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COLUNA

Um lado pouco conhecido da Rainha

Rainha Elizabeth II. - Imagem: Reprodução | BOL
Rainha Elizabeth II. - Imagem: Reprodução | BOL

Reinaldo Polito Publicado em 11/09/2022, às 09h06


A Rainha Elizabeth 2ª se foi. Será que a imprensa mundial deixou de noticiar algum detalhe da sua longeva existência? Será que se esqueceram de comentar as minúcias de seu longo reinado de mais de 70 anos? Com certeza, não. Um segundo após a sua morte, as matérias, que já estavam prontas, inundaram o mundo. As pessoas estavam ávidas por informações a respeito da Soberana.

Há um aspecto no perfil dela, entretanto, que merece uma análise especial: a sua comunicação. A monarca britânica proferiu poucos discursos durante o seu reinado, mas em todas as oportunidades em que falou em público se expressou de maneira exemplar. Só para dar ideia de como foram raras suas aparições como oradora, basta dizer que ao discursar no dia 5 de abril de 2020 era a quinta vez que se comunicava oficialmente com os britânicos. Reservava esses momentos para situações especiais. Nesse dia, por exemplo, procurou confortar e dar esperança aos britânicos na grande aflição provocada pela pandemia. Foram suas palavras:

“Aqueles que viverem depois de nós dirão que os britânicos desta geração eram tão fortes quanto todos os demais. Os atributos de autodisciplina, determinação tranquila e bem-humorada, além de companheirismo, ainda caracterizam este país”.

Era tudo o que seus súditos precisavam ouvir naquele instante tão angustiante. Nem mais, nem menos. Em uma frase apenas, elogiou as admiráveis características do seu povo, conclamou cada um a preservar esses atributos e mostrou nas entrelinhas o que poderiam esperar no futuro.

Algumas pessoas alegam que, devido às suas funções, precisam ser discretas, quase sisudas. Estão enganadas. É evidente que a comunicação leve e descontraída deve ser preservada para as circunstâncias adequadas. Cabe a cada um o discernimento de avaliar onde está a fronteira que separa a iniciativa jocosa da vulgaridade. Essa precaução, todavia, não deve impedir a presença de espírito.

Será que existe no mundo uma função que exija mais discrição que a da soberana britânica? Provavelmente não. Pois bem, a Rainha Elizabeth nos deixou bons exemplos de como é possível ser bem-humorado sem comprometer a imagem que deve ser resguardada.

Certa vez, ao visitar os Estados Unidos, ela passou por uma situação bastante constrangedora. O cerimonial norte-americano cometeu uma terrível gafe. Ela faria um pronunciamento nos jardins da Casa Branca. Como “depois do rei ninguém mais fala”, seu discurso fora programado em seguida ao do presidente George Bush. Não levaram em conta, porém, que o presidente era muito mais alto que ela. Assim que a Monarca chegou diante dos microfones, praticamente desapareceu. Sua fala ficou conhecida como o discurso do chapéu ou das listras, porque o chapéu listrado foi a única parte visível da Rainha.

Não se falou em outro assunto na Inglaterra e nos Estados Unidos. Na mesma semana ela teve de usar a palavra mais uma vez no Congresso americano. Sabendo que aquela cena do seu discurso na Casa Branca estava na cabeça de todos, aproveitou a circunstância e brincou com a plateia: “Espero que os senhores estejam me vendo hoje aqui na frente”.  O público riu muito com aquela tirada espirituosa.

Há um vídeo que corre pela internet ratificando essa característica bem-humorada da Soberana. O fato foi relatado por aquele que ocupou o cargo de agente de proteção e segurança da Rainha. Ele conta que estavam em Balmoral, local onde a Rainha passava temporadas no mês de maio, na Craigowan House. Relatou que ela costumava sair na hora do almoço para um piquenique. Em uma dessas oportunidades ele a acompanhou. No trajeto dois turistas americanos vieram na direção deles. Eles não reconheceram a Rainha. O rapaz perguntou quais os lugares onde estiveram no Reino Unido. Em seguida perguntou à Rainha: Onde a senhora mora? Ela respondeu: Em Londres, mas tenho uma casa de férias do outro lado do morro. Indagou ainda com que frequência ela ia àquele lugar. Ela disse: “Desde criança. Portanto, há mais de 80 anos”. Intrigado, ele comentou: “Se vem aqui há 80 anos, deve ter conhecido a Rainha?” Ela prontamente respondeu: “Não conheci, mas Dick aqui sempre se encontra com ela”. Na sequência o americano falou: “Você conhece a Rainha. Como ela é?”. O agente de segurança respondeu: “Ela é muito birrenta às vezes, mas tem um ótimo senso de humor”. O rapaz pôs o braço sobre o ombro dele, pegou a câmera e entregou a Rainha, pedindo que ela tirasse uma foto. Depois trocaram de lugar e Dick tirou uma foto dos dois turistas com ela. Ao se retirarem, a Rainha comentou: “Queria ser um mosquitinho para vê-lo mostrar essa foto aos amigos nos Estados Unidos”.

São bons exemplos da sua competência para se comunicar e do seu lado bem-humorado. Pois é, se ela podia fazer graça, por que não nós? Siga pelo Instagram: @polito

Sobre o autor

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Presidente Emérito da Academia Paulista de Educação. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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