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Investigação

Suspeito de matar são-paulino na final da Copa do Brasil é identificado

Segundo o laudo do IML, a vítima morreu por traumatismo craniano causado por um disparo de arma de fogo

Segundo o laudo do IML a vítima morreu por traumatismo craniano causado por um disparo de arma de fogo, com ferimento na parte de trás da cabeça - Imagem: Reprodução/TV GLOBO - Jornal Nacional
Segundo o laudo do IML a vítima morreu por traumatismo craniano causado por um disparo de arma de fogo, com ferimento na parte de trás da cabeça - Imagem: Reprodução/TV GLOBO - Jornal Nacional

Ana Rodrigues Publicado em 10/10/2023, às 09h34


Através de novas imagens, a Polícia Civilidentificou que, um policial militar teria disparado um tiro de "bean bag" que matou o são-paulino Rafael dos Santos Tercilio Garcia, durante o confronto entre torcedores do São Paulo e PMs, na final da copa do Brasil, no dia 24 de setembro, na região do estádio do Morumbi, na Zona Sul da capital.

Segundo o G1, no relatório da polícia, ainda não há imagem do momento em que Rafael foi atingido pelo disparo que o matou, mas na dinâmica da confusão pôde ser quase completamente refeita. O caso é investigado pelo DHPP.

Além disso, segundo o laudo do Instituto Médico Legal (IML) a vítima morreu por traumatismo craniano causado por um disparo de arma de fogo, com ferimento na parte de trás da cabeça, e foram retirados fragmentos de projétil de arma de fogo composto por balins em envoltório, onde foram encaminhados para análise balística.

Nos vídeos é possível ver um grande grupo de torcedores que estava no meio da rua, em meio a veículos parados dos dois lados da via. Em determinado momento, é possível ver os policiais aparecerem com escudos, viatura e ao menos duas armas longas, semelhantes a calibre 12, a arma apta ao disparo anti-motim ("bean bag"). Houve também a presença da cavalaria.

O documento ainda detalha que, é possível notar que, após a intervenção do policial militar suspeito dos disparo, Rafael aparece caído ao chão e sendo socorrido pelos colegas.

Foi observado que o agente militar promove a recarga do armamento utilizado, demonstrando o recente emprego dos projéteis que estariam na câmara de disparo."

Os registros mostram também que objetos como cadeiras foram arremessados contra os policiais. Um dos PMs armados com uma arma semelhante a calibre 12 chegou a chutar, derrubar uma das barracas e apontar a arma para uma pessoa próxima a ele. Ainda segundo a análise das imagens sobre as armas longas, possivelmente calibre 12, a Polícia Civil verificou que uma delas aparentava problemas de funcionamento.

Dessa maneira é possível observar que o policial em questão se abriga na parte de trás de um veículo branco, do lado oposto e distante de onde se deram os fatos. Simultaneamente, o policial que teria efetuado os disparos, dirige-se para o local do evento, tomando a dianteira da viatura que escoltava", descreveu o relatório.

O documento ainda citou que: 

Diante das constatações e análise das imagens, em especial a composição dos acontecimentos registrados por ângulos diversos, é possível concluir, com certa clareza, quanto a individualização do agente policial que efetuou o disparo que, em tese, vitimou Rafael Tercílio, pendente quanto a devida qualificação do agente miliciano."

As informações sobre o PM suspeito serão pedidas pela Polícia Civil à Militar.

A munição "bean bug" foi utilizada no dia da final da Copa do Brasil pela PM. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio decorrente de tumulto. A causa de morte de Rafael foi confirmada em 28 de setembro, à imprensa pela delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

De uma forma preliminar, né, porque foi feito um exame no corpo da vítima, foi uma munição chamada 'bean bag' [que atingiu Rafael]. Então foi isso que provavelmente causou a morte [dele] por traumatismo cranioencêfálico, e é o que nós temos ainda preliminarmente no laudo. Aguardando o laudo, agora definitivo, para saber o que exatamente causou a morte, mas preliminarmente nós já sabemos", disse Ivalda ao g1 e a TV Globo.

Além de ter encontrado um artefato de "bean bag" preso à cabeça de Rafael, a perícia achou mais três munições do mesmo tipo do lado de fora do estádio. O boné que ele utilizava ficou com um furo na parte de trás, provavelmente por causa do disparo.

"Beans bags" são pequenas esferas de chumbo envoltas por plástico que ficam dentro de sacos de tecido sintético. A Polícia Militar paulista usa esse mesmo tipo de munição desde 2021. À Rádio CBN, a delegada Ivalda informou que o disparo que matou Rafael foi dado por quem estava perto do torcedor.

Foi muito próximo dele [de Rafael]. Porque o impacto foi muito forte. Acertou diretamente nele e à distância curta. Normalmente esse tipo de munição é disparado a uma distância maior justamente para não causar nenhuma lesão."

Segundo o protocolo da PM, as "bean bags" devem ser disparadas a uma distância mínima de até 6 metros. Abaixo disso há risco para quem fora atingido. A vítima tinha 32 anos, deficiência auditiva, e foi encontrada desacordada após a confusão.

Em nota da Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi confirmado que a PM usou "bean bags" e outras munições no domingo contra os são-paulinos no entorno do Morumbi.

Na ocasião, os policiais militares realizaram ações de controle de multidão com uso de munições de menor potencial ofensivo como bean bags, elastômero e jatos de água", informou trecho do comunicado divulgado pela pasta da Segurança.

Apesar disso há casos de mortes registradas pelo mundo no uso de "bean bags". Em 2019 um manifestante morreu na Colômbia depois de ter sido atingido pela munição. E em setembro deste ano uma mulher foi morta após ser ferida pelo artefato. Desde 2021, quando a PM passou a usar esse tipo de munição, essa seria a primeira morte com uso dela no estado de São Paulo e possivelmente no Brasil.

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