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Bolsonaro é investigado por suposta importunação de uma baleia-jubarte

Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais

Reinaldo Polito Publicado em 19/11/2023, às 09h40


Um vizinho no antigo prédio onde morei ostentava um grande cartaz no vidro do seu carro: “Salvem as baleias”. Para ter esse tipo de preocupação, a ponto de alertar todo o mundo a respeito desse perigo, os bichinhos precisavam mesmo ser protegidos. A questão que todos levantavam era: “O que eu posso fazer para cuidar delas?”.

Passados tantos anos, talvez o segredo tenha sido desvendado. Uma boa iniciativa seria a de vigiar Bolsonaro. Assim estaríamos contribuindo para evitar a extinção das baleias. Não, não se trata de ficção nem de fake news. O Ministério Público Federal está apurando se Bolsonaro importunou uma baleia-jubarte no litoral de São Paulo. Tentam descobrir se o homem que pilotava um jet ski a uma distância aproximada de 15 metros era mesmo o ex-presidente.

O novo crime de Bolsonaro

O crime de importunação tem agravante. O “criminoso” estaria empunhando um celular para fazer gravações. Segundo os procuradores, o animal apresentava um comportamento aéreo, aparecendo na superfície das águas batendo a nadadeira peitoral e a cauda. O crime está previsto na lei que proíbe a pesca ou molestamento intencional de baleias.

Há pouco tempo, eu estava pensando: o que mais falta para acusarem Bolsonaro de crime? Já tentaram de tudo. Só para citar dois casos que entraram para o folclore da história política brasileira tivemos os episódios do leite condensado e do Viagra.

Fizeram um escarcéu. Trataram do tema como se o ex-presidente fosse um grande criminoso. No fim, não deu em nada. Eram só assuntos que tinham por objetivo desgastar a sua imagem ou servir como nuvem de fumaça. Quando tudo parecia ter chegado ao fim, sem mais nada debaixo do tapete, eis que surge esse possível e grave crime de importunação de uma baleia.

Será que haverá vida após a morte?

Quase um ano fora da presidência, tornado inelegível por ter feito uma reunião com embaixadores, não passa uma semana sequer sem que arrumem algum assunto para desgastá-lo. São fatos que ocupam as primeiras páginas dos jornais e que com o tempo vão desaparecendo até se transformar em notas de rodapé.

Parece que essa é a sina dos grandes combatentes, daqueles que travam lutas ideológicas.Edmund Burke e Thomas Paine, por exemplo, foram ferrenhos adversários. Burke ficou para a história como sendo o pai do conservadorismo, enquanto Paine se transformou em bandeira progressista. Digladiaram tanto que temeram o que poderia ocorrer com seus corpos depois de mortos.

Onde foi parar o corpo?

Burke Já bastante doente em 1797, disse que tinha grande preocupação. Se os franceses mais extremados e seus pares da Grã-Bretanha conseguissem caminhar com a revolução, poderiam exumar seu corpo para usá-lo como exemplo. Por isso, instruiu seus amigos que o enterrassem em uma cova anônima, longe de onde estivessem sepultados o filho e a esposa. Paine também teve os mesmos temores. No fim, os familiares de Burke o enterraram ao lado do filho e onde quinze anos depois também estaria sua esposa. Paine teve como “local de descanso” a sua fazenda.

A profecia, entretanto, foi consumada. Dez anos depois da sua morte, Paine foi “roubado” de sua sepultura por um radical inglês. Ele desejava levar o corpo para a Grã-Bretanha e erguer ali um memorial. Não deu certo. O governo se recusou a construir o monumento. Com essas idas e vindas os seus restos mortais foram perdidos.

Se Bolsonaro continuar incomodando a esquerda como tem feito nos últimos anos, corre o risco de não ter sossego nem depois da morte. Enquanto está vivo foi ou é alvo dos mais diversos crimes: golpe no 8 de janeiro, joias sauditas, apologia ao estupro, pandemia, uso indevido dos programas sociais com fins eleitorais. Somando tudo chega a quase 30.

Competição de capivaras

Nem o pessoal do crime que rondou e frequentou as instalações do Ministério da Justiça conseguiu reunir capivara tão portentosa. E para que o imbróglio continuasse, digamos, em águas revoltas, aparece agora a história da baleia. Tudo indica que esse mamífero marinho irá frequentar por um bom tempo as manchetes dos principais meios de comunicação, até que assim do nada resolva submergir.

Qual seria, todavia, uma boa pena para quem estressasse uma baleia? Talvez algumas sessões de psicoterapia. Como a baleia-jubarte, devido a sua estrutura óssea auditiva, consegue ouvir qualquer som debaixo da água, essa conversa poderia ser a uma distância superior a 15 metros.

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