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Por que a maioria dos políticos não passa credibilidade?

Por que a maioria dos políticos não passa credibilidade? - Imagem: Divulgação
Por que a maioria dos políticos não passa credibilidade? - Imagem: Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 08/10/2023, às 07h24


A minha conversa com os políticos que procuram o nosso curso de oratória para desenvolver a sua comunicação é na base do papo reto e assertivo. Faço algumas afirmações que os deixam perplexos.

Sem rodeios, olho no olho, falo pausadamente: político é ladrão, mentiroso e oportunista. Alguns percebem logo que essa contundência faz parte do treinamento. Outros, entretanto, ficam meio perdidos, sem saber o que está acontecendo. Após alguns instantes de pausa, suavizo a voz e esclareço o motivo dessa mensagem agressiva.

A falta de confiança

Explico que essa é a opinião da maioria das pessoas. Os eleitores não confiam nos políticos principalmente por causa dos exemplos negativos que se repetem o tempo todo. Essa conduta condenável faz com que muitas pessoas se sintam desanimadas e deixem de acreditar nas palavras dos candidatos.

Por isso, recomendo a eles que façam tudo o que puderem para afastar de suas apresentações essa imagem negativa. Precisam se conscientizar de que enquanto os ouvintes não acreditarem em suas palavras, dificilmente aceitarão as propostas que sugerirem.

A naturalidade

Não adianta falar com boa voz, com gesticulação harmoniosa, com vocabulário fluente, se, no final, o político não atingir os objetivos que deseja. O que vale na comunicação é o resultado. A sua oratória será considerada de boa qualidade se ajudá-lo a conquistar os votos de que precisa para vencer as eleições.

Um problema em boa parte dos políticos é o de falar com aquela voz gritada, com entonação peculiar de quem está o tempo todo no palanque. Atualmente, não é muito comum o candidato fazer comícios diante de grandes auditórios. Quase sempre falam para grupos reduzidos, em ambientes mais intimistas.

Para atingir esses objetivos, o candidato precisará se expressar de maneira espontânea, natural. É preferível até que cometa deslizes técnicos de comunicação, mas se apresente de forma natural, a usar bem todas as técnicas de maneira artificial.

Como disse Fernando Pessoa no poema “autopsicografia:

“O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente”

É evidente que não estou recomendando o erro como prática da expressão verbal. O acerto deve ser buscado com treino, estudo e experiência, mas esses atributos só terão valor se respeitarem o estilo, o jeito de ser de quem fala em público.

A emoção

Ainda que o candidato se expresse com correção e naturalidade, só essa qualidade não será suficiente para atingir o coração e a mente do eleitor. Além da espontaneidade, é necessário que ele fale com ânimo, com energia, com emoção. Como ele poderá pretender o envolvimento dos ouvintes, se não demonstrar interesse pela mensagem que transmite? Quintiliano diz na sua obra “Instituições oratórias”:

“Posso eu porventura esperar que o juiz se condoa de um mal, que eu conto sem dor alguma? Indignar-se-á vendo que eu mesmo, que o estou excitando a isso, sou o que menos me indigno? Fará parte das suas lágrimas a um advogado, que está orando com os olhos enxutos?”

A conjugação desses dois aspectos, naturalidade e emoção, é fundamental para a conquista da credibilidade. Portanto, esses são dois objetivos que precisam ser perseguidos em todas as circunstâncias pelo político - ser espontâneo e demonstrar disposição em transmitir a mensagem.

O domínio da técnica

A plateia confiará nas palavras dele se além de ser natural e falar com emoção demonstrar conhecimento e experiência sobre os assuntos que aborda. Aqui vale o domínio das técnicas de comunicação, pois só falando com desenvoltura e desembaraço é que passará aos ouvintes a ideia de que o assunto está ancorado nas suas atividades, nos seus afazeres, nas suas preocupações com o bem-estar da população.

É preciso ter em conta também que a técnica bem aplicada não irá suplantar o discurso vazio, inconsistente. Alguns vociferam que será preciso resolver o problema da saúde, da educação, da segurança, do emprego e do transporte. Quando, entretanto, são questionados sobre os planos para solucionar essas questões, não conseguem apresentar um programa consistente. Estão apenas repetindo o que os outros políticos já falam há muito tempo.

A coerência

O candidato não conquistará a confiança das pessoas se não demonstrar coerência entre as palavras que transmite e a maneira como se comporta. O discurso deve encontrar apoio na conduta pessoal. As palavras podem ser persuasivas, convincentes, estéticas, mas só tocarão a vontade do público se puderem ser respaldadas pelo comportamento coerente e exemplar. Não basta que o político seja sincero, ele precisará também parecer sincero.

Dessa forma, um político só poderá almejar os votos dos eleitores e, consequentemente, sua eleição, se conseguir se expressar com naturalidade, demonstrar envolvimento com a mensagem, tiver domínio da técnica oratória e agir com conduta exemplar.

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