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Crise Política

Forças Armadas são a favor das manifestações bolsonaristas, mas criticam agressividade

Representantes declararam a posição da corporação em uma nota emitida nesta sexta-feira (11)

Até então, os militares se mantiveram em silêncio diante do resultado do 2º turno das eleições, favorável á Lula (PT) - Imagem: reprodução/Facebook
Até então, os militares se mantiveram em silêncio diante do resultado do 2º turno das eleições, favorável á Lula (PT) - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 11/11/2022, às 13h52


Diversos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão inconformados com os resultados do 2º turno das eleições, que apresentou a vitória de Lula (PT) em 30 de outubro. Desde então, os grupos extremistas vêm exigindo uma intervenção militar e fazem protestos em frente aos quartéis do país, esperando o apoio das Forças Armadas.

Por outro lado, após muita pressão, importantes membros da corporação se manifestaram de um modo que surpreendeu muitas alas políticas.

Os comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes; da Marinha, almirante Almir Garnier Santos; e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior; divulgaram uma nota conjunta nesta sexta-feira (11), na qual reforçam que a Constituição permite protestos, mas que também prevê que "os deveres e os direitos" devem ser observados por todos os brasileiros e "que devem ser assegurados pelas Instituições".

No texto, os militares repudiam as ações dos manifestantes que restringem o direito de ir e vir. Eles também demonstraram preocupação com atitudes que possam colocar em risco a segurança dos cidadãos.

Muitos grupos apoiadores de Bolsonaro imploram aos militares por um golpe de estado para anular a decisão tomada pela maioria dos eleitores nas urnas, uma medida considerada inconstitucional. No entanto, certos militares afirmam que, neste momento, não é adequado fazer generalização, principalmente de que todos os atos são de teor golpista, informou o portal UOL.

"São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade".

Algumas fontes militares afirmaram que o texto apenas pretende reforçar o posicionamento institucional das Forças Armadas. No entanto, o documento acabou sendo visto como um reforço aos movimentos de rua, boa parte antidemocráticos, pois afirma que as instituições devem dar atenção às demandas do povo.

"A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que "Dele" emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação".

No texto, os comandantes declaram também que reiteram "a crença na importância da independência dos Poderes" e reforçam o papel do Legislativo no processo democrático.

Segundo eles, a "Casa do Povo" é o "destinatário natural dos anseios e pleitos da população" e "sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade".

Leia a íntegra da nota conjunta:

Às Instituições e ao Povo Brasileiro

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: "Não constitui crime [...] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais".

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que "Dele" emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOS
Comandante da Marinha

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMES
Comandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIOR
Comandante da Aeronáutica

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