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Após pressão de Wassef, processo de delação da JBS voltou a Aras cinco vezes

O processo envolvendo a renegociação do acordo de delação premiada da JBS voltou cinco vezes para o gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras

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Redação Publicado em 22/08/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h17


Nesta semana, PGR abriu investigação para saber se o advogado da família Bolsonaro recebeu dinheiro ilegal da empresa

O processo envolvendo a renegociação do acordo de delação premiada da JBS voltou cinco vezes para o gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras (foto), desde a investida feita pelo advogado Frederick Wassef em favor da empresa junto à PGR, com a ajuda do presidente Jair Bolsonaro.

Como Crusoé revelou nesta semana, Wassef foi à Procuradoria-Geral no dia 4 de outubro do ano passado para tratar do acordo de colaboração da empresa controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. Antes do encontro, Bolsonaro pediu a Aras para que Wassef, que era seu advogado e de seu filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, fosse recebido na PGR.

O presidente ainda telefonou, pessoalmente, para o subprocurador-geral José Adonis Callou de Araújo Sá, que tinha acabado de ser escolhido por Aras para coordenar o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR. Adonis recebeu Wassef em seu gabinete, mas encerrou a conversa logo que soube que o advogado de Bolsonaro não tinha procuração da JBS para tratar do processo.

O encontro ocorreu quando o processo físico da renegociação da delação premiada da JBS ainda estava na PGR. Segundo o registro de deslocamento processual no site do Supremo Tribunal Federal, a peça havia chegado à sede do Ministério Público Federal no dia 19 de setembro, uma semana antes da posse de Aras no comando da instituição.

Após a investida de Wassef no dia 4 de outubro, o processo retornou outras cinco vezes ao gabinete de Aras. A primeira vez foi no dia 9 de outubro, ou seja, cinco dias apos a visita do advogado dos Bolsonaro . A peça permaneceu na PGR até o dia 24 daquele mês, quando foi devolvida ao STF, para o gabinete do ministro Edson Fachin, relator do caso.

No dia 28 de outubro, o processo da JBS retornou ao gabinete de Aras, ficando até o dia 4 de novembro. No mês seguinte, a peça ficou outros três dias para análise do PGR. O maior período, contudo, foi entre março e abril deste ano, quando os autos da renegociação da delação dos irmãos Batista ficou mais de um mês e meio em poder da Procuradoria-Geral.

Nessa época, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo, braço-direito de Aras, já havia assumido a coordenação do grupo da Lava Jato no lugar de Adonis Callou. Em junho, o processo da JBS registrou mais uma passagem pela PGR, de pouco mais de 20 dias, antes de retornar ao Supremo.

Desde a gestão do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que assinou o acordo com a JBS em 2017, a PGR tem defendido a anulação da colaboração premiada , a maior já feita no país, porque os irmãos Batista omitiram fatos criminosos relevantes em seus depoimentos e continuaram praticando atos ilícitos no mercado financeiro.

Em novembro do ano passado, após a visita de Wassef, o próprio Augusto Aras chegou a defender a rescisão em mais um parecer enviado ao STF. Curiosamente, pouco tempo depois, a PGR passou a considerar a possibilidade de rever sua posição e iniciou, então, tratativas no sentido de repactuar o acordo com a JBS, cujo julgamento no STF chegou a ser pautado para o último dia 17 de junho, mas acabou adiado.

Como Crusoé revelou na última quarta-feira, 19, Wassef recebeu 9 milhões de reais da companhia de Joesley e Wesley Batista desde 2015. Segundo a JBS, o contrato com o ex-advogado do clã Bolsonaro previa a atuação dele em “inquéritos policiais” e não junto à PGR. Aras negou ter havido interferência de Bolsonaro no caso e disse que mantém sua posição contrária à repactuação do acordo com a empresa dos Batista. Wassef disse que não atuou para a JBS no caso da delação premiada.

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IG

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