as ações tomadas pela cúpula da liga.

– Não quero pôr ninguém numa situação de… eu não vou sair, ir no shopping, pra bar, encontrar pessoas e acabar pondo o time todo em risco. […] Fora de uma bolha é difícil controlar trezentos e tantos jogadores, mais os técnicos, mais os assistentes, as pessoas que trabalham nos ginásios. Vai haver pessoas testando positivo. Mas acho que a gente como jogador tem que seguir as regras, e a NBA vai fazer a melhor escolha e vai tomar as melhores decisões possíveis pra que a gente possa estar seguro e que o jogo, e que a NBA possa continuar, né? – opina.

Raulzinho chega de máscara para partida dos 76ers na bolha — Foto: Ryan Stetz/Getty Images

Raulzinho chega de máscara para partida dos 76ers na bolha — Foto: Ryan Stetz/Getty Images

Além das restrições em relação aos treinos, ao comportamento em quadra, do confinamento e do isolamento em si, Raulzinho vê uma outra dificuldade trazida pela pandemia: a necessidade de adaptação em relação às mudanças constantes, aos jogos adiados, sem que o foco seja perdido.

– A gente como atleta, a gente tem esse foco de ‘estou treinando pra jogar amanhã contra o Utah Jazz, pra viajar depois de amanhã pra Detroit, mala pronta pra ir não sei pra que cidade, as coisas vão mudando e mudando, e acaba mexendo com você’. A gente tem que aprender e tentar se acostumar com isso pra que não afete dentro da quadra – observa o armador.

Ô, sorte! Westbrook e Beal como companheiros de time

Em seis anos de NBA, Raulzinho já teve a oportunidade de jogar ao lado de grandes nomes, como Rudy Gobert, Gordon Hayward, Donovan Mitchell, e mais recentemente Joel Embiid e Ben Simmons. Dessa vez, o armador tem o privilégio de dividir quadra com Russell Westbrook e Bradley Beal. Em relação ao explosivo Westbrook, Raul admite: é o adversário mais difícil de se marcar. O brasileiro confessa que ao saber da troca envolvendo o craque e John Wall, ficou mais sossegado.

– Quando ele veio pro Washington eu fiquei até um pouco aliviado, saber que eu não ia ter que enfrentar ele nos jogos. […] No treino ninguém tá vendo, sabe? Não tá sendo televisionado. O cara pode me destruir no treino e eu não vou contar pra ninguém. Ninguém vai saber – brinca Raulzinho aos risos.

Raulzinho tenta marcar Westbrook na temporada 2015-2016 — Foto: Melissa Majchrzak/Getty Images

Raulzinho tenta marcar Westbrook na temporada 2015-2016 — Foto: Melissa Majchrzak/Getty Images

O mineiro também fez questão de desconstruir a imagem de um Westbrook ruim de grupo e “caçador de estatísticas”. Para Raul, tudo não passa de uma impressão errada que o público tem do astro, um dos jogadores mais intensos da história da liga.

– Ele passa a impressão que é um cara que não se dá bem com os companheiros de time, que só reclama, e é totalmente o contrário. É um cara super gente boa, super positivo, tranquilo, não tem nada de individualismo nele. […] Ele vai pra todas as bolas, vai tentar dar o máximo, é um cara muito intenso e então acaba que os números acontecem naturalmente. Estou aprendendo bastante, é um cara que já está na liga há muito tempo, é All-Star há muitos anos, foi MVP, então é muito bom ter um cara como ele no time, é um líder natural – diz Raulzinho.

Raulzinho comemora cesta com Bradley Beal em jogo dos Wizards — Foto: Ned Dishman/Getty Images

Raulzinho comemora cesta com Bradley Beal em jogo dos Wizards — Foto: Ned Dishman/Getty Images

Outra estrela com quem o armador brasileiro tem tido a oportunidade de aprender é Bradley Beal. O ala-armador é atualmente o rosto da franquia. Um talento ofensivo capaz de tomar de assalto qualquer partida. Não por acaso, Beal é o cestinha da temporada 2020-2021 com média de 34.9 pontos por jogo, 4.3 a mais que Kevin Durant, o vice-cestinha. Raul ressaltou o fato de Beal ser o chamado “boa praça”, humilde e “cara família”. Em quadra, o brasileiro considera Beal, juntamente com Joel Embiid, o maior talento com quem já jogou.

