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Vale a pena pagar tão caro?

Vale a pena pagar tão caro? - Imagem: Reprodução | Roberto Weigand
Vale a pena pagar tão caro? - Imagem: Reprodução | Roberto Weigand
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 20/12/2023, às 07h28


O Brasil é um país com enorme potencial de crescimento. Tem uma população relativamente jovem, abundância de recursos naturais, é uma potência agrícola e apresenta uma série de fatores positivos que a maior parte das nações do mundo invejam: vasto território arável, clima favorável, abundância de água, e isolamento geográfico que lhe permite não ter de imiscuir-se em problemas geopolíticos. O País está numa região pacífica do mundo, com uma vizinhança que, infelizmente, por má gestão, tem ficado sujeita às dificuldades geradas pelo crescimento do poder paralelo, representado pelo narcotráfico e crime organizado. A América do Sul, no entanto, representa uma larga porção do território global, abundante em recursos e com menor densidade populacional que outros continentes. A despeito destas possibilidades, o continente, à exceção do Chile, tem ficado muito aquém de suas possibilidades. E a questão recente na Venezuela quanto à invasão da Guiana, por sorte, nada mais é do que uma tentativa de Nicolas Maduro para fortalecer-se no poder para o período eleitoral que se aproxima.

O Brasil que por tamanho e recursos deveria ter um papel importante na liderança regional, particularmente como locomotiva econômica, por sua gestão administrativa de baixa competência e falta de visão ao longo de décadas, tampouco logra avançar o desenvolvimento regional. Para piorar, criou uma série de impeditivos para seu avanço econômico e social. Há décadas em que os investimentos em infraestrutura estão aquém das necessidades. Um país que pretende ser uma potência alimentar corre o risco de, em breve, destruir a sua competitividade por causa da ausência de armazenamento suficiente ou uma infraestrutura decente para escoar a sua produção.

O País, historicamente, aposta na moeda desvalorizada como forma de manter sua competitividade internacional. Com isto, torna o produto importado praticamente inviável de ser adquirido. Se houvesse uma política industrial para promoção do crescimento da indústria nacional que repusesse os produtos com igual qualidade e competitividade internacionalmente até faria sentido. Mas, como toda política econômica capenga, o consumidor brasileiro é praticamente extorquido e obrigado a ficar sem ou a utilizar um similar de qualidade duvidável. Todo e qualquer produto importado tende a ser caríssimo, em razão do câmbio desvalorizado e de uma tributação escorchante que beneficia a poucos setores da economia. 

Convencionou-se, ainda, no País algumas barbaridades: a população não deve ter carros. O preço elevadíssimo dos veículos se baseia na premissa de que o transporte individual deve ser evitado. No entanto, como mais uma política capenga, o transporte público brasileiro é extremamente deficitário, insuficiente e desconfortável, além de não atingir a plenitude do território. Os veículos são caríssimos e o País não melhora a infraestrutura e cria custos elevadíssimos de combustível, porque as cidades têm péssimo planejamento. Ao invés de se criarem viadutos e estradas – que gerariam novos empregos, crescimento e melhorias tecnológicas e de fluxo – a discussão é sobre a redução das vias públicas. Na Ásia, onde viadutos se sobrepõem como forma de acelerar a movimentação da população, o crescimento econômico se faz com políticas de melhor infraestrutura e desenvolvimento industrial.

Os chineses afirmam: construa uma estrada e fique rico. A ideia por trás deste conceito é que a infraestrutura é, sempre, o elemento condutor do processo de enriquecimento de uma sociedade. Um país que tem excelente infraestrutura consegue melhores resultados na competitividade internacional, além de ser capaz de elevar substancialmente os níveis de produtividade. O estado é fundamental neste processo.

A questão da educação também precisa ser revista. Ao invés de melhorarmos as escolas públicas, vemos propostas no sentido de reduzir, ainda mais, a sua capacidade de gestão e de recursos. É função dos pais assegurar a melhor qualidade possível na escola que os filhos frequentam. Ressalte-se que, atualmente, muitas escolas se transformaram num depósito de crianças e jovens malcriados, cuja falha na educação por parte dos progenitores poderá jamais ser sanada por qualquer professor, por melhor que seja a sua intenção ou maior a sua competência. Aliás, toda e qualquer reforma no ensino no Brasil que não tratar especificamente do aumento do salário dos profissionais docentes estará fadada ao fracasso. Aos professores se entregam os cérebros de crianças e jovens para formatar a construção de uma sociedade melhor. Como é possível querer que estes bastiões tão importantes da sociedade sejam subvalorizados ou mal remunerados? Este é, sem dúvida, o maior de todos os erros da sociedade contemporânea. Ressalte-se: mesmo que o ensino privado seja de ponta, o País somente evolui quando as escolas públicas – nos três níveis – têm elevada capacidade de gerar e gerir talentos, remuneração e perspectivas de carreira para os docentes.

Criamos, ademais, um sistema implacável quanto aos idosos. Cidades totalmente inseguras nos levaram a construir prédios com um plantel enorme de empregados. O custo elevadíssimo dos condomínios – e todas as despesas elevadas cobradas mensalmente –, associados aos elevados custos da saúde na terceira idade, levam muitos idosos ao suicídio, principalmente quando perdem a única propriedade que possuem por falta de pagamento das taxas condominiais. A cultura do medo, instituída por alguns problemas vespertinos de televisão e a total ausência do estado em prestar a sua função mais básica que é a da segurança pública, aumentam a depressão natural inerente ao ocaso da existência, além de aumentar o sentimento de pânico pelo medo imposto pela criminalidade.

É hora de parar de repensar o País e questionarmos: vale a pena pagar tão caro para ser brasileiro?

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