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Bolsonaro encarna o esperneio dos perdedores

Apoiadores de Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Milena Carvalho
Apoiadores de Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Milena Carvalho
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 01/01/2023, às 06h49


Nas últimas semanas recebi notícias de todos os lados. Enquanto os lulistas continuavam comemorando a vitória nas eleições, os bolsonaristas se alimentavam de esperanças. O povo na frente dos quarteis, debaixo de chuva, de sol e até de tempestades. Muita gente sem dormir, sem comer, se submetendo a toda sorte de sacrifícios.

À medida que os dias passavam, novas informações, cada vez mais bombásticas. Diziam que estava tudo pronto para uma virada de mesa no dia 29 de dezembro. Alguns nem dormiram alimentando essa expectativa. Terminado o dia, outras notícias surgiram. Dessa vez estava tudo armado para o dia 30. E mais, afirmavam que somente sete pessoas sabiam como seriam os acontecimentos. Pela manhã, Bolsonaro resolveu quebrar a fase de reclusão e fez uma live. O que será que ele havia reservado para a população tão ansiosa? Nada! Choro de perdedor.

Fez um balanço sobre as suas realizações, alertou sobre os perigos do novo governo, agradeceu o apoio...e só. Até seus seguidores mais fieis ficaram decepcionados. Imaginavam ouvir da boca do presidente o segredo guardado a sete chaves. Afinal, o grande líder não teria ficado em silêncio por tanto tempo para no final...não dizer nada.

Os mais crentes ainda insistiram. Foi só um blefe. Tudo estratégia para disfarçar o plano que seria posto em prática até o momento da posse. Não, diziam, Lula não vai subir a rampa. As Forças Armadas não vão permitir que a esquerda vermelha volte ao poder. E quando eram indagados de onde tiravam essas informações, a resposta era pronta: e você acha que tudo o que está acontecendo foi por nada? Sim, mas qual a origem dessas informações? Bem, essa é a minha opinião.

O mais triste da história é que alguns desses irresponsáveis alimentaram sonhos em boa parte da população sem nenhuma base para o que diziam. Uma coisa é trocar mensagens pelo WhatsApp com familiares, amigos e conhecidos, outra, diferente, é publicar essas fantasias em canais com grande audiência.

Pelo menos Bolsonaro deixou uma mensagem relevante em sua live de despedida: o Brasilnão vai acabar no dia 1º de janeiro. A vida continua. Agora os brasileiros, mesmo aqueles profundamente desesperançados, estão mais vigilantes, mais bem-informados, mais vocacionados para a política. Lula governou no passado sem oposição. Os seus “adversários” do PSDB não apenas não contestavam, como batiam bumbo para o que acontecia.

O novo governo, antes mesmo de assumir, com seus delírios de gastanças, percebeu que nem todo mundo vai concordar com planos mirabolantes sem reagir. Os deputados e senadores que se elegeram na onda bolsonarista sabem que, se agirem para se beneficiar, serão cobrados nas próximas eleições, como ocorreu em 2022 com muitos daqueles que não conseguiram se reeleger.

Os que votaram em Lulaesperam dele iniciativas que possam melhorar a vida dos brasileiros. Nem esses que ajudaram o líder petista a se eleger aceitarão desmandos. A vida não será tranquila como foi nas gestões passadas. Não importa que a pessoa seja de esquerda ou de direita. Se votou a favor de Lula ou contra o Bolsonaro. Não aceitarão de novo que se empreste dinheiro para países que nunca quitarão seus compromissos, aceitando garantias que jamais poderão ser cobradas. Que se infle a máquina pública apenas para sustentar a sede de poder. Que aumente impostos porque não consegue diminuir os gastos públicos. Que faça alianças com outros países só por questões ideológicas.

Com esses olhos atentos dos brasileiros, os governantes precisarão ter mais cautela, pois, em época de campanha é muito fácil fazer promessas. Na prática, entretanto, as medidas populistas, que agradam a população no momento em que são implantadas, lá na frente exigirão que os pés voltem ao chão.

Os processos de impeachment são traumáticos e devem ser evitados. No entanto, são um alerta para quem estiver no governo e não tomar cuidado com suas decisões. Já aconteceu uma vez. Duas vezes. Nada impede que possa acontecer de novo. Vamos torcer para que tudo corra bem para o Brasil. Para o nosso bem, quanto melhor, melhor.

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