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COLUNA

O Capital Intelectual de uma Nação

O Capital Intelectual de uma Nação - Imagem: Freepik
O Capital Intelectual de uma Nação - Imagem: Freepik
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 31/05/2023, às 07h16


A maior riqueza de uma nação é o seu povo: não são os recursos minerais, não é o solo, nem a abundância de água ou outros minérios. Estas coisas são muito importantes – ressalto – porém, um povo incapacitado desperdiçará essas riquezas de uma maneira muito fácil e rápida. Além disso, as pessoas podem ser facilmente enganadas por narrativas e por um sentimento de inferioridade injustificado na presença do colonizador.

Compreender que o maior ativo de uma nação é o seu capital intelectual constitui o início de uma importante mudança de paradigma para a construção de uma nova nacionalidade e realidade. Povos que não estimulam o desenvolvimento de seu capital intelectual estão fadados a se tornarem nações de segunda classe, sem relevância global, com uma população que empobrece à medida que o tempo passa. A história recente chinesa, por exemplo, ensina que a utilização efetiva da mão-de-obra de um país, agregando-lhe valor paulatinamente com a melhoria substancial do sistema educacional, pode permitir a modificação de um destino histórico num período curto de tempo.

Duas lições podem ser aprendidas do processo de Reforma e Abertura iniciado por Deng Xiaoping: a melhor utilização possível dos recursos humanos de uma nação e um compromisso visceral com a qualidade da educação. O resultado é que deste compromisso com o mérito e a competitividade na educação a China logrou retirar da miséria mais de 800 milhões de pessoas, além de ter duas de suas principais universidades entre as 20 melhores do mundo, com a possibilidade de chegar a 4 ou 5 mais na próxima década, contribuindo, efetivamente, para o progresso do desenvolvimento global. Além disso, impressiona a quantidade de estudantes chineses nas principais e mais renomadas instituições de ensino internacionalmente reconhecidas. O capital intelectual de uma nação é essencial para o seu desenvolvimento econômico e compreende conhecimento coletivo, inovação e criatividade que indivíduos e a sociedade possuem.

A contribuição ao desenvolvimento econômico de um país resulta da inovação e pesquisa. Estas são duas molas propulsoras essenciais à construção de uma nova realidade. Quanto mais um país investe em pesquisa e desenvolvimento, maior é a sua capacidade de desenvolver setores disruptivos de impacto global, por meio de novas tecnologias, produtose processos, o que aumenta a produtividade, competividade e lucratividade.

Quanto mais desenvolvido o conhecimento dos indivíduos de uma sociedade, resultante de um esforço incansável para qualificação efetiva da mão-de-obra, uma nação poderá contribuir para o aprimoramento global. Quanto mais qualificada a mão-de-obra, maiores serão as possibilidades de atração de investimento estrangeiro direto de melhor qualidade voltado à produção de bens que exigem capacidade intelectual de produção diferenciada – e, portanto, melhor remunerada. O investimento educacional, portanto, é fundamental para nutrir o capital humano sempre ativo e atualizado, por meio de mecanismos de treinamento vocacional e constante aprendizagem.

Por fim, uma das grandes vantagens do capital intelectual é o incremento substancial da qualidade das indústrias baseadas no conhecimento, que oferecem oportunidades de criação de empregos e o aumento de produtos de alto valor agregado. Os países que se destacam no desenvolvimento do capital intelectual atraem mais investimentos, promovem exportações de bens e serviços de alto valor agregado, expandindo o mercado interno por meio da atração de talentos, exportação de produtos e serviços, com um aumento da competitividade que permite atrair maiores recursos.

Desenvolver, no entanto, o capital intelectual é uma tarefa árdua em que o objetivo fundamental de se construir uma nação com elevada capacidade pode ser facilmente perdido por assuntos comezinhos da política doméstica. Os países que pretendem alcançar um desenvolvimento intelectual superior devem priorizar ecossistemas que estimulem o a intelectualidade, o mérito e a competição.

O Brasil, que é um país em desenvolvimento com um relativo bônus demográfico, deveria fazer um esforço hercúleo para melhor aproveitar os recursos humanos – 214 milhões de brasileiros, aproximadamente – que podem – e deveriam – construir uma nação próspera a partir do desenvolvimento intelectual e da implementação de metas audaciosas na educação.

Três possíveis objetivos deveriam fazer parte das prioridades de todo e qualquer governo brasileiro nas próximas décadas: (i) ter, nos próximos vinte anos, pelos menos duas universidades brasileiras entre as vinte principais do mundo; (ii) reinserir competição e mérito no sistema educacional, como reconhecimento da sociedade quanto àqueles que se esforçam mais; e (iii) eliminação de todas as barreiras – tarifárias e não-tarifárias – dos produtos e serviços que afetam diretamente a produtividade e competitividade de qualquer setor da economia, particularmente na área educacional.

Confúcio sabiamente afirmava: “Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros.” Como nação, é chegada a hora de, enfim, compreendermos que a regra do jogo no século XXI é competividade e excelência. O sistema educacional brasileiro, como desenhando atualmente, jamais alcançará este propósito e objetivo. Se não corrigirmos estas falhas, os erros virão! E ficaremos para trás. Vamos discutir menos ideologia e mais pragmatismo para construirum país que esteja à altura para enfrentar o Tsunami de competividade global que se avizinha!

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