Depois da saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação (MEC), Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, passou a ser o principal alvo de críticos do
Redação Publicado em 19/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h11
Depois da saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação (MEC), Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, passou a ser o principal alvo de críticos do governo de Jair Bolsonaro.
Dentre as principais situações associadas ao ministro, estão a fala sobre “ passar a boiada ” – dita em reunião ministerial em 22 de abril deste ano -, a suposta omissão de dados sobre crimes ambientais e a interferência em órgãos de fiscalização como o Ibama.
As crescentes polêmicas envolvendo Ricardo Salles tendem a enfraquecer o governo Bolsonaro e desgastar ainda mais a chamada “ala ideológica”. Mas afinal, o que é essa ala e como ela vem sofrendo esse desgaste?
De acordo com a pesquisadora e professora Jacqueline Quaresemin, a ala ideológica é um grupo que integra o alto escalão do governo Bolsonaro.
Formado por aliados de Jair Bolsonaro , filhos do presidente, políticos e “gurus”, o grupo tem como principal característica “negação da história, da ciência e da realidade, entre outras questões complexas que a humanidade conseguiu evoluir (direitos civis e humanos, paz, democracia etc.)”, afirma a professora.
Ela explica, ainda, que o fenômeno não é exclusivo do Brasil, mas que os estragos aqui são “consideráveis”. “Tal negacionismo histórico não é um fenômeno brasileiro, mas aqui está fazendo estragos consideráveis porque sacraliza alguns “conceitos” e ali “rezam” todo dia, disseminando-os via redes digitais. É o caso na nominação “comunistas” a quaisquer críticas ao governo para ocultar sua face antidemocráticas”, diz Jacqueline.
O desgaste da ala ideológica acelerou durante a pandemia de Covid-19, uma vez que o governo não seguiu os protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e confundiu a população sobre a gravidade da situação. Além disso, segundo Jacqueline, outras situações colaboram para o desgaste do grupo.
Dentre eles, de acordo com a professora, estão “a interferência familiar, o excessivo número de militares no governo, os constantes ataques às instituições democráticas e imprensa etc., e, principalmente, o desmonte de políticas públicas inclusivas”, as quais Jacqueline classifica como “importantíssimas” para o Brasil.
“Além de ter um governo tutelado por militares , com redução da participação civil e consequências imprevisíveis para políticas em áreas importantes como Educação e Cultura”, continua a pesquisadora.
Além da ala ideológica, dois outros grupos se relacionam com o governo de Jair Bolsonaro: a ala militar e o chamado “centrão”. O último começou a ganhar mais notoriedade recentemente, quando passou a negociar cargos com o presidente em troca de uma base de apoio no Congresso.
Com essa aproximação, começou a especular-se que a ala ideológica perderia força dentro do governo. Entretanto, Jacqueline diz acreditar que isso não acontecerá, uma vez que seus membros ovapoiam incondicionalmente enquanto que os membros do centrão querem “ampliar a participação nas esferas de poder e cargos federais” e permanecerão fiéis enquanto forem beneficiados.
“Não há substituição porque a ‘ala ideológica’ dá apoio incondicional e se articula de um campo político mais conservador até a extrema direita. O Centrão tem espectro político mais amplo embora também envolva a direita, e será fiel enquanto se beneficiar de cargos, poder e emendas parlamentares.”, afirma a professora.
Alguns segmentos econômicos que apoiaram Bolsonaro estão percebendo o impacto das decisões na imagem do país no exterior, que está “deteriorando investimentos e exportações”. Algumas das decisões que afetam a área econômica estão ligadas ao Meio Ambiente , comandado por Ricardo Salles.
Ao comentar essas decisões e a relação delas com o desgaste da ala, Jacqueline diz que a “preocupação com a questão ambiental” está cada vez maior entre as empresas e investidores.
Ou seja, a linha de ação atual do Ministério do Meio Ambiente pode levar a um afastamento ainda maior de investidores, o que resultaria em menos apoio no Brasil, desgastando ainda mais Salles e a ala ideológica.
Entretanto, Jacqueline diz que não é possível afirmar que o ministro deixará no governo, mesmo enfrentando tantos problemas.
Na noite da última quinta-feira (16), Bolsonaro disse que irá manter Salles à frente do ministério e minimizou o desmatamento e as críticas ao trabalho do ministro, atribuindo-as à uma “guerra de informação”. Entretanto, segundo a TV Globo , o governo estaria analisando a situação do ministro por conta da supracitada imagem desgastada.
IG
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