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Justiça

"Se eu revidasse, estaria preso": saiba quem é o entregador agredido por ex-jogadora de võlei

Pai de três filhos, o homem conta que pedala 12 horas por dia

"Se eu revidasse, estaria preso": saiba quem é o entregador agredido por ex-jogadora de võlei - Imagem: reprodução
"Se eu revidasse, estaria preso": saiba quem é o entregador agredido por ex-jogadora de võlei - Imagem: reprodução

Nathalia Jesus Publicado em 12/04/2023, às 10h32


Max Ângelo dos Santos, de 36 anos, trabalha há um ano e meio em aplicativos de entrega e pedala diariamente pela zona sul do Rio de Janeiro. No último domingo (09), ele, um homem negro, foi agredido por uma moradora da região com uma coleira de cachorro e viu seu caso tomar repercussão nacional.

A acusada de cometer o crime é ex-atleta de vôlei e se apresenta como nutricionista nas redes sociais. Sandra Mathias Correia de Sá é aguardada na 15° DP (Gávea) e deve ser ouvida hoje pela polícia.

Imagens da agressão que circulam as redes sociais mostram Sandra puxando a camisa e dando socos no entregador. Em determinado momento da agressão, ela tira a guia do cachorro que estava com ela e dá chicotadas nas costas da vítima.

"Eu fui muito humilhado. Quis me afastar e não quis revidar, mas se eu boto a mão nela, hoje eu estaria em [um presídio de] Bangu, porque ela iria alegar que eu a agredi. Não quero que aconteça com outra pessoa, quero justiça", disse o entregador ao UOL.

A nutricionista também proferiu xingamentos contra o entregador e uma colega de trabalho dele. No vídeo é possível ver ela falando para que eles "voltem para favela" e chamando a vítima de "lixo". As agressões teriam começado porque Sandra se incomodou de ver os entregadores na calçada.

"O trabalho é muito cansativo. Para vir alguém e me xingar? Não é certo. Eu saio de manhã todos os dias, em sol e chuva, e minha única fonte de renda é o aplicativo."

A rotina de Max

As entregas por aplicativo se tornaram a principal fonte de renda de Max Ângelo depois que ele ficou desempregado. Antes, ele trabalhava como porteiro e trabalhava com aplicativo apenas nas horas vagas.

Para pagar as contas e conseguir sustentar os três filhos, ele contou que costuma pedalar no mínimo 12 horas por dia, mas o número pode chegar a 16 ou 18 horas.

"Para mim é muito cansativo. Às vezes pego uma entrega muito longe, levo de 15 a 20 minutos para chegar e o mesmo tempo para voltar. Quando o movimento está fraco, vou pro Leblon, Ipanema, Copacabana ou Botafogo. De bicicleta é cansativo."

Sem moto, Max faz todo o trajeto entre São Conrado e adjacências de bicicleta. 

Busca por justiça

Max é casado e pai de três filhos, de 13, 12 e 8 anos. As crianças chegaram a ver o vídeo, mas ele relatou que ainda não teve tempo de ter uma conversa longa com os filhos por conta da rotina de exames no IML, depoimentos para a Polícia Civil e entrevistas.

O entregador também contou que decidiu publicar as imagens da agressão depois de passar uma noite inteira sem dormir. "Sabemos que o racismo não vai acabar, existem muitos racistas, mas se as pessoas denunciarem o que acontece, pelo menos pode diminuir".

Ele relatou também que não tem interesse em nenhum acordo judicial, mas que Sandra pague integralmente pelos crimes sob investigação.

Mesmo após a repercussão do caso, Max segue no mesmo ponto de trabalho, que é próximo a casa da agressora. No entanto, ele contou que não teme represálias. "Não pensei nisso [que ela pudesse se vingar], vou só ficar um pouco mais atento do que geralmente fico."

Max também informou que recebeu apoio psicológico dos aplicativos que está cadastrado e o que mais precisar.

"Todos nós podemos ser melhores, todos cometemos erros e temos nossas falhas. Mas acho que todos podem ser um pouco melhores. Não é porque tem dinheiro que pode humilhar outra pessoa que é de classe mais baixa, ou tem o tom de pele diferente do dela. Isso está completamente errado."

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