Diário de São Paulo
Siga-nos
COLUNA

Lula será o maior adversário de Lula em 2026

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 17/12/2023, às 09h28


Os eleitores de Lula estão ainda enebriados com a conquista nas urnas, enquanto a oposição anda desanimada, imaginando que agora não há mais saída. De um lado comemoração, de outro frustração. Nem um nem outro, porém, tem motivo para se comportar assim. A situação não é tão boa para os lulistas que não possa piorar, e não é tão ruim para os oposicionistas que não possa melhorar.

O maior cabo eleitoral da oposição, que anda meio desanimada com os últimos acontecimentos políticos no país, é o próprio presidente Lula. Com sua ânsia irrefreável de aumentar impostos, de viver o tempo todo viajando para cima e para baixo, sem garantir investimentos externos para o Brasil, de defender ideias que não vão ao encontro do pensamento predominante da população, tem perdido apoio popular.

Por que essa consequência é relevante? Todo mundo sabe que a esquerda sem Lula não sobrevive. Embora tenham vencido as eleições, estão conscientes de que a vitória não ocorreu apenas por causa dos princípios progressistas que norteiam o PT e os outros partidos satélites. Quem conquistou os votos foi Lula.

Ventos favoráveis

Havia ainda a lembrança de dois governos bem-sucedidos. Temos de considerar que Lula chegou ao final da sua gestão com impressionantes 83% de aceitação popular. Um número admirável, e parodiando suas próprias palavras: nunca visto antes na história deste país.

Passado um ano das eleições, alguns começaram a perceber que os tempos são outros e que as promessas de campanha não passaram apenas de... promessas. A realidade se mostra diferente das pregações eleitorais.

O sucesso das duas primeiras vezes em que o petista esteve no poder foi catapultado pelo boom das commodities. Jorrava grana por todos os lados. Era o melhor dos mundos para quem estava na presidência do país. Cofres abarrotados e compradores batendo à porta.

Quem manda é a economia

Já no primeiro ano do terceiro governo, Lula se vê em dificuldades para pôr em prática seus projetos. Com sua filosofia de gastar o que tem e o que não tem, faltam recursos. E, mesmo elevando e criando impostos a torto e a direito, os valores arrecadados só caem.

Não há milagre. O que sustenta o prestígio de um presidente é a economia do país. Se as pessoas estiverem empregadas, recebendo bons salários, com comida na mesa e sem susto para pagar as contas básicas, ninguém reclama. Por que mudar se está tudo indo tão bem?

Se, ao contrário, as famílias passam necessidade, os provedores da casa estão desempregados e não conseguem pagar os boletos no fim do mês, não há discurso que resista. O culpado será sempre o governo. Por que continuar se tudo está indo tão mal?

Números preocupantes

Por isso, Lula se transformou no seu maior adversário. A última pesquisa IPEC aponta queda de cinco pontos na aprovação do presidente. O percentual que era de 56% caiu para 51%. Distante de qualquer margem de erro. O levantamento mediu também a administração do presidente. Entre regular, ruim e péssimo o total chega a desnorteantes 60%. Esses números acenderam a luz amarela entre os governistas.

O próprio Lula disse aos seus seguidores que, pelo fato de as pessoas terem melhorado a condição econômica e social e aprimorado o nível de instrução, ficou mais difícil envolvê-las com o discurso de sempre. O que vem pela frente não é animador.

DNA conservador

Lula também erra a mão ao imaginar que todos aqueles que votaram em seu nome são adeptos do comunismo. Não são. Muitos brasileiros que o escolheram para ocupar a cadeira presidencial são conservadores.

Não imaginavam que o petista poderia bater no peito e dizer que sente orgulho de ser comunista. Também não supunham que o presidente ficaria feliz pelo fato de ter conseguido emplacar no STF (Supremo Tribunal Federal) o primeiro ministro comunista.

Mas quem disse que o povo não aceita essa ideologia? O próprio povo. Pesquisa divulgada pelo Estadão mostra que 52% dos brasileiros desaprovam a indicação de Flávio Dino para o Supremo. E agora vem a pá de cal: 64% desses que são contrários têm essa resistência por causa da origem comunista do ministro eleito.

Receita indigesta

Essa será a luta de Lula e da esquerda para se manter no poder: desenvolver uma economia forte e pungente, mostrar que o discurso não é apenas parte de um processo retórico e que deve esquecer uma ideologia não condizente com o DNA da nossa população.

Cabe à oposição mostrar essas incoerências e desacertos para que a opinião pública comece mais uma vez a procurar outros ares. Como disse o filósofo francês Jean Baudrillard: “Não é possível prever o comportamento das massas – e é aí que está o poder de resistência”. Ou seja, não é porque o povo foi para um lado que continuará sempre no mesmo lugar.

Compartilhe  

últimas notícias