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No 7 de setembro faltou povo para comemorar?

Luiz Inácio Lula da Silva e Janja. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva e Janja. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 10/09/2023, às 06h16


7 de setembro é uma data de idas e vindas nas comemorações brasileiras. Há momentos em que a população, imbuída de espírito cívico, alinhada com o governo de turno, vai às ruas para demonstrar seu contentamento. Em outras épocas, apartada das diretrizes governamentais, julga que não há o que celebrar e não participa.

Ou seja, se o país vive uma situação que interpreta o sentimento de liberdade, as pessoas aplaudem os desfiles. Se, entretanto, percebem que essa liberdade está sendo cerceada, protestam ficando em casa. Nos dois casos encontram maneira de participar.

Neste ano, Lula estava preocupado. O que menos os governistas desejavam era um 7 de setembro que pudesse ser comparado com os dos últimos anos. Sabiam que seria impossível chegar próximo, e menos ainda superar o que se viu nas ruas brasileiras durante a gestão Bolsonaro. Tudo indicava que seria um grande fracasso.

O governo “convidou” os funcionários públicos para que comparecessem. Tinha também uma frágil expectativa de que parte do eleitorado fizesse questão de mostrar sua solidariedade com a situação atual. Não deu. Os desfiles foram para ninguém.

Houve uma derradeira tentativa de se criar narrativas fantasiosas de que este sim é que foi um verdadeiro 7 de setembro. Disseram que atingiu o objetivo de celebrar a data, e não, como ocorreu nos últimos tempos, transformar as tribunas das autoridades em palanque político. Nem os mais crentes embarcaram nessa. Não colou.

Pouco antes do dia 7 de setembro houve uma divisão entre os opositores. Alguns julgavam que a população deveria comparecer em massa. Justificavam essa tese alegando que os brasileiros mostrariam que ainda possuem força de mobilização e que são patriotas, independentemente de quem esteja no governo.

Outros, na maioria dos pronunciamentos, ao contrário, insistiram para que todos ficassem em casa. Afirmavam que este silêncio seria um eloquente recado de que as pessoas não concordam com o que está acontecendo no país.

Venceu a turma do fica em casa. Em todos os cantos do território nacional as ruas e praças, onde geralmente o povo se reúne nas datas comemorativas, ficaram aos grilos. Nas mídias sociais, proliferaram os vídeos mostrando apenas aqueles que estavam desfilando. E desfilando para praticamente o vazio. Constrangidas, as autoridades acenavam e olhavam para as calçadas vazias. Essas cenas foram comemoradas pela oposição, pois, afinal, o protesto dos descontentes ficou evidenciado.

Não foi preciso legenda. Não houve necessidade de narração. Bastava dividir os vídeos em duas partes. Uma com as manifestações exuberantes do ano passado. Outra, a deste ano, com as grades de proteção sem um gato pingado para aplaudir. Está claro que o “zero” aqui é força de expressão, pois um ou outro curioso sempre aparece para dar sinal de vida. Mas povo que é bom mesmo, nadinha.

Talvez nunca tenha havido um desfile em que o final fosse tão esperado. Quanto mais as “festividades” se arrastavam maior era o desconforto das autoridades que se sentiam abandonadas. O sorriso amarelo. O olhar de cumplicidade pelo infortúnio daqueles que se ombreavam no palanque. Os protagonistas que desfilavam pelas ruas desertas, mais parecendo participar de um treino do que propriamente do jogo. As emissoras “amigas” fazendo de tudo para encontrar cenas fechadas, que poderiam induzir os telespectadores a pensar na “multidão” presente.

Entre atitudes aparentemente envergonhadas e tentativas de transformar o evento fracassado em uma razoável comemoração, o episódio foi daqueles para os governistas apagarem da história. Ou será que no futuro, mesmo com os malabarismos de uma narrativa ficcional, alguém do governo terá prazer em mostrar as imagens que agora correm para enfiar debaixo do tapete? Tudo indica que colocar uma pedra em cima e apagar essa página lamentável da nossa história será a melhor de todas as soluções.

Como eu disse, essa é uma data de idas e vindas nas nossas comemorações. Essa atitude da população, essa demonstração de repúdio ao não tirar os chinelos para ir às ruas algum dia vai mudar. Se não no próximo ano, já que será difícil colocar o trem nos trilhos até lá, talvez ainda nesse mesmo governo, desde que tome consciência de que um país deve ser administrado para beneficiar e dar esperança às pessoas, e não tirar delas qualquer perspectiva de uma vida melhor.

Ainda há tempo de reduzir o número de ministérios. De substituir os atuais ministros, escolhidos apenas para composições políticas, por outros que sejam competentes técnicos em cada área de atuação. De apresentar projetos que atendam efetivamente às necessidades do povo, e não apenas para satisfazer interesses ideológicos.

Basta virar a chave que as pessoas perceberão logo essa transformação. E aí sim, olhando para um país que aspiravam ter, poderão sair às ruas para comemorar não apenas o 7 de setembro, mas qualquer data que mereça ser celebrada.

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