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José Dirceu parece renascer das cinzas

José Dirceu. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
José Dirceu. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 04/02/2024, às 10h05


De uns tempos para cá, José Dirceu, uma importante personagem da política brasileira parece ter renascido das cinzas. Alguns jovens, mesmo tendo abraçado as causas esquerdistas, pouco ouviram falar sobre ele.

Pergunte a um deles, de 16 a 20 anos, o que sabe sobre esse político. Talvez se recorde até do filho, Zeca Dirceu, líder da bancada do PT (Partido dos Trabalhadores) na Câmara dos Deputados, que tem se destacado por suas iniciativas. Sobre o “guerreiro do povo brasileiro”, entretanto, provavelmente, não.

Dirceu talvez tenha sido o maior estrategista da esquerda brasileira. Por muito pouco, muito pouco mesmo, ele não se tornou presidente do país. Tudo estava programado para que o ilustre ministro-chefe da Casa Civil do presidente Lula fosse o seu sucessor. Era tido como alternativa natural para o cargo.

O escândalo do Mensalão, porém, mudou a trajetória dos fatos. Confrontado pelo Deputado Roberto Jefferson, que desnudou toda a engrenagem de corrupção que havia com a compra de votos de parlamentares, Dirceu foi engolido no processo. O episódio foi surpreendente, pois ninguém ousava contrariar o todo poderoso José Dirceu. Até a imprensa tinha escrúpulos para mencionar seu nome em situações que o prejudicavam.

No final de 2012, Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de reclusão devido ao seu envolvimento no escândalo. A repercussão negativa dessa condenação fez com que o grande líder petista se afastasse da política. Aqueles que corriam para ser fotografados ao seu lado passaram a fugir dele como o diabo da cruz.A associação com a sua imagem, que era garantia de dividendos eleitorais, se transformara em perda de votos.

Com o fim da prisão em segundo grau, em 2019, Dirceu foi libertado. Afirmou a juíza da 1ª Vara de Execuções Penais de Curitiba, Ana Carolina Bartolamei Ramos: “No presente caso, restou que não há trânsito em julgado da condenação, tal como que esta teve início exclusivamente em virtude da confirmação da sentença condenatória em segundo grau”. E assim, como se nada tivesse acontecido, ele foi para casa.

Da sua soltura para cá, Dirceu trabalhou apenas nas sombras. Praticamente não se ouvia falar no seu nome. Nos últimos tempos, o passado parece ter ficado definitivamente para trás. Ele voltou! É impressionante o efeito dos artigos que escreve e das entrevistas que concede. Animal político por excelência, suas aparições não têm sido triviais.

O petista poderoso não se contenta apenas em dar declarações que morrem no final da leitura. Não. Como sempre fez, mede muito bem cada uma das oportunidades para transmitir mensagens que possam reverberar. E é exatamente o que tem acontecido. Suas palavras ganham eco instantaneamente e são reproduzidas não só por seus aliados como também pela oposição.

Um de seus discursos prediletos é o de admoestar a atuação do PT e da esquerda. Ora, um petista raiz como ele lavando roupa suja na grande imprensa chama a atenção. Provoca impacto! 

Se observarmos bem, sua aparente contundência não passa de jogo de faz de conta. Jamais critica Lula. Suas considerações em tom de censura não trazem prejuízo nem para o partido nem para o projeto de perpetuação da esquerda no poder.

Não perde oportunidade de defender a reeleição de Lula, pois advoga 12 anos de poder para o seu partido. O que dá a impressão de ser um ataque direto à esquerda, na verdade nunca ultrapassa a linha amarela. Ao dizer, por exemplo, que deve haver uma atualização política, teórica e de organização do PT, não defende nada diferente do que todos os políticos pregam nos dias de hoje.

Quem pode imaginar uma organização política sem um plano de modernização?! Dessa forma, ganha os holofotes, como se estivesse insatisfeito com os rumos adotados pela esquerda, mas no fundo usa de habilidosa estratégia para retornar à ribalta do poder.

Todos esses fatores, enfim, podem levar a conclusões equivocadas. Por isso, não se enganem aqueles que imaginam estar José Dirceu vociferando contra sua própria agremiação. Ele não dá ponto sem nó. No fundo, seu discurso tem objetivo definido – colocar seu nome na vitrine novamente e se cacifar para voos mais altos. Ou seja, reconquistar o extraordinário poder que já possuiu nos tempos de glória.

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