– Ele arremessa dos dois, arremessa dos três, bate pra dentro, faz o time jogar, não é um cara fominha a ponto de tomar decisões erradas só porque ele quer pontuar […] Na defesa é um cara que não faz corpo mole porque é o nosso cara no ataque. Ele quer marcar, quer marcar o melhor jogador, cava falta de ataque, coloca o corpo dele em situações que às vezes os outros têm medo, é um cara muito competitivo – lembra Raulzinho.

Grandes memórias e pequenos ‘causos’

Entre as grandes memórias de sua jornada na NBA, Raulzinho tem carinho especial pelo dia em que foi draftado. Filho de Raul Togni Filho, ex-jogador de basquete com passagem pelo Bauru e fã incondicional de John Stockton, o armador viu o pai se derreter na noite de 27 de junho de 2013. Raul foi selecionado pelo Atlanta Hawks com a 47ª escolha geral, mas acabou trocado na mesma noite justamente para o Utah Jazz, franquia onde Stockton, ídolo de seu pai, fez história.

– Meu pai foi muito emotivo. Eu lembro no dia seguinte que a gente estava em Utah, tirando as fotos, entrevista e tal, e ele estava chorando sozinho, sabe? Só de estar lá acompanhando, de estar lá comigo ele estava sentindo essas emoções. Foi muito legal – conta Raulzinho.

Raulzinho em 2013, recém-trocado para Utah Jazz após o Draft — Foto: Melissa Majchrzak/Getty Images

Raulzinho em 2013, recém-trocado para Utah Jazz após o Draft — Foto: Melissa Majchrzak/Getty Images

O começo em uma das maiores ligas esportivas do mundo não foi marcado apenas por momentos emotivos. Houve espaço para ‘causos’ e histórias engraçadas também. Todo calouro que chega à NBA, principalmente os que não são de loteria (“de grife”), acabam recebendo uma espécie de trote, em que os veteranos lhe destinam serviços chatos, como carregar equipamentos pesados, usar adereços femininos ou infantis. Raul lembra bem de seu primeiro “batismo” como calouro.

– A gente fez um jogo de pré-temporada no Havaí contra os Lakers do Kobe, até. Tivemos um jantar do time e contrataram uma mulher que fazia danças havaianas. Então fizeram eu e o Trey Lyles, que éramos os dois rookies (calouros)… a gente teve que subir no palco e fazer a mesma dança da havaiana lá – lembra Raulzinho às gargalhadas.

Manter papel relevante no Washington é o foco

Embora o momento pessoal de Raulzinho seja especial, o Washington Wizards ainda tenta se encontrar na temporada. A equipe ocupa apenas a 14ª posição da Conferência Leste, e embora tenha o sexto ataque mais eficiente da NBA, tem a segunda defesa menos eficiente.

Na opinião do brasileiro, pequenos ajustes como a melhora da comunicação nas ações defensivas podem render frutos mais à frente. Em seu horizonte, Raul busca se manter relevante no time. E então, quem sabe, virá a recompensa de cumprir um papel de coadjuvante de qualidade em um mata-mata.

– Meu sonho é manter o que estou fazendo. Aproveitar cada minuto. Estou indo bem, mas quero ser um pouco mais consistente nos jogos. Tive alguns jogos que não fui tão bem, errei algumas bolas que eu não queria errar, posso ajudar mais defensivamente com essa comunicação que tá faltando. Meu objetivo é terminar a temporada com esse mesmo papel que tenho no time, o cara que termina o jogo, que é importante, e que a gente consiga entrar nos playoffs – anuncia o brasileiro.

Raulzinho roubou a cena na derrota dos Wizards — Foto: Ned Dishman/NBAE via Getty Images

Raulzinho roubou a cena na derrota dos Wizards — Foto: Ned Dishman/NBAE via Getty Images

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GE – Globo Esporte.

